A PESQUISA-AÇÃO
NO PROCESSO PEDAGÓGICO
Maria Ângela O.
S. Rubini
A pesquisa-ação foi
criada por Kurt Lewin na década de 40, inicialmente num contexto de pós-guerra,
as primeiras pesquisas foram desenvolvidas para o governo norte-americano, com
o objetivo de provocar mudanças em dois aspectos: nos hábitos alimentares dos
cidadãos e na mudança de atitudes com relação à intolerância aos grupos étnicos
minoritários.
A partir da década de
50, a ciência surge como uma prática social de conhecimento, e a pesquisa-ação
pelo caráter investigativo que se desenvolve com a participação e convivência, distancia-se
da concepção de ciência tradicional, concebida por métodos rigorosos e
aparentemente neutros.
No Brasil, após a
segunda guerra mundial, os movimentos sociais se valeram da pesquisa-ação como
uma estratégia de emancipação política. A educação popular, concebida por Paulo
Freire, inspirou pesquisadores no trabalho de uma pedagogia cujo ponto crucial,
era a militância política na luta por uma sociedade menos desigual. Tal
concepção tinha como proposta, um trabalho pautado no diálogo e na valorização
da cultura popular, que possibilitasse uma educação emancipatória dos
marginalizados e excluídos.
Na década de 60, durante
a Campanha Nacional de Alfabetização, grupos excluídos das periferias, do
campo, regiões ribeirinhas, e outros, foram alfabetizados, por voluntários que
através das diferentes formas de arte, problematizaram o exercício de cidadania,
tendo como objetivo atingir a alfabetização dos cidadãos, através do
fortalecimento do diálogo capacitando-os para a participação social e política,
encaminhando-os à emancipação.
As
múltiplas formas de concretização da educação popular concebidas no quadro
teórico daquilo que se chamou de educação libertadora, têm em comum o
desenvolvimento de ações investigativas coletivas que visam a aquisição de
conhecimentos concebidos como emancipatórios. (Costa,
1998, p.4)
Podemos entender que
tal metodologia envolve pesquisador e pesquisados, numa relação de comunicação
dialógica que permeia todo o processo, desde as primeiras ações até os
resultados obtidos, gerando uma cumplicidade coletiva, na medida em que se
aprofunda na interpretação e compreensão do conhecimento. Ao professor é
necessário a consciência de que a comunicação na contemporaneidade é dinâmica,
os conceitos e paradigmas estão em constante mudança, o papel do professor
detentor e transmissor do saber históricamente acumulado pela humanidade e o
aluno como receptor passivo, dá lugar a uma relação em que ambos são pesquisadores
e construtores desse novo conhecimento. Segundo Silva (pg 36, 2012):
Referimo-nos, sim, à possibilidade de facultar
aos professores e crianças/alunos a condição de investigadores do processo de
ensino e aprendizagem.
Nesse
entendimento, o professor é investigador de sua própria ação (e aprendizado), e
as crianças/alunos, investigadores de seus próprios aprendizados, na condição
de serem elas próprios responsáveis por significar e dar sentido às suas
experiências.
Na pesquisa-ação,
espera-se a disponibilidade e cooperação de todos os protagonistas, no entanto,
é preciso que o pesquisador perceba que estará entrando num grupo em que de
alguma maneira, já possui uma dinâmica própria, e ele é um sujeito de fora
desse contexto. Segundo Franco (2005), “há que se ter um “aquecimento coletivo”
que anteceda o trabalho de pesquisa propriamente dito”. Essa ação consiste em
articular a entrada do pesquisador no grupo, num clima caloroso, de
camaradagem, de confiança, para que se instale entre todos, a cooperação
profissional.
Usando a estratégia
comunicativa que emerge do diálogo entre a equipe, os acordos vão sendo mediados
pela postura colaborativa e mansa de um profissional cauteloso de seu papel,
que sabe passar de pesquisador a participante colocando-se como colaborador do
grupo, ao mesmo tempo em que disponibiliza á escola, os saberes da
universidade.
A pesquisa-ação provoca
transformações na reconstrução de novos saberes e os sujeitos vão se
apropriando desses conhecimentos ressignificando seus valores, suas práticas,
se constituindo como investigadores, encontrando respostas para os novos
desafios.
REFERÊNCIAS:
FRANCO,
M. A. S. Pedagogia da Pesquisa-Ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3,
p. 483-502, set/dez, 2005.
GOMES
DA SILVA, E. Movimento e educação-infantil: uma pesquisa-ação na perspectiva
semiótica. 2012. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação
Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2012.
SILVA,
L. H. (Org) A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis, Vozes,
1998.
COSTA,
M. V. A Pesquisa-Ação na Sala de Aula e o Processo da Significação. V Seminário
Internacional da SMED/POA – 1998, 239 p.