O
texto de Roberto Cardoso de Oliveira, intitulado “O trabalho do Antropólogo”,
estudado em sala de aula no dia 30 de novembro de 2012, nos convida a pensar no
verdadeiro métier do antropólogo que,
para o autor, também se aplica a outras áreas da pesquisa social.
Segundo
o autor, a compreensão dos fenômenos sociais na pesquisa empírica,se dá mediante
três etapas: o olhar, ouvir e o escrever. Os atos cognitivos de olhar e ouvir,
nessa lógica de pensamento, abrigam nossas percepções sobre um fenômeno estudado;
enquanto que o ato de escrever possibilita o exercício do pensamento e a
produção do discurso sobre o tema investigado.O autor dá o exemplo da pesquisa
etnográfica como aquela em que os processos de observar, ouvir e escrever são
consideravelmente nítidos.
Nesse
processo de compreensão e investigação do problema de pesquisa o ato de “Olhar”
constitui-se como a primeira experiência do pesquisador etnográfico através do
qual seu olhar é treinado e irá refletir-se na observação da realidade. Desse
modo, ao estudar o objeto, o olhar do pesquisador é perpassado por uma teoria,
uma dimensão conceitual prévia. Seu olhar está voltado para o objeto de estudo
sem qualquer ingenuidade, pelo contrário, ele é previamente construído pelo
pesquisador. Através do olhar e de uma teoria construída é possível, então,
fazer relações sociais entre os fenômenos.Isso quer dizer que através da OBSERVAÇÃO,
é possível ao pesquisador investigar um fenômeno em sua interioridade segundo
suas características, peculiaridades, complexidades, enfim; compreendendo-o e
estabelecendo relações sociais através dos dados observados.
O
ato de “Ouvir”, por sua vez, se complementa ao ato de olhar no processo de
investigação. O ouvir, segundo Oliveira, é o processo pelo qual é possível
selecionar o que é realmente significativo à pesquisa, ou seja, o que, de fato,
pode contribuir ao seu corpo teórico. O ouvir se coloca em prática quando o
olhar não é mais capaz de sanar as dúvidas sobre o objeto investigado. É
através do olhar e do ouvir que o objeto investigado adquire significação.
Entretanto, Oliveira nos alerta que é preciso saber ouvir, pois há um contexto,
um sentido e uma significação do fenômeno em sua interioridade que pode não ter
sido apreendido pelo investigador.
A
ferramenta dessa etapa científica de investigação, relativa ao ato cognitivo de
ouvir, corresponde à entrevista. Oliveira
nos alerta, do mesmo modo, no que tange a alguns cuidados necessários à
realização da entrevista. Ressalta o autor que é preciso cautela para que o
pesquisador não projete suas hipóteses na entrevista escapando à neutralidade
inerente à pesquisa. Do mesmo modo, ela não deve parecer ilusoriamente
interativa, prevalecendo nessa relação entre pesquisador e informante certo
autoritarismo por parte daquele. Para que essa relação seja de fato dialógica,
não basta que o informante se constitua apenas como tal, pelo contrário,ele deve
se configurar como o interlocutor da pesquisa. Nesse caso, o investigador deve
propiciar condições para que o diálogo aconteça e isso só é possível quando o
pesquisador não contamina o discurso de seu interlocutor com o seu prévio discurso.
Acerca disso finaliza Oliveira “Essa relação dialógica (...) faz com que os
horizontes semânticos em confronto –o do pesquisador e o do nativo- abram-se um
ao outro, de maneira a transformar um tal confronto em um verdadeiro encontro
etnográfico. Cria um espaço semântico partilhado por ambos interlocutores
(...), um diálogo entre “iguais”. (p.24).
Por
fim, a última etapa da pesquisa empírica e da elaboração do conhecimento diz
respeito ao “Escrever”. Se através do olhar e do ouvir a pesquisa de campo se
desenvolve na sua dimensão prática, isto é, “estando lá”; o ato de escrever põe
em prática o momento pelo qual o pesquisador presentifica o passado através de
sua memória. Trata-se agora do “estando aqui”, ou seja, já fora do campo de
pesquisa o investigador se debruça no exercício cognitivo mais complexo que é
elaborar o discurso. Ressalta Oliveira que“(...) se o olhar e o ouvir
constituem a nossa percepção da realidade focalizada na pesquisa empírica, o
escrever passa a ser parte quase indissociável do nosso pensamento, uma vez que
o ato de escrever é simultâneo ao ato de pensar”. (p.31-32).
Desse
modo, escrever é o exercício através do qual o pesquisador coloca em prática,
no campo do discurso, os fatos observados, vistos e ouvidos. No ato de escrever
se dá a textualização da cultura, ou seja, a interpretação, por parte do
pesquisador, daquilo que é investigado e que envolve a dimensão conceitual e os
dados obtidos no trabalho de campo. Articula-se, portanto, o trabalho de campo
com a construção do corpo teórico da pesquisa.
Sendo assim, as etapas da pesquisa
empírica, segundo Oliveira, se desenvolvem mediante os processos cognitivos de
olhar, ouvir e escrever. Através desses processos, a observação, a entrevista e
expressão escrita do pensamento se complementam e possibilitam que o objeto de
estudo seja observado em seu contexto, com significação ao pesquisador, através
de uma relação dialógica na qual prevaleça a interação entre o pesquisador e o
pesquisado para que, por fim, as relações sociais realizadas pelo investigador
através do exercício da escrita possam, de fato, elaborar um conhecimento
científico válido.
Estéfani Dutra Ramos
Jéssika Naiara da Silva
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