A partir de leituras de materiais
a respeito da metodologia da pesquisa-ação passei a refletir sobre a
viabilidade pedagógica desta metodologia na formação continuada de professores.
A formação continuada se caracteriza pela formação do profissional durante o
exercício de sua profissão, por meio de cursos, palestras, grupo de estudos, em
momentos de semana pedagógica, entre outros. Porém esse tipo de formação é
sempre muito criticado pelos próprios professores que se submetem a esses
cursos para progressão salarial, ou por ser obrigatório dentro do planejamento
da instituição. A grande maioria dos professores acredita que o seu aprendizado
como professor vem de sua prática.
Diante desse pensamento, a formação continuada deveria
fazer com que o professor refletisse sobre sua prática. Ideia que vai de
encontro com a metodologia da pesquisa-ação. Esta é uma forma de investigação-ação
que utiliza técnicas de pesquisa consagradas para informar à ação que se decide
tomar para melhorar a prática (TRIPP, 2005).
A pesquisa-ação pode se apresentar de três maneiras, de
acordo com Franco (2005, p. 485-486):
a)
quando a busca de transformação é solicitada pelo grupo de referência à equipe
de pesquisadores, a pesquisa tem sido conceituada como pesquisa-ação
colaborativa, em que a função do pesquisador será a de fazer parte e cientificizar
um processo de mudança anteriormente desencadeado pelos sujeitos do grupo;
b)
se essa transformação é percebida como necessária a partir dos trabalhos
iniciais do pesquisador com o grupo, decorrente de um processo que valoriza a
construção cognitiva da experiência, sustentada por reflexão crítica coletiva,
com vistas à emancipação dos sujeitos e das condições que o coletivo considera opressivas,
essa pesquisa vai assumindo o caráter de criticidade e, então, tem se utilizado
a conceituação de pesquisa-ação crítica;
c)
se, ao contrário, a transformação é previamente planejada, sem a participação
dos sujeitos, e apenas o pesquisador acompanhará os efeitos e avaliará os
resultados de sua aplicação, essa pesquisa perde o qualificativo de
pesquisa-ação crítica, podendo ser denominada de pesquisa-ação estratégica.
A pesquisa-ação para a formação
continuada pode se dar por solicitação dos professores da instituição escolar
ou então pelo interesse do pesquisador. Nas duas situações, mas principalmente
no último caso, o pesquisador terá que fazer um trabalho de convencimento para
a participação dos professores.
Nesse sentido, a pesquisa-ação se identifica como uma
investigação que caminhe na direção da transformação de uma realidade,
implicada diretamente na participação dos sujeitos que estão envolvidos no processo,
cabendo ao pesquisador assumir os dois papéis, de pesquisador e de participante,
e ainda sinalizando para a necessária emergência dialógica da consciência dos sujeitos
na direção de mudança de percepção e de comportamento.
Para que a pesquisa-ação seja um instrumento na formação
continuada dos professores deve seguir alguns fundamentos:
• a ação conjunta
entre pesquisador-pesquisados;
• a realização da
pesquisa em ambientes onde acontecem as próprias práticas;
• a organização de
condições de auto formação e emancipação aos sujeitos da ação;
• a criação de
compromissos com a formação e o desenvolvimento de procedimentos crítico- reflexivos
sobre a realidade;
• o desenvolvimento
de uma dinâmica coletiva que permita o estabelecimento de referências contínuas
e evolutivas com o coletivo, no sentido de apreensão dos significados construídos
e em construção;
• reflexões que atuem
na perspectiva de superação das condições de opressão, alienação e de massacre
da rotina;
• ressignificações
coletivas das compreensões do grupo, articuladas com as condições sócio históricas;
• o desenvolvimento
cultural dos sujeitos da ação.
Segundo Franco (2005, p. 500), o
professor, ao adentrar em um processo contínuo de revisões da própria prática,
acaba incorporando atitudes na direção de constituírem-se em investigadores no contexto
da prática.
Como
investigadores, aprenderão e desenvolverão habilidades no sentido de:
• elaborar novas hipóteses para
realizar novas práticas;
• conviver criativamente na
divergência;
• encontrar novas respostas para
desafios que passa a perceber;
•
reconhecer e utilizar as teorias implícitas de sua prática, renová-las,
adequá-las;
• reinterpretar as hipóteses iniciais;
• buscar articulações entre fins e
meios educacionais;
•
perceber-se capaz de retirar do coletivo as fontes de aperfeiçoamento pessoal;
•
aprender a compreender a relação dialética entre sujeito e objeto; teoria e
prática;
•
perseguir atitudes contextualizadoras, problematizadoras e estabelecer
articulações entre o fato e a totalidade;
•
reafirmar que a transformação é o princípio do desenvolvimento; adquirindo a
capacidade de criar novas visões, de entender os problemas de outras formas,
para além de seu repertório atual;
•
descobrir o significado concreto nas situações conflitivas e complexas,
permitindo ver que a prática é um processo investigativo, de experimentar com as
situações de forma a buscar novas e mais adequadas compreensões.
Dessa forma, a metodologia da
pesquisa-ação pode contribuir para a formação continuada dos professores, porém
é um processo longo, pois não se refere apenas a um instrumento para melhorar a
prática dos professores, se refere a uma pesquisa, e por isso os procedimentos
da pesquisa devem ser respeitados, e tem como objetivo principal a transformação
da prática por meio da reflexão crítica dos participantes, que passam a fazer a
função de pesquisadores também.
Referências:
TRIPP,
D. (2005). Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466.
FRANCO,
M.A.S. (2005). Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.
31, n. 3, p. 483-502.