O presente texto tem como objetivo demonstrar que a
semiótica é uma lógica útil e imprescindível dentre os fundamentos da educação.
E nesta perspectiva ressalta ser necessário entender as categorias básicas de
Peirce para qualquer pensamento, que são: primeiridade, secundidade e
terceiridade, associadas respectivamente a sentimento de liberdade, alteridade
e existência, pensamento e generalidade.
Diante de tal propositura, a autora apresenta no artigo
a definição de semiótica, a relação entre semiótica e aprendizagem, mostrando
que conhecer é um fenômeno semiótico, e ainda, exemplifica situações em que
processos educacionais ocorrem em semiose.
Para tanto, primeiramente a autora apresenta a
contextualização (trajetória) histórica da semiótica enquanto campo do
conhecimento emergente em três contextos diferentes: Rússia, Suíça e Estados
Unidos, entre a segunda metade do século XIX e início do século XX. Ressalta a
contribuição de manuscritos que contribuíram à legitimação da semiótica
enquanto campo do conhecimento e neste sentido, destaca o trabalho de Santaella
que pesquisou os manuscritos e tem publicado suas leituras sobre Peirce.
Para Silva (2008), a semiótica se contrapõe à visão da
ciência moderna. De modo que a modernidade entende o homem como sujeito
privilegiado do conhecimento (racionalismo e empirismo), além de conceber que o
conhecimento ocorre por meio da relação sujeito x objeto, ou seja, percebe o
mundo com base nos opostos. Porém, defende a ideia de que na contemporaneidade,
não se pode aceitar uma explicação única, pois se constituem em relação e não
possuem posicionamento fixo e rígido.
Diante de tais considerações, salienta que a semiótica
propõe outra visão de mundo, que rompe com as dualidades. Entende que as
relações naturais e o processo de conhecimento ocorrem por meio de relações
triádicas (primeiridade, secundidade e terceiridade). Tais relações estão
presentes em toda a organização do saber proposta por Peirce.
A lógica ou semiótica é também dividida em três:
gramática pura (inclui os tipos de signos – de onde vem as noções de ícone,
índice e símbolo), lógica crítica e metodêutica.
Para melhor compreensão de tal relação triádica a
autora apresenta as características de cada um dos itens da relação triádica:
- A primeiridade
como sendo a sensação, a pura cor vermelha, uma euforia que aparece. É a
categoria da liberdade, da espontaneidade, não chega a ser consciente, quando
pensamos nela já estamos na secundidade. (está relacionada com o acaso,
possibilidade, qualidade, originalidade, sentimento, liberdade, mônada).
- A secundidade – é a categoria do confronto, do
choque com o outro, do presente sem reflexão, da surpresa. (está relacionada às
ideias de dependência Ex: um esbarrão na esquina, a consciência do roçar da
pele com a roupa, o detectar de uma presença. No instante em que percebe-se que
a presença é de um gato, já estamos na terceiridade.
- A terceiridade – é a categoria do entendimento da
reflexão, da relação, do signo completo.
Considera-se profícuo o exemplo que a autora traz
acerca desta relação triadica: sinto o azul profundo – primeiridade; meu ombro
toca uma parede, surpresa tátil, secundidade; penso que é azul e frio como o
mar, terceiridade.
Para a autora todo e qualquer fenômeno são legitimados
por esses três momentos, sendo estes os fundamentos a partir dos quais todos os
conhecimentos ocorrem.
De acordo com Silva (2008), as categorias fundamentais
presentes em todo processo de significação (primeiridade, secundidade e
terceiridade) são os fundamentos a partir dos quais todos os conhecimentos
ocorrem.
Diante de tais considerações a autora define semiótica
como a ciência que estuda os signos. O processo gerador do signo é a semiose,
objeto da semiótica.
O signo é algo para uma mente, a experiência primária
o representamen (objeto e
interpretante constituintes do signo), o objeto pode ser uma ideia, pensamento,
sentimento, algo que necessita de um signo para ser expresso. Por fim, um
terceiro, o interpretante, entendimento entre objeto e representamen.
Cabe ressaltar, que essa tríade se movimenta não é
estática, e que a semiótica constitui-se no estudo da semiose, do processo de
atuação e funcionamento dos signos.
Com base nesses pressupostos a autora apresenta a relação
entre a semiótica e aprendizagem. Assim destaca que todo aprendizado ocorre por
meio de signos, sendo o processo comunicativo fundamental à cognição e, por
consequência, à aprendizagem. Afirma a autora que estamos no mundo nos
comunicando e aprendendo o tempo todo. Mas é importante destacar que para que
haja essa interação é preciso que haja afeto. O afeto conecta-se à
primeiridade, categoria fundamental de todo processo semiótico.
Na sala de aula toda vez que ocorre comunicação,
ocorre aprendizado, conforme o capital disponível de cada um (conhecimentos
prévios) e também de acordo com o afeto dado e recebido no processo.
Para Silva (2008), o aprendizado, nesta perspectiva,
precisa de um objeto ou conteúdo, de uma mente com seu capital de signos, o que
propiciará um resultado, um caminho. Dessa forma, a semiose é um fenômeno
contínuo, no qual a ação do signo se desenvolve no tempo e a vida se desenvolve
por meio de signos.
É importante enfatizar que nesse contexto percepção e
conhecimentos não se separam e que a certeza é sempre provisória, está sempre
em movimento e é coletiva.
Segundo Silva (2008), todo conhecimento é
interpretativo, condicionado pelo que existia antes e revelado em momento
posterior, de acordo com o tempo. Para Peirce apud Silva (2008) o pensamento não está em nós, nós estamos em
pensamento, o que mostra que não reagimos mecanicamente às situações, de forma
sempre igual, pois estamos sempre em movimento, criando novos signos, ou seja,
aprendendo.
Apresentado tais premissas a autora exemplifica
situações semióticas e educacionais, e ainda nos remete ao papel do aluno e do
professor neste contexto.
No que diz respeito ao papel do aluno, enfatiza que o
aluno tem que estar disposto a se afetar pelo aprendizado, deve disponibilizar
sua mente, sua atenção, seus sentidos procurando interagir com o mundo a sua
volta.
Ao professor cabe entender que os alunos aprendem de
acordo com os conteúdos prévios que possuem. E neste sentido, cabe ao professor
avaliar em que nível deve propor uma situação de ensino, de modo a contemplar o
equilíbrio necessário. Assim, não deve utilizar vocabulário nem tão acessível,
nem tão difícil; deve propor textos desafiadores ao capital sígnico do aluno,
sendo este um dos grandes desafios do professor, ou seja, propiciar situações
motivadoras e dinamizadoras de aprendizagem e com isso conseguir afetar os
alunos, atingir resultados satisfatórios e a meta proposta.
Cabe ao professor atuar como signo que intermedeia os
objetos do mundo ao aluno, onde ambos produzem conhecimento nesse processo
semiótico. Além desse desafio, a autora chama a atenção para outro desafio
contemporâneo a quem trabalha com educação, as mídias e multimeios da
comunicação que permite a junção de diversas linguagens.
Ao se reportar ao cruzamento dessas diversas
linguagens sugere, a autora, a necessidade de aproveitar espaços como a rede de
computadores por meio de projetos que conciliem seu potencial comunicativo com
a experiência educativa existente. Ficando claro assim, o caráter incessante e
dialógico da linguagem, que conecta mentes, constrói mundos, comunica, produz
aprendizado.
Referencial Teórico
SILVA, A. C. T. da. A perspectiva semiótica da educação.
Revista Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 11, n.3, p.259-267, set-dez.
2008.
Discente: Doutoranda Daniela Miranda Fernandes Santos
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