Os textos propostos para a primeira
aula, tenho que confessar, me surpreenderam, uma vez que nunca havia tido a
oportunidade de estudar Peirce. Apesar da leitura não ter sido fácil, suas
informações e a discussão realizada na aula, me conduziram à reflexão da minha
experiência profissional e o conteúdo abordado.
Ao pensar em minha formação
(Fonoaudiologia), pude observar que envolve uma semiótica que está mais
relacionada com as ideias de Peirce em virtude de ser uma área que lida com a
Comunicação Humana (seja verbal ou não verbal), é o estudo de todo processo de
aquisição, desenvolvimento e abrangência da linguagem (nela estão inseridos a
língua e o código), as habilidades fonológica, semântica, sintática e
pragmática, bem como da semiótica estruturalista por ter como objeto de estudo
a fonética no que se refere a articulação dos fonemas (Saussure).
Há quase dez anos atuando na
educação junto a equipe de apoio especializado à inclusão, cotidianamente as
angústias reais da escola são compartilhadas conosco. Assim, posso dizer que
existem muitos “entraves” que interferem no processo de ensino-aprendizagem, o
que não vou ater a descrevê-los porque fugirei do contexto a ser discutido.
Deste modo, com a leitura do texto
“Fixação de Crenças” de Peirce (1972) me
reportei a algumas falas do grupo de educadores (professores, gestor,
coordenador e/ou orientador pedagógico) e pude notar que alguns apresentam
dificuldades de saírem da posição de crença para a dúvida. Talvez isso seja um
dos principais fatores que dificultam desviar o foco destes profissionais para
outras variáveis que atuam diretamente no processo de aprendizagem do aluno.
Outro ponto importante, é que existem muitos profissionais que realizam a
formação de professores e compartilham da mesma crença fortalecendo-a ainda
mais.
Neste
cenário, uma das crenças principais é inferir que o motivo do “não aprender”
decorre de algum problema que a criança tem, focando o fracasso como sendo
exclusivamente um comprometimento biológico e que a morosidade em se obter um
diagnóstico aumenta ainda mais a defasagem.
Discorrer a respeito da
aprendizagem, propiciaria páginas e páginas, já que se trata de um processo
complexo. Vou direcionar o foco a definição de aprendizagem proposta pela
perspectiva semiótica de Peirce, na qual pude observar que existe uma
semelhança com a da neurociência ao considerar a aprendizagem como um processo
de aquisição de conceitos e de modificação de condutas. Desta forma, posso
também referir que todo esse processo é o resultado do que somos, fazemos,
pensamos e desejamos por meio do funcionamento do sistema nervoso e de sua
interação com o corpo, isto é, com a história de vida de cada indivíduo[1]
considerando os aspectos biológico, ambiental, emocional, socioeconômico e
cultural.
No
intuito de fazer valer essa relação entre semiologia e neurociências encontrei
uma entrevista[2] de Damásio
(2012), em que refere que a neurociências está empenhada em resolver questões
nas quais os filósofos há séculos se dedicam. Além de que, alguns filósofos
podem ser apontados como precursores da atual neurociências, já que muitas de
suas teorias estão sendo testadas com o avanço dos estudos desta área.
Um
dos aspectos relevantes citados por este neurocientista e que considero
relevante deixar registrado é que, por ser uma área que está ganhando espaço de
discussão, muitos estão tendo uma visão simplista do funcionamento cerebral e
pontua que tal reducionismo traz riscos, principalmente quando envolve a medicalização,
referindo que esta não é a única solução e acrescento aqui, o meu ponto de
vista sobre os falsos diagnósticos, considerando o grande percentual de
crianças disléxicas, TDAH entre outros.
O
autor salienta, ainda, que existem muitas variáveis que se relacionam
com o desenvolvimento cerebral como afetividade, relacionamento interpessoal, política,
economia entre outros e ao considerar essa premissa, posso dizer que os mesmos
estão envolvidos na aprendizagem.
Deste
modo, ao reportar para o contexto de aprendizagem em sala de aula, podemos
dizer que o processo da semiose ocorre continuamente e construir um signo
dependerá das experiências pessoais do aluno como também de um mediador
(professor) que auxilie na relação interpretante. O que condiz com o ponto de
vista de Freire (2001), em que aponta a importância de se considerar os
saberes, as experiências dos alunos associando sua realidade concreta ao ensino
da disciplina, já que acredita que o entendimento é adquirido por meio da
co-participação envolvendo um processo
dialógico e, portanto, que torna
possível que o processo de semiose ocorra constantemente permitindo uma
mudança de conduta.
Diante de toda complexidade que a
aprendizagem envolve, finalizo pontuando a metáfora de que “uma andorinha só
não faz verão”. Portanto, subentendo que torna-se fundamental uma equipe
interdisciplinar (fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais,
educadores físicos entre outros) na educação atuando na formação de professores,
gestor e orientador/coordenador
pedagógico, bem como na busca conjunta de alternativas para auxiliar a criança
no processo de ensino-aprendizagem (CIASCA, 2010).
<!--[if !supportFootnotes]-->
[1] Artigo disponível no site http://www.cerebronosso.bio.br/guia-bsico-de-neurociencia.
[1] Artigo disponível no site http://www.cerebronosso.bio.br/guia-bsico-de-neurociencia.
[2] Entrevista “A neurociência
lida com questões da filosofia”
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/12/10/antonio-damasio-neurociencia-lida-com-questoes-da-filosofia-420732.asp
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/12/10/antonio-damasio-neurociencia-lida-com-questoes-da-filosofia-420732.asp
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.