Durante as aulas,
além das leituras sobre a semiótica, também tivemos a oportunidade de estudar a
pesquisa-ação e relacionar os dois temas.
Assim, nesta
postagem, pretendo trazer alguns pontos para reflexão, entre a semiótica de
Peirce e a pesquisa-ação.
De acordo com Gomes
da Silva (2012), a pesquisa-ação tem sua origem na década de 1960, quando os
acadêmicos tentaram suprir as lacunas entre o ensino e a pesquisa e o problema
entre a teoria e a prática; ou seja, minimizar as diferenças entre professor e
pesquisador.
Franco (2005) pontua
que a pesquisa-ação tem sido utilizada de diversas maneiras nas últimas
décadas, passando a compor, assim, um mosaico de várias abordagens
teórico-metodológicas.
Franco (2005) e Gomes
da Silva (2012, citando André, 1995) esclarecem que a pesquisa-ação se pauta em
conseguir mudanças em atitudes e comportamentos, ou seja, a mudança de conduta.
De acordo com Franco (2005, p. 486), “a pesquisa-ação deve partir de uma
situação social concreta a modificar e, mais do que isso, deve se inspirar
constantemente nas transformações e nos elementos novos que surgem durante o
processo e sob a influência da pesquisa”. A mudança na prática docente, por
exemplo, seria possível a partir da mudança de conduta, acompanhada por um
processo de pesquisa, de investigação sistemática e autocrítica, como define
Stenhouse (1993).
Stenhouse esclarece a
importância de se conhecer a realidade para transformar, para produzir
transformações de sentido. A prática é o objeto da pesquisa, e esta é realizada
com os professores e não sobre os professores.
Uma frase que me
chamou a atenção é a epígrafe do capítulo 2 da tese de Gomes e Silva (2012):
“Eu tô cansada de trabalhar com a criança de papel”. A frase, fala de uma
professora participante da pesquisa, relaciona-se ao que pontua Stenhouse: é
preciso conhecer a prática e atuar sobre ela para que haja transformação. A
partir dessa prática pode-se testar e verificar teorias, formular novas e
promover a generalização. Não é porque uma teoria funcionou num contexto x que
irá funcionar da mesma forma no contexto y. A participante critica isso: o fato
do pesquisador ir até a sala de aula, observar e colocar a criança no papel,
para depois estudar e fazer generalizações, teorias.
Franco (2005) afirma
que há vários pontos a serem contemplados na investigação sobre a prática
educativa, e destaco alguns deles: a ação conjunta entre pesquisador e
pesquisado; a emancipação e o desenvolvimento dos sujeitos da ação; a realização
da pesquisa no local em que se dá a ação. Tal afirmação corrobora o pensamento
de Stenhouse (1993), que diz que a investigação educativa é aquela realizada no
conteto de um projeto educativo e enriquecedora deste – a sala de aula seria,
então, o laboratório.
Para fechar, trago um
excerto da tese de Gomes e Silva (2012), em que a autora traça pontos
convergentes entre a semiótica de Peirce e o pensamento de Stenhouse, no que
diz respeito à investigação como base do ensino:
“São pontos
especialmente convergentes com a leitura do pensamento de Peirce e de
Stenhouse: o currículo e os objetivos de ensino como hipotéticos; a educação como processo sem meta final; a dúvida como geradora da investigação e
do ensino (pois o que é evidente deles não precisa); o conhecimento deve ser discutível para que possa ser comprovado (pois o
indiscutível é incomprovável); a rejeição da autoridade, da tradição e
da opinião admitida na busca do
conhecimento; a investigação como apreensão
da experiência; o empreendimento científico como empreendimento público, crítico e autocrítico; o
entendimento de que as generalizações
devem ser testadas (e não “aplicadas”) em casos individuais – portanto, as teorias são hipotéticas; e que a
investigação deve gerar implicações para a prática
futura.”
Referências
FRANCO, M. A. S.
Pedagogia da Pesquisa-Ação. Educação e
Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 482-502, set./dez., 2005.
GOMES DA SILVA,
E. Movimento e educação infantil: uma pesquisa-ação na
perspectiva semiótica. 2012. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2012.
STENHOUSE, L. La investigación como base de la enseñanza.
Madrid: Morata, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.