Em “O trabalho do antropólogo” Roberto
Cardoso de Oliveira apresenta sua visão sobre como um fenômeno pode ser
apreendido. Para o autor mais que o antropólogo, a proposta de seu texto é
atingir todos que gostam de ciências sociais.
O texto questiona as faculdades do
entendimento sociocultural inerente ao conhecer das Ciências Sociais. Para o
autor sem percepção e pensamento não é possível conhecer, parafraseando
Leibniz.
Na sequência, Oliveira aponta três
etapas necessárias para apreender fenômenos sociais. Trata-se do olhar, do
ouvir e do escrever. Na visão do autor, por terem um aspecto trivial, esses
elementos acabam não sendo problematizados.
Para Oliveira a percepção é construída
por meio do olhar e do ouvir disciplinados. Já o escrever é responsável pela
construção teórica do discurso, ou seja, o pensamento do cientista.
Sobre o olhar, Oliveira relata que o
pesquisador de campo precisa domesticar teoricamente seu olhar. Esse olhar
domesticado não deixaria que o pesquisador olhasse para o novo com curiosidade,
mas de maneira instrumentalizada, sensibilizado pela teoria disponível.
Ao olharmos de forma domesticada, tudo o
que for observado será transportado para o campo da coleta de dados, da
construção de um leque de informações sobre os investigados. Pois, tal olhar
permite relacionar presente e passado e verificar as transformações entre esses
períodos.
Mas, para o autor somente olhar não é
suficiente. Segundo Oliveira o ouvir é uma complementação do olhar. O ouvir
permite ao pesquisador eliminar os ruídos insignificantes, que não tenha
sentido para o corpus teórico investigado. Trata-se de uma ação que possibilita
explicações para aquilo que o observado não conseguiu atribuir significado.
Para Oliveira, a entrevista é um ouvir
especial, no entanto, o pesquisador precisa saber ouvir, isto é, ele tem que
separar seu mundo e o mundo do investigado. O pesquisador precisa observar que
sua formação se dá a partir de duas culturas, a brasileira e a de sua área de
atuação, portanto diante tal conhecimento não pode ser inserido em nossa
prática, cujo objetivo é compreender o mundo do investigado.
Outro fator importante é o pesquisador
estabelecer uma relação de natureza entrevistador e entrevistado, mas evitando
ao máximo influenciar seu entrevistado, mesmo sabendo que isso já acontece de
forma involuntária, pois o entrevistado tende a se deixar levar pela posição
ocupada pelo entrevistador.
Oliveira ainda relata que perguntas
pontuais empobrecem a relação, pois cria interação ilusória e não dialógica. A
relação dialógica promove o verdadeiro encontro etnográfico, criando uma
relação partilhada entre pesquisador e investigado.
Numa relação dialógica, o mundo do
observador não contamina o nativo, fator que permitirá uma interação de mão
dupla (dialógica).
Por fim o ato de escrever é entendido
por Oliveira como o momento do pesquisador transmitir o conhecimento adquirido
por meio da percepção gerada pelo olhar e pelo ouvir. Para o autor no escrever
ocorre a textualização dos fenômenos socioculturais, ou seja, a transposição
para o campo do discurso.
Rogerio do Amaral
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