A
questão é procedente, pois as escolas públicas de ensino básico são chamadas à
gestão democrática desde a promulgação da última Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional em 1996. Porém, por razões que não nos cabe aqui discutir,
muitas escolas públicas são geridas de forma não democráticas ou com noções
equivocadas de democracia.
No
entanto uma forte indagação surgiu em minha mente quando lia o capítulo 4 do livro
de Charlot – “Da relação com o saber: elementos para uma teoria”
Tentando
ser o mais claro possível, colocarei minhas indagações por parte:
Charlot
nos lembra de que Sève ao desenvolver a sexta tese da
Marx sobre Feuerbach escreve: "Em
outras palavras, a essência originária do indivíduo humano não está dentro dele
mesmo, mas, sim, fora, em uma posição excêntrica, no mundo das relações sociais".
(Sève, apud, Charlot, 2000, p. 52)
Um
pouco mais avante o próprio Charlot (2000) ao falar da humanização do homem diz
que ao nascer este é obrigado a aprender para
[...] constituir-se,
em um triplo processo de "hominização" (tornar-se homem), de singularização
(tornar-se um exemplo único de homem), de socialização (tornar-se membro
de uma comunidade, partilhando seus valores e ocupando um lugar nela). [...] Aprender em uma história que é, ao mesmo tempo, profundamente minha, no
que tem de única, mas que me escapa por toda parte.
(Charlot, 2000, p. 53 – negrito nosso)
Ainda
pensando na crítica marxista ao capitalismo e, especificamente no que diz sobre
a alienação, pensamos: como é possível esta hominização proposta por Charlot
numa sociedade que levou o capitalismo ao status
de neoliberalismo?
Se,
na sociedade proposta no mundo capitalista (delimitamos para não incorrer o
risco de pecar pelo excesso e generalizarmos sem dados mais acertados) o homem
é um ser alienado (Transferido ou cedido a outrem. Afastado,
separado. Arrebatado, enlevado.
– Michaelis-UOL), isto é, transfere seu ser a outro que, por
deter o poder econômico, implanta uma ideologia (Ciência que trata da formação das ideias. Tratado das ideias
em abstrato. Maneira de pensar própria de um indivíduo ou grupo de pessoas. – Michaelis-UOL)
que o favorece e mantém seu status quo.
Numa sociedade em que o sujeito não é ele mesmo, mas sim aquilo que querem que
ele seja, como pensar a educação enquanto processo de hominização a não ser
pelo processo democrático e participativo?
Sim,
é só a partir da provocação do indivíduo, fazendo-o participar da gestão do seu
processo de ensino e aprendizagem, que o homem pode se ver como sujeito de
“uma história que é, ao mesmo
tempo, profundamente minha (sua), no que tem de única, mas que me (lhe) escapa por toda parte.” Na gestão democrática e participativa o
indivíduo tem a oportunidade de contribuir com a construção de sua história e,
assim voltar a ser sujeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.