Cultura escolar
brasileira - um programa de pesquisa: uma breve introdução
Azanha
(1992) reporta-se neste texto à necessidade de um mapeamento cultural da escola
de modo a propiciar aos docentes da FE-USP elementos para discutirem a
integração da instituição no âmbito das oportunidades de intercambio acadêmico
criadas pelo acordo BID-USP.
Tal
necessidade emana da crise atual da educação brasileira visível até mesmo para
o leigo. Visibilidade que segundo o estudioso acaba sendo um fator de
obscurecimento quando se pretende compreender em profundidade as suas raízes e
as perspectivas de sua superação.
Para
Azanha (1992) a obviedade de tal crise gera análises estereotipadas e
apressadas soluções que pouco tem contribuído para a superação de tal mazela.
Segundo
o mesmo autor, tal crise faz parte da conjuntura mundial e no caso brasileiro
ela é inegavelmente política. Sendo assim caracterizada tem sido encaminhada
por meio de discussões coletivas em assembléias e conselhos não apenas de
educadores e pais, mas até mesmo de alunos, o que tem descaracterizado a
situação pedagógica. De modo que não requer nenhuma qualificação profissional
para a sua condução, o que de certa forma contribui para a desvalorização da
formação docente.
Nesta
perspectiva, o autor faz uma crítica à participação da comunidade na discussão
de tal crise, uma vez que a escola não é de modo algum o mundo e não deve
fingir sê-lo; ela é a instituição que interpomos entre o domínio privado do lar
e o mundo, sendo a possibilidade de transição da família para o mundo. Não se
deve fundir o mundo da escola e o mundo do lar, por serem instituições
diferentes e indispensáveis, na sua diferenciação, para o desenvolvimento da
criança.
Para
Azanha (1992) “[...] integrar esses mundos diferentes pode, eventualmente,
representar a sonegação de importantes oportunidades educativas às crianças e
aos jovens, que poderiam encontrar na escola um espaço socialmente diferente
daquele propiciado no contexto familiar”. (p. 70).
Esse
seria um exemplo de que a banalidade da crise escolar tem um forte poder de
banalização de nossas respostas a essa crise.
Diante
de tal premissa, o autor ressalta que o simples reconhecimento da existência de
uma crise na instituição escola deveria suscitar reflexões sobre a escola antes
de dispensarmos esforços a reformá-la. Ou seja, precisamos rever nossas ideias
sobre a escola, procurarmos entendê-la, para depois se pensar em possibilidades
de mudanças e reformas.
A
forma como a escola tem sido abordada, segundo ele, tem gerado apenas contabilidades
pedagógicas que tão pouco serve para produzir estatísticas escolares. E nesse
tipo de contabilidade, o aluno, o professor e outros componentes do ambiente
escolar são falsos objetos, e com isso, mascara-se o fundamental que é o jogo
das complexas relações sociais que ocorrem no processo institucional da
educação.
Segundo
Azanha (1992) o que interessa é descrever as “práticas escolares” e os seus
correlatos, ao invés dos resultados escolares como reprovação e a evasão, o que
permitirá visualizar as profundas raízes dessa crise em determinadas condições
sociais e culturais. Porém, isso só seria possível por meio de um amplo
conjunto de investigações capazes de cobrir o amplo espectro das manifestações
culturais que ocorrem no ambiente escolar e que se objetivam em determinadas
práticas. Do conjunto desses estudos constituir-se-ia um mapeamento cultural da
escola, o que poderia possibilitar a chegar a hipóteses interessantes sobre a
crise educacional em sua dimensão histórico-social.
Diante
de tais apontamentos, o autor sugere o desenvolvimento de projetos que
localizem pontos interessantes a serem estrategicamente estudados, de modo a
envolver os pesquisadores num amplo programa de investigação capaz de
contribuir para um conhecimento da cultura escolar.
Referencial Teórico
AZANHA,
J.M.P. Uma idéia de pesquisa educacional.
São Paulo: Editora da USP, 1992. (p.67-75).
Discente: Doutoranda Daniela Miranda
Fernandes Santos
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