O sujeito para apropriar-se do mundo precisa
aprender. A questão do aprender é muito mais ampla que a do saber. No entanto,
vamos refletir sobre a questão do saber e sua relação epistêmica tentando
estabelecer relações com os saberes necessários à pratica educativa de Paulo
Freire (1996).
Para Charlot (2000, p. 68) há três formas de
relação epistêmica com o saber. Aprender é passar da não pose a posse, da
identificação de um saber virtual à sua apropriação real. Aprender pode ser
também dominar uma atividade, ou capacitar-se a utilizar um objeto de forma
pertinente. Passar do não domínio ao domínio de uma atividade.
Aprender significa ainda, entrar em um
dispositivo relacional, apropriar-se de uma forma intersubjetiva, garantir um
controle de seu desenvolvimento pessoal, construir-se de maneira reflexiva uma
imagem de si mesmo.
Dessa forma, Charlot (2000, p. 68) esclarece
que uma relação epistêmica “é a relação com um saber-objeto” e explica que na
relação objetivação-denominação há “um
saber-objeto e um sujeito consciente de ter-se apropriado de tal saber”.
Na relação epistêmica de imbricação do eu para Charlot (2000, p. 69) há uma relação entre o
sujeito e o mundo, em que “o aprender é o domínio de uma atividade”.
Quando o sujeito regula a relação com o saber,
temos o processo denominado por Charlot (2000, p. 70) de distanciação-regulação, em explica que o sujeito “[...] como
sistema de condutas relacionais, como conjunto de processos psíquicos
implementados nas relações com os outros e consigo mesmo”.
As explicações de Charlot (2000, p. 71) conduzem
as reflexões a cerca da prática educativa e as relações com o saber que os
professores estão envolvidos no seu cotidiano escolar, na sua relação com o
mundo e com seus alunos, uma vez que explicita que a relação com o saber é
construída.
Desse modo, não há como deixar de mencionar a
importância da formação de professores, pois é na formação inicial que estes
deveriam construir seus saberes a cerca da profissão a ser desempenhada.
A formação dos professores teria que
contribuir para o estabelecimento de relações epistêmicas com o saber, tanto do
ponto de vista dos saberes dos próprios professores, quanto de seus alunos.
Como também contribuir para que considerassem os três tipos de saberes
necessários a prática educativa apontados por Freire (1996).
Freire (1996, p. 25) aponta como um saber
necessário que “Não há docência sem
discência”, em que “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender. Quem ensina ensina alguma coisa a alguém”. Está presente uma relação
de abertura entre quem ensina e quem aprende, pois ambos aprendem nesse
processo.
Com relação ao “Ensinar não é transmitir conhecimentos”, Freire (1996, p. 52)
explica que é preciso muito mais, uma vez que é essencial “[...] criar as
possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Nesse ponto há
uma visível concordância entre Freire e Charlot quanto a necessidade de
construção dos conhecimentos pelos professores e pelos alunos.
Quanto ao “Ensinar
é uma especificidade humana” Freire (1996, p.102) relaciona com a autoridade docente democrática
e afirma que “[...] deve revelar em suas relações com as liberdades dos alunos
é a segurança em si mesma”. Verificamos que há uma articulação entre autoridade
e sabedoria.
Diante de tantas reflexões propomos que a
formação dos professores considere os três tipos de saberes necessários a
prática educativa: Não há docência sem discência, ensinar não é transferir
conhecimentos e ensinar é uma especificidade humana. Além disso, precisamos
considerar as três formas de relação epistêmica com o saber: objetivação-denominação,
imbricação do eu, distanciação-regulação propostas por Charlot (2000) para o
estabelecimento de uma relação epistêmica com o saber e a construção dos
saberes pelos professores e alunos na prática educativa.
Referência Bibliográfica:
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos
para uma teoria. Porto Alegre: Artmed,
2000.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
Rosangela
Aparecida Galdi da Silva
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