Para Bernard Charlot[1] o saber é produzido pelo sujeito confrontando a outros sujeitos, é construído em “quadros metodológicos”. Pode, portanto, “entrar na ordem do objeto”; e torna-se, então, “um produto comunicável”, uma “informação disponível para outrem”.
O autor enfatiza que não há saber senão para um sujeito, não há saber senão organizado de acordo com relações internas, não há saber senão produzido em uma confrontação interpessoal.
Assim, a idéia de saber implica a de sujeito, de atividade do sujeito, de relação do sujeito com ele mesmo (deve desfazer-se do dogmatismo subjetivo), de relação desse sujeito com os outros (que co-constroem, controlam, validam, partilham esse saber).
Dentro desta perspectiva, Charlot aponta também que o conceito de relação com o saber implica o de desejo. Este desejo, alerta o autor, é desejo do outro, desejo do mundo, desejo de si mesmo. Nesse sentido, o desejo de saber ou aprender surge quando o sujeito experimenta o prazer de aprender e saber. A relação é que se particulariza, não é o objeto da relação que se torna particular: o desejo do mundo, do outro e de si mesmo é que se torna desejo de aprender e saber; e, não, o “desejo” que encontra um objeto novo, “o saber”.[2]
Com o auxílio da psicologia, relata que o sujeito, por ser um conjunto organizado de relações, não tem uma relação com o saber. Ao contrário, a relação com o saber é o próprio sujeito, na medida em que deve aprender, apropriar-se do mundo, construir-se. Portanto, o sujeito é relação com o saber.
Em complemento, a presença do desejo na relação com o saber coloca em questão o valor que o sujeito concede ao que aprende. Por esse modo, um objeto, uma atividade, uma pessoa, um local, fazem sentido na medida em que significa algo para o sujeito e é capaz de mobilizá-lo.
Em arremate, o sujeito, engajado no mundo, em relação com os outros e com ele mesmo, tem no desejo a mola da mobilização e, consequentemente, da atividade, numa dinâmica que se desenvolve no tempo.
Danilo Trombetta Neves
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