Semiótica
Peirciana na Educação e Educação Especial
Buscando compreender a
Semiótica na área da Educação, busquei primeiramente entender algumas das
categorias básicas de Peirce de forma geral, que são: primeiridade, secundidade
e terceiridade. Acredito que essas categorias foram alguns dos maiores dilemas
que vivenciamos na aula, pois sempre estamos buscado compreender algo na
prática, onde podemos enxergar aplicações e exemplificações daquilo que estamos
aprendendo.
Assim, levei tempo em perceber que se trata da
formação do signo que representa algo para uma mente e, a partir disso, busquei
em algumas outras leituras identificar de forma mais “aplicada” a compreensão
dessas questões para a área da Educação e também da Educação Especial, área da
qual estou intimamente ligada por questão de pesquisa e de afeto.
Dessa forma,
apresentarei algumas compreensões que me fizeram entender de forma mais clara a
semiótica de Peirce.
No artigo “A perspectiva semiótica da Educação”
da autora Ana Cristina Teodoro da Silva, compreendi de forma mais clara que a
semiótica rompe com as dualidades. A autora explica que as relações naturais e
o processo de conhecimento ocorrem por meio de relações triádicas. Confesso que
nunca tinha pensado nesse termo e nas relações dessa forma, e por isso não
compreendia as relações de primeiridade, secundidade e terceiridade.
Na explicação da autora
pude perceber de forma mais “real” essas relações, pois na compreensão dela
temos:
Primeiridade
como sendo a “sensação, a pura cor
vermelha, uma euforia que aparece. É a categoria da liberdade, da
espontaneidade, não chega a ser consciente, quando pensamos nela já estamos na
secundidade.”
Secundidade
sendo a “categoria do confronto
(muito bem exemplificado pela professora Eliane na última aula), do choque com o outro, do presente sem
reflexão, da surpresa. Um esbarrão na esquina, o detectar de uma presença. No
instante em que percebemos que a presença é de um gato, já estamos na
terceiridade.”
Terceiridade
sendo a “categoria do entendimento, da reflexão,
da relação, do signo completo.”
Assim, escolho um
exemplo da autora, em que retrata de forma simplificada as passagens dessas
categorias:
“Quero ouvir música. O ato que me leva ao
aparelho, à escolha do disco, o som que entra em minha vida, é do nível da
secundidade, algo que irromperá alterando um estado. Antes dele, porém, mesmo
sem saber, eu tinha um sentimento, uma liberdade de ação, a música que escolhi
dependeu desse sentimento e dessa liberdade. O som irrompe, são notas e
palavras que dão forma a meu sentimento, o entendimento acalma, nomeia, quem
sabe seria uma canção de amor e posso sonhar, elaborar uma saudade, talvez, e
gerar outros signos, outras sensações, outras ações.”
Dessa forma, entendendo
melhor as categorias e a tríade de relações, fui buscar compreender melhor a
questão do signo. Signo é o
responsável por fazer a mediação entre uma mente e um objeto.
Depois de compreender de forma mais clara, fui
tentar relacionar tudo isso para a educação, e percebo que muitos dos dilemas
relacionados a educação estão intimamente ligados com a lógica de Peirce. Por
exemplo, quando debatemos sobre a aprendizagem na escola. O fato é que estamos
sempre aprendendo alguma coisa, mesmo não sendo o esperado, e a diferença que o
conhecimento proposto pela escola é aquele que procura conduzir o caminho do
aprendizado. Isso, se remete a questão do afeto e a autora coloca de forma
simples essa questão: “o afeto inicia
qualquer relação de aprendizado – o que não me afeta, não atinge minha mente,
não formará signo.” É fundamental que haja algum afeto.
Mas, o que isso tem a ver com a semiótica? Para a
semiótica, onde ocorrer comunicação há aprendizado, há aprendizado onde houver
ação do signo, e com esse entendimento, talvez podemos ampliar a noção de
processo educativo. Trago como exemplo uma importante passagem do artigo em que
a autora esclarece a importância da comunicação e do afeto na questão da
aprendizagem:
“Na sala de aula convencional, toda vez que
ocorrer comunicação, ocorre aprendizado, sempre de acordo com o capital
disponível de cada um e também de acordo com o afeto dado e recebido no
processo. Com isso, nota-se que há tantos ritmos de aprendizado quantos forem
os posicionados como alunos – professor inclusive. Por que insistir na
importância do afeto? Porque o afeto conecta-se à primeiridade, categoria
fundamental de todo processo semiótico. Sem esse sentimento de algo que nos
toca não se efetua o processo sígnico completo. O que ocorre, se não nos afeta
de alguma forma, não produzirá signos.”
Nesse sentido, é que passo a enxergar a semiótica
como uma facilitadora na área da Educação Especial, pois se trata de
compreender as diferenças em meio a potencialidades e habilidades individuais.
Por isso, achei importante refletir anteriormente
sobre a comunicação e ação do signo, pois se “há comunicação, há aprendizado, há ação do signo, há aprendizado, há
diálogo”. O grande desafio da Educação Especial é justamente a questão
temporal da aprendizagem, a questão convencional em que ela está imposta a ser
desenvolvida o que acarreta em obstáculos e preconceitos sobre o entendimento
do aprendizado, ou seja, é muito comum que julguemos que uma pessoa com
Deficiência Intelectual, por exemplo, não aprenda.
Assim, destaco outra passagem do artigo em que
considero fundamental para a atual educação em que estamos inseridos:
“No caso da educação especial, a semiótica tem a
oferecer o entendimento de que não há uma única temporalidade correta para o
aprendizado, assim como não há conteúdo determinado ou caminho privilegiado. A
criança especial é uma mente que interage com objetos (outras mentes,
brinquedos, suas próprias fantasias...). Participar de suas formulações sígnicas
é desafio do educador, entendendo que cada criança está em semiose.
Talvez seja adequado postular que muitas vezes não conseguimos
perceber o aprendizado, e não que ele não ocorra. Onde há vida, há signo, pois
é fundamental para a vida comunicar, sem comunicação entre as células, entre os
indivíduos, entre seres e meio, a vida não é possível.”
Portanto, passo a
considerar a semiótica como uma importante componente de análise em pesquisas
educativas, principalmente pelo fato das premissas da semiótica virem a
contribuir nos processos educativos.
As relações de professores
e alunos não se tratam apenas de alguém que ensina e alguém que aprende, os
conteúdos também não se tratam apenas de textos ou imagens que os professores
irão implantar nos cérebros dos alunos, e com isso volto na questão do afeto,
pois os alunos precisam estar dispostos a se afetarem pelo aprendizado,
disponibilizarem sua mente, para dar sentido e percebo que as próximas leituras
de Bernard Charlot poderão nos esclarecer melhor essas questões com as
discussões da relação com o saber.
Espero ter contribuído
com os colegas.
Abraços
Naiara Chierici