Renato Izidoro da Silva e Miguel Angel
Garcia Bordas no trabalho intitulado - Escrita
e codificação política na construção da realidade indígena contemporânea: interculturalidade
e intertextualidade escreve um ensaio que constitui um recorte temático de sua
tese de doutorado cujo objeto foi a investigação das proposições textuais
legislativas e conceituais para educação escolar indígena – interculturalidade,
bilinguismo, diferenciação e especificidade – quanto suas possibilidades e
impossibilidades objetivas de realização. Achei interessante a leitura. Sobre a
Semiótica assim escrevem os autores:
Uma importante discussão da dinâmica
semiótica ou doutrina geral dos signos é seu poder de gerar ambientes,
paisagens, objetos e pensamentos que designem ordenamentos, comandos que embora
sejam motivados pela interação com algum ou um grupo de objetos podem dessa
relação paulatinamente se libertar no sentido de diversos graus de afastamento
e liberdade associativa ou lógica dos signos entre si quando presentes na
mente. O representante do referente produzido na interação com um sujeito
influencia uma transformação no modo como o mesmo sujeito se relaciona com o
mesmo objeto quando após um afastamento ele retorna observá-lo, configurando o
objeto primeiro como sendo outro referente ou como um objeto ampliado pelo
signo. É ainda preciso demarcar o instante em que o signo passa a ser, ele
próprio, um objeto passível de abandonar sua função de representante para
assumir a posição de referente a ser representado por outro signo.
Conforme Peirce (2005, p.46): “Um signo,
ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para
alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa, um signo
equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido”. O signo extrapola seu referente
anterior, apesar dele poder ser entendido como uma emanação de seu objeto,
quando operado por uma mente ou um sujeito, de modo que o signo criado –
desenvolvido – na mente passa a interpretar não apenas o referente, mas o signo
representante mais imediatamente produzido. Segundo Melo (1988, p.61), um dos
aspectos das teorizações de Baudrillard sobre o código e seus processos
semiótico é “[...] precessão [retorno] do efeito sobre a causa, […] enquanto
técnica de controle do objeto”. Trata-se de uma relação de inversão entre o
real e a representação de modo que o primeiro passa a obedecer a cibernética
dos códigos. Essa liberdade do signo em relação ao seu objeto referente devido
a certa disponibilidade natural da mente em se apartar do objeto observado por
meio de processos cognitivos e imaginativos, mas também orientado
intencionalmente pela ideologia e seus desenvolvimentos técnicos e tecnológicos
é um dos fatores que não permite ao signo proporcionar familiaridade ou
reconhecimento total do objeto que representa, apesar de influenciá-lo e criar
realidades ou simulacros independentes. O signo não é menos nem mais real ou
irreal que seu objeto, mas é ele próprio uma existência lançada à experiência
material do sujeito humano. A experiência humana do signo constitui um campo de
experimentações peculiar de codificação e decodificação em suas próprias
condições de existência.
Observamos uma distinção não-dicotômica
entre dois planos da vivência humana que desde os primeiros contatos coloniais
designam a realidade indígena e a não-indígena relativa ao conhecimento
construído uma em relação à outra: a vivência in loco e a vivência mediada por
textos. Ambas as vivências envolvem ainda um terceiro elemento, o sujeito ou a
mente. De modo colateral, seguir por essa trilha pode significar enfrentar o
desafio de contrapor os conceitos de real e de representação, embora não seja
nossa intenção. Consideramos os dois planos de vivência como duas superfícies
de convivência e interação do sujeito em relação à codificação dos objetos em
relação aos signos.
O indígena em relação ao não-indígena, e
esse em relação àquele, instituem suas relações como mediadas por signos
diversos, acerca dos quais ora notamos a hegemonia de um, ora a dominância de
outro referente ao exercício da codificação da realidade no campo da alteridade
humana, na medida em que a escrita favorece que a experiência do código chegue
antes da experiência in loco com o objeto ou outros sujeitos. A escrita
prenuncia um acontecimento, tem um caráter de aviso; sendo seu exemplo mais
emblemático a carta que, além de comunicar um referente, também comunica a si mesma
no mesmo instante que gera uma experiência imprevista devido ao contexto
receptivo encontrado em sua chegada, lembrando a participação do destinatário
na construção da mensagem.
O
artigo completo está em: www.politicasculturaisemrevista.ufba.br
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