Como
tratar a relação com o saber? É com este
questionamento, tomando como base as discussões realizadas nos capítulos 4, 5 e
6 do livro “Da Relação com o Saber: elementos para uma teoria”, de Bernard
Charlot, que proponho algumas reflexões neste espaço.
Para
compreendermos a relação com o saber, Charlot (2000) apresenta algumas
discussões de J.M. Monteil (1985), que diferencia a informação, o conhecimento
e o saber. De acordo com Monteil (1985 apud
CHARLOT, 2000, p. 61)
A informação é um dado exterior ao
sujeito, pode ser armazenada, estocada, inclusive em um banco de dados; está
“sob a primazia da objetividade”. O conhecimento é o resultado de uma
experiência pessoal ligada à atividade de um sujeito provido de qualidades
afetivo-cognitivas; como tal, é intransmissível, está “sob a primazia da
subjetividade”. Assim como a informação, o saber está “sob a primazia da
objetividade”, mas é uma informação de que o sujeito se apropria. [...] O saber
é produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos, é construído em quadros
metodológicos. [...]
Como docentes, muitas
vezes não nos preocupamos com a diferenciação apresentada por Monteil (1985) em
nosso trabalho na sala de aula, colocando em segundo plano o que a objetividade
e a subjetividade apresentam.
Fazemos parte de um sistema educacional
repleto de normas, currículos, leis, diretrizes, parâmetros e o que nos motiva
a ensinar e a trabalhar com os alunos é cumprir tudo o que nos é “sugerido” por
esse sistema e receber um “pró-labore” por esse trabalho; por muitos momentos, esquecer-se
da relação que temos com o saber e o nosso papel como motivadores desse
relacionamento é o que nos resta.
Como
consequência desta ação docente, muitos alunos hoje se limitam a um contato com
informações presentes em bancos de dados da internet, em livros didáticos
fornecidos pelos sistemas educacionais ou por listas de exercícios para
vestibulares, enquanto as experiências pessoais possibilitadas pelo
conhecimento e pelo saber deixam de acontecer ou, se acontecem, são em casos
bem isolados.
As
relações com o saber são essenciais para nosso crescimento enquanto seres
pensantes e atuantes em uma sociedade. Deste modo, adquirimos o saber não
somente no que nos é apresentado nos livros e nas aulas em um contexto escolar,
mas também nas relações que fazemos destes saberes com a nossa vida e com as
experiências que esses nos possibilitam.
Como
indivíduos pensantes, é necessário o estabelecimento de relações com os vários
tipos de saber, conforme aponta Charlot (2000, p. 62): “[...] prático, teórico,
processual, científico, profissional, operatório, etc.”. Por muitos momentos,
destinamos nossos relacionamentos com o saber por meio de uma vertente, seja
ele um saber prático, um saber teórico, saber científico, entre outros; no entanto,
por mais que as relações sejam direcionadas a um segmento (teórico, científico,
prático), o saber sempre possui uma relação com o mundo e com o indivíduo que
estabelece contato com ele.
Em
nosso contexto educacional, torna-se essencial diferenciarmos com nossos alunos
o que a informação, o conhecimento e o saber apresentam particularmente, para
que nossas relações com o saber possam ser momentos de aprendizagem e de
contato com o mundo, consigo mesmo e com os outros. A fragmentação desses
elementos não colabora com a qualidade das relações que são almejadas por meio
do saber, para que como Charlot (2000) afirma, não aconteça um “acúmulo de
conteúdos intelectuais”, mas sim, a percepção do papel que a informação, o
conhecimento e o saberes possuem na formação dos indivíduos.
Não
cabe a esta intervenção trazer respostas prontas ao questionamento inicial,
contudo, colaborar com as reflexões iniciadas por Charlot (2000) e expandir as ideias
a respeito das relações com o saber foi o que me motivou até aqui. E que venham
outras reflexões, pois o debate está apenas começando...
Natália Teixeira
Ananias Freitas
Doutorado em Educação
Referência Bibliográfica
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre:
ARTMED, 2000, p.51-89.