quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Leituras para a aula de 28/setembro


Segue a as leituras indicadas para a proxima aula, dia 28/09, como tema "Semiótica peirciana e Educação". Não se assustem! Só há dois textos mais longos, nos demais estão indicadas apenas algumas paginas. Há tbem uma resenha curta. Sugiro a ordem da leitura como apresentada, Faço um comentário geral sobre o que trata cada texto.

Vamos trabalhar estes textos em aula, em dinâmica de grupo.

SEMIÓTICA PEIRCIANA E EDUCAÇÃO:

1- SILVA, A. C. T. da. A perspectiva semiótica da educação. Revista Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 11, n.3, p.259-267, set-dez. 2008.
[LER A PARTIR DO ITEM "SEMIÓTICA E APRENDIZAGEM", p. 263 em diante]
Comentário: apresenta considerações mais gerais sobre as relações entre a semiótica peirciana, educação, ensino  e aprendizagem; a 1a parte deixa a desejar na explicação dos dos conceitos da semiótica peirciana, a 2a parte (p. 263 em diante) é boa.

 2- TURRISI, P. O papel do pragmatismo de Peirce na educação. Cognitio-Estudos: Revista de Filosofia, São Paulo, n. 3, nov 2002.
Comentário: apresenta sugestões para um a "educação pragmatista" a partir de Peirce, por contraste aos modelos de "instrução direta" e "construtivismo".

PRAGMATISMO DE JOHN DEWEY:

 3- CUNHA, M. V. da. Resenha do livro de Carlos O.F. Moreira: "Entre o indivíduo e a sociedade: um estudo da filosofia da educação de John Dewey" , Revista Brasileira de Educação, p. 161-163.
Comentário: descreve sucintamente as "fases" da obra de J. Dewey, destacando alguns de seus principais livros.

4- CUNHA, M. V. da. Três versões do pragmatismo deweyano no Brasil dos anos cinqüenta.  Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 39-55, jul./dez. 1999.
Comentário: descreve e analisa diferentes versões da apropriação da obra de J. Dewey no Brasil.

5- CARLESSO, D.; TOMAZETTI. John Dewey e a educação como “reconstrução da  experiência”: um possível diálogo com a educação contemporânea. Educação, Santa Maria, v. 34, n. 3, p. 573-590, set./dez. 2009.
[LER ATÉ PAG. 578]
Comentário: trata-se de pesquisa que entrevistou professoras sobre a "cultura experiencial do aluno no ambitente da escola". A 1a parte (até pag. 578) traz a noção de "experiência" em J.Dewey.

 6- BROENS, M.C.; ANDRADE, E.B.; PILAN, F.C. A noção de fluxo contínuo da experiência: contribuições de Dewey para a ciência cognitiva. Cognitio-Estudos: Revista Eletrônica de Filosofia, São Paulo, v.5, n. 1, p. 25-32, jan.-jun. 2008.
[LER ATÉ PAG. 28, ANTES DO ITEM "O PROJETO DE PESQUISA DA CIÊNCIA COGNITIVA]
Comentário: na 1 parte (até pag. 28) apresenta a noção de "experiência" em J. Dewey.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Apresentação

Olá pessoal !!!

Eu sou a Néryla Alves, de Presidente Prudente, licenciada em física e aluna regular do Mestrado em Educação da FCT/UNESP. 
Minha pesquisa tem como objeto de estudo o Curso de Licenciatura em Física da FCT/ UNESP, sou orientada pelo Profº Dr. Paulo Raboni, e fazemos parte da linha de pesquisa "Práticas e Processos Formativos em Educação".


Será um prazer compartilhar com vocês os conhecimentos e as reflexões que nos proporcionará  essa disciplina...

Um grande Abraço, Néryla.

Dedução , Indução e Abdução segundo Peirce

- "A Dedução [...] principia de uma hipótese, cuja verdade ou falsidade nada tem a ver com o raciocínio, óbvio que suas conclusões são igualmente ideais [...]. "
- "A Indução é o teste experimental de uma teoria".[...] Ela parte de uma teoria e determina o grau de concordância da teoria com os fatos. Ela nunca pode dar origem a qualquer idéia que seja. Nem o pode fazer a Dedução."
- "A Abdução consiste em estudar os fatos e delinear uma teoria para explicá-los"
"Todas as idéias da ciência surgem através da Abdução".

PEIRCE, C.S. apud COCHIERI, T.; MORAES, J. A. de. Uma perspectiva pragmática da lógica da descoberta e da criatividade. Cognito-Estudos: Revista Eletrônica de Filosofia, São Paulo, v. 6, n. 1,
p. 1-14, jan.-jun. 2009.

Sobre a Abdução: descoberta e criatividade

"[...] o avanço para novas convicções e novos conhecimentos, em princípio, parte do raciocínio abdutivo. [...] Entre os tipos de inferência lógica que Peirce descreve, a abdutiva é a inferência mais original, porém mais passível de falibilidade, sendo, contudo, a única capaz de gerar novas hipóteses." (p. 10)
[...] segundo Peirce, a abdução é a forma que a razão possui quando inicia o estudo de um novo campo científico que ainda não havia sido abordado. Esse tipo de raciocínio pode ser exemplificado na criação do artista, nas pesquisas históricas, arqueológicas, na formulação de novas teorias, ou mesmo nos procedimentos de investigações criminais, que antes de iniciarem seus trabalhos só contavam com alguns sinais que indicariam pistas a seguir. Nas descobertas científicas, o raciocínio abdutivo se realiza tendo em vista as seguintes etapas: percepção de anomalia em que se segue um estado de surpresa e dúvida; abandono do hábito anterior; geração e seleção de hipóteses que poderiam solucionar o problema". (p.11)

 COCHIERI, T.; MORAES, J. A. de. Uma perspectiva pragmática da lógica da descoberta
e da criatividade. Cognito-Estudos: Revista Eletrônica de Filosofia, São Paulo, v. 6, n. 1,
p. 1-14, jan.-jun. 2009.

apresentação

Olá pessoal, meu nome é Daniela Miranda, sou de Marília, mas regularmente matriculada no Doutorado em Educação do Programa de Pós-Graduação da FCT-UNESP de Presidente Prudente, orientanda da Profª Maria Raquel Miotto Morelatti. Faço parte da Linha de Pesquisa Práticas Educativas e Formação Docente. O tema da minha pesquisa é "Contribuições do Curso de Licenciatura em Matemática na formação docente no que diz respeito ao ensino da Álgebra no Ensino Fundamental".
Será um prazer fazer essa disciplina com vocês. É sempre bom fazer novas amizades e partilhar saberes e aprenderes...
Abraços,
Dani

sábado, 25 de agosto de 2012

Lógica


Ciência que estuda as leis e regras estruturadoras da coerência interna de qualquer pensamento e de qualquer discurso.

A lógica clássica é governada por três princípios (entre outros) que podem ser formulados como segue:
Princípio da Identidade: Todo objeto é idêntico a si mesmo.
Princípio da Contradição: Dadas duas proposições contraditórias (uma é negação da outra), uma delas é falsa.
Princípio do Terceiro Excluído: Dadas duas proposições contraditórias, uma delas é verdadeira.
Com base nesses princípios as proposições simples são ou verdadeiras ou falsas – sendo mutuamente exclusivos os dois casos; daí dizer que a lógica clássica é bivalente.
Para determinar o valor (verdade ou falsidade) das proposições compostas (moleculares), conhecidos os valores das proposições simples (atômicas) que as compõem usaremos a tabela-verdade.

Charles S. Peirce: textos originais

http://www.peirce.org/ comunidade de estudos sobre Charles Sanders Peirce, contendo textos e outros fragmentos originais (em inglês)

Métodos de fixação de crenças: autoridade, tenacidade, a priori e científico

O método da tenacidade é apresentado por Pierce da seguinte forma: "quando, à aproximação de um perigo,  o avestruz enterra a cabeça na areia, está provavelmente escolhendo o caminho mais fácil. Dissimula o perigo e diz calmamente que o perigo não existe; e se está perfeitamente seguro de que o perigo não existe, por que levantaria a cabeça para verificar? Um homem pode atravessar a vida afastando sistematicamente de seus olhos tudo o que fosse suscetível de conduzí-lo a alterar opiniões e se o consegue - apoiando seu método em duas leis psicológicas fundamentais - não sei o que possa ser dito contra o procedimento. Seria uma impertinência egotista objetar que é irracional a atitude referida, pois só equivaleria a dizer que aquele método de firmar uma crença é diferente do nosso. O homem que o acolhe não se propõe a ser racional e, em verdade, se referirá frequentemente está provavelmente escolhendo o caminho mais fácil. Dissimula pois, pensar como lhe agrada.
Não obstante, esse método de fixar a crença - que pode ser chamado método da tenacidade - será incapaz de sustentar-se na prática. A corrente social lhe é contraria. O homem que o acolhe verificará que outros homem pensam de maneira diferente e poderá ocorrer-lhe, em momento de maior lucidez, que outras opiniões são tão boas quanto as suas e isso abalará a confiança na crença que tem."
(PIERCE. C. S. Semiótica e filosofia. São Paulo: Cultrix, Editora da USP, 1975, p. 79-80.)

Em síntese:
A pessoa que utiliza este método se apega a posições já adotadas, ouve o que quer ouvir, evita o que pode gerar dúvidas, afasta-se sistematicamente de seu horizonte qualquer coisa que tenha alguma chance de alterar as suas opiniões, procura o caminho mais fácil, não se propõe ser racional, exime-se da dúvida, e, portanto não favorece a investigação.

Em função do método da tenacidade ser incapaz de se sustentar na prática, pois facilmente se precebe que o pensamento de outro homem pode ser tão justificável quanto o nosso, surge a necessidade de outros métodos.

O método da autoridade é apresentado por Pierce da seguinte forma: " Permitamos, pois, que opere a vontade do Estado e não a do indivíduo. Crie-se uma instituição que terá por meta oferecer à atenção do povo as doutrinas corretas, reiterando-as continuadamente, transmitindo-as à juventude e tendo, ao mesmo tempo, o poder de impedir que doutrinas contrárias sejam ensinadas, advogadas ou proclamadas. Que todas as possíveis cauxas de mudança de ideia sejam afastadas, deixando de ser motivo de apreensão para os homens. Que eles se mantenham ignorantes e não conheçam razão alguma que os leve a pensar diversamente de como pensam. Que suas paixões sejam recenseadas para que eles possam encarar, com aversão e asco, opiniões individuais incomuns. Que todos os homens que repelem a crença estabelecida se vejam condenados ao silêncio. Que o povo aponte esses homens e os unte de alcatrão e cubra de penas ou que se institua uma inquisição para perquirir de maneira de pensar de pessoas suspeitas e que estas, declaradas culpadas de crenças proibidas, estejam expostas a punição exemplar. Qando não se consegue acordo completo por outra forma, o massacre de todos os que não pensem de certa maneira tem-se mostrado meio muito eficaz de igualar as opiniões em um país. Se o poder assim agir não bastar, que seja preparada uma lista de opiniões - com a qual homem algum com a mínima independência de pensamento poderia concordar - e que os fiéis sejam conclamados a aceitar essas opiniões, para que possam ver-se segregados tão radicalmente quanto possível da influência do resto do mundo.
Esse método tem sido, desde os primeiros tempos, um dos principais meios de sustentar corretas doutrinas teológicas e políticas e de preservar-lhes o caráter católico ou universal. Em Roma, especialemente, foi praticada desde os tempos de Numa Pompílio até os de Pio IX. Esse é o mais perfeito exemplo histórico; mas, onde quer que tenha surgido um clero - e nenhuma religião dele prescindiu - esse método foi utilizado em maior ou menor escala. Onde quer que haha uma aristocracia, grêmio profissional ou associação de classe, cujos interesses dependam ou suponha-se que dependam de certas proposições, eoncontram-se, inevitavelmente, traços desse produto natural do sentimento coletivo. O sistema sempre se acompanha de crueldade e, quando coerentemente imposto, os procedimentos cruéis adquirem, aos olhos de qualquer homem racional, as proporções de atrocidades da pior espécie. E isso não deve causar surpresa, pois o defensor de uma sociedade não vê justificativas para sacrificar o interesse dessa mesma sociedade no altar da mercê, onde sacrificaria intesses individuais. Natural, portanto, que a simpatia e a amizade levem, por esse caminho, ao mais brutal exercício do poder." 
(PIERCE. C. S. Semiótica e filosofia. São Paulo: Cultrix, Editora da USP, 1975, p. 80-81.)

Em suma: 
Este método é utilizado por todos que querem manter o poder, seja em qualquer tipo de sociedade ou representação social. As regras são impostas com a ignorância, o terror e a inquisição, a fim de alcançar a concordância de quem não pensa igual ou não pensa em harmonia com o grupo ao qual pertence. Esse é método que tem "incomensurável superioridade mental e moral sobre o método da tenacidade", o seu sucesso tem sido grande e "de fato, sempre apresentou os mais majestosos resultados": é esse o método das crenças organizadas. Mas nenhuma de tais crenças organizadas permaneceu eterna; na opinião de Peirce, a crítica as corroeu e a história as redimensionou e, de qualquer forma, as particularizou.

O método do "a-priori" é o de quem considera que suas próprias proposições fundamentais estão de acordo com a razão. Entretanto, observa Peirce, a razão de um filósofo não é a razão de outro filósofo, como demonstra a história das ideias metafísicas. O método apriorista leva ao insucesso, porque "faz da pesquisa algo semelhante ao desenvolvimento do gosto", visto ser método que "não difere de modo essencial do método da autoridade".

Assim, por um ou outro motivo
, esses três métodos (da tenacidade, da autoridade e do a-priori) não se sustentam. Se quisermos estabelecer validamente as nossas crenças, segundo Peirce, o método correto é o método científico.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Investigação na Educação Física Escolar


Na busca de refletir sobre alguns pontos (não os controversos e de forma preliminar) da investigação científica para Peirce (1972) e pensando na Educação Física Escolar como uma subárea de pesquisa da Educação Física, faz-se necessário delimitar a pesquisa em Educação Física Escolar na concordância de Betti, Ferraz e Dantas (2011). Para os autores delimitarem o que é pesquisa na área permeiam pelo menos dois problemas: “a demarcação do que seja pesquisa científica frente a pesquisa não científica, e a demarcação do que seja pesquisa científica em Educação Física Escolar” (BETTI; FERRAZ; DANTAS, 2011, p. 107).
Azanha (apud BETTI; FERRAZ; DANTAS, 2011, p. 107), ressalta que pode haver métodos incompatíveis com a busca da verdade: “aqueles métodos que protegem algumas teorias, hipótese (ou interpretações) no âmbito de uma dada prática científica, porque essa proteção é uma presunção de alcance de verdade e, portanto, de uma razão para a cessação da busca, isto é, da própria prática”. Assim, o viés da pesquisa científica demarcado é aquele na qual analisa a ciência com base numa sistematicidade lógica (não um ideal único de racionalidade). Nesse sentido Peirce (1972, p. 73) argumenta sobre o objetivo de racionar que “é descobrir, a partir da consideração do que já sabemos, algo que não sabemos”, e “[...] a conclusão verdadeira continuaria a ser verdadeira, ainda que não nos sentíssemos inclinados a aceitá-la; e a conclusão falsa permaneceria falsa, ainda que não pudéssemos resistir à tendência de nela acreditar”. Poder-se-ia então dizer que para Peirce (1972, p. 86) a “Verificação acerca de eu estar efetivamente adotando o método não se faz por apelo a meus sentimentos e objetivos, mas, pelo contrário, envolve aplicação do método”. E na aplicação do método Peirce (1972, p77) apresenta alguns pontos de distinção entre dúvida e crença, já que para ele “O estímulo da dúvida leva a esforço por atingir um estado de crença”, e este estado de crença denomina de investigação no sentido de chegar ao acordo de opiniões e não simplesmente uma opinião, mas uma opinião verdadeira. Assim, o autor relata que podemos diferenciar a sensação de duvidar e crer; de que a crença leva a tendência das ações; e que buscamos sair da dúvida (desagradável) para o estado de crença (tranqüilidade).
No sentido de discutir sobre métodos incompatíveis com a busca da verdade, cabe aqui discutir brevemente a diferença que Peirce faz sobre alguns métodos de fixar crença (tenacidade, autoridade, a priori e científico). Para Peirce (1972, p. 81) no método da tenacidade a pessoa busca o caminho mais fácil, dissimula (pensa como lhe agrada) e está seguro daquilo em que acredita, pode passar a vida afastando de seu alcance tudo o que possa modificar suas crenças, e para “O homem que o acolhe não se propõe a ser racional e, em verdade, se referirá frequentemente está escolhendo o caminho mais fácil”. Porém, este método não pode sustentar-se na prática, já que outros homens podem apresentar opiniões tão contundentes quanto a de uma pessoa sobre um mesmo assunto. Assim, surge o problema de fixar crença não apenas num indivíduo, mas na comunidade. Tem-se então o método da autoridade, que busca disseminar doutrinas teológicas e políticas a todas as pessoas, afastando a possibilidade de mudança de idéias. E o sistema que adota tal método sempre se acompanha de crueldade e, quando coerentemente imposto, os procedimentos cruéis adquirem, aos olhos de qualquer homem racional, as proporções de atrocidades da pior espécie.
Porém, para o autor, a instituição que se propõe a tal método não conseguirá regulamentar as opiniões acerca de todos os assuntos, só os de maior importância. E essa imperfeição não enfraquecerá tal poder enquanto as pessoas não souberem somar idéias. Para Peirce (1972, p. 83) surge então a necessidade de um método de fixar crença que deverá “não só induzir a crer, mas permitir escolha da proposição em que se decida crer. Esse sistema apresenta como exemplo a filosofia metafísica, na qual geralmente não se apóiam em fatos observados, mas em proposições fundamentais agradáveis à razão. Assim, o método a priori é o que deve ser escolhido, já que “é a expressão do instinto que, em todos os casos, põe-se como causa última da crença” (Ibidem. p. 83). Este método transforma a investigação a algo semelhante ao gosto, e o gosto está relacionado a questão de moda, no sentido de oscilar. Contudo, Peirce (1972, p. 84) chega ao “método por força do qual nossas crenças passem a ser determinadas não por algo humano, mas por algo externo e estável – por algo sobre que nossa reflexão não tenha efeito”, e “[...] que afete ou possa afetar todas as pessoas”, de tal forma que as conclusões sejam as mesmas. Seus fundamentos apóiam-se em coisas reais das quais as características não dependem de nossas asserções; e por meio das relações com os objetos (utilizando as leis da percepção) podemos verificar, por meio do raciocínio, como as coisas realmente são, desde que o homem tenha experiência em quantidade e raciocine tanto quanto basta sobre o assunto, para então, chegar à conclusão única e verdadeira.
Por fim, Peirce (1972, p. 86) faz distinção do método da investigação científica dos demais. A distinção está na qual o método científico parte de fatos conhecidos e observados para o desconhecido, e não está inclinado ao apelo dos sentimentos, ao cominho mais fácil, ou ao que as instituições julgam verdadeiras, “mas, pelo contrário, envolve a aplicação do método”, e que este contemple nossas opiniões e que estas coincidam com os fatos, não havendo tal objetivo nos demais métodos. Ressalta ainda a necessidade de reflexão para combater a força do hábito, o qual faz “com que o homem mantenha velhas crenças, mesmo depois de adquirir condição de perceber que elas são desprovidas de base sólida” (Ibidem. p. 88).
Retomando Betti, Ferraz e Dantas (2011), os autores compreendem a pesquisa científica como aquela que está aberta a novas argumentações que permitam “tensionar” os princípios, conceitos, afirmações e interpretações que a constituem. Além dessa apresentam outra característica na qual o processo da pesquisa seja público a outros autores possibilitando replicação ou ressignificação. Já na área da Educação Física Escolar, por exemplo nos “estudos descritivos”, não bastaria relatar que os estudantes do ensino médio desinteressam-se e evadem-se das aulas e apresentar as justificativas, como “não gosta da aula”, “não sabe jogar”, etc., o que não permite uma compreensão profunda das relações de conduta de desinteresse e evasão. Seus argumentos são baseados em Azanha (apud BETTI; FERRAZ; DANTAS, 2011) segundo o qual é preciso apresentar investigações multi e interdisciplinares capazes de dar conta das manifestações culturais do ambiente escolar e não apenas descrever estas práticas.
Por conseguinte, não basta “caracterizar os protagonistas que atuam no espaço escolar e relacioná-los a condições sociais, políticas e econômicas” (AZANHA apud BETTI; FERRAZ; DANTAS, 2011, p. 109), assim: 

gerar dados que caracterizam em alguns aspectos crianças e jovens (antropométricos, motores, psicológicos, sociais, etc.) apenas como indivíduos que estão incidentalmente presentes nos tempos-espaços escolares não tipifica a pesquisa em Educação Física Escolar, se estes dados não estiverem associados à condição desses sujeitos como alunos no jogo das relações sociais complexas e dinâmicas que envolvem a disciplina “Educação Física” na instituição escolar. (BETTI; FERRAZ; DANTAS, 2011, p. 109).

Dessa forma, a investigação científica na Educação Física Escolar poderá caminhar “na medida em que possa modificar diferentemente nossa conduta prática” (Peirce, 1974, p. 62); que vai além do prático e apresente descrições compreensivas e interpretativas, e não apenas superficiais e apresente as complexas relações sociais das práticas pedagógicas da Educação Física (BETTI; FERRAZ; DANTAS, 2011).

Referências
BETTI, M.; FERRAZ, O.L.; DANTAS, L.E.P.B.T.. Educação Física Escolar: estado da arte e direções futuras. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.25, p.105-15, dez. 2011.
PEIRCE, C. S. Semiótica e filosofia. São Paulo: Cultrix, 1972.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Conteúdo programático

Saberes docentes e raciocínio científico

- experiência e construção do saber
- a pesquisa-ação como aproximação de ensino e pesquisa
 
Os aprenderes discentes: modos de relação com o saber

- o humano como ser desejante e aprendente
- o saber e as figuras do aprender
- as relações dos sujeitos com o saber


As práticas educativas como espaço de comunicação e interpretação

- a perspectiva etnográfica
- a perspectiva da semiótica peirciana


Definição dos objetivos

- Identificar aproximações de raciocínios nos processos de ensinar, aprender e pesquisar.
- Compreender o saber como relação do sujeito consigo mesmo, com os outros e com o mundo.
- Compreender as relações entre saberes docentes e aprenderes discentes como processos de comunicação e interpretação.
- Problematizar questões metodológicas em pesquisas que envolvem as relações entre saberes docentes e aprenderes discentes.

Bibliografia

- AZANHA, J.M.P. Uma idéia de pesquisa educacional. São Paulo: Editora da USP, 1992.
BETTI, M. Educação física escolar: ensino e pesquisa-ação. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009.
CARLESSO, D.; TOMAZETTI. John Dewey e a educação como “reconstrução da experiência”: um possível diálogo com a educação contemporânea. Educação, Santa Maria, v. 34, n. 3, p. 573-590, set./dez. 2009.
CHARLOT, B. (Org.). Os jovens e o saber: perspectivas mundiais. Porto Alegre: Artmed, 2001.
CHARLOT, B. A relação com o saber nos meios populares: uma investigação nos liceus profissionais de subúrbio. Porto: Legis, 2009.
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.
CHARLOT, B. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005.
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COCHRAN-SMITH, M.; LYTLE, S. L. Relationships of knowledge and practice: teacher learning in communities. Review of Research in Education, v. 24, p. 249–305, jan. 1999.
CUNHA, M. V. da. Três versões do pragmatismo deweyano no Brasil dos anos cinqüenta. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 39-55, jul./dez. 1999.
DEWEY, J. Como pensamos: como se relaciona o pensamento reflexivo com o processo educativo (uma reexposição). 4. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1959.
DEWEY, John. Experiência e educação. 2. ed São Paulo: Ed. Nacional , 1976.
ELLIOTT, J. La investigación-acción en educación. 4. ed. Madrid: Morata, 2000.
EZPELETA, J.; ROCKWELL, E. Pesquisa participante. 2a ed. São Paulo: Cortez, Editores Associados, 1989.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro : LTC, 1989.
GOMES-DA-SILVA, E. A fenomenologia e a semiótica peircianas. In : ______. Educação (física) infantil: a experiência do se-movimentar. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. p. 83-119.
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GUSMÃO, N. M.M. Antropologia e educação: origens de um diálogo. Caderno Cedes, Campinas, v. 18 n. 43, p.8-25 , dez. 1997.
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PEIRCE. C. S. Escritos coligidos. São Paulo: Abril Cultural,1983. (Os pensadores, 36)
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SHANK, G. Semiotics and qualitative research in education: the third crossroad. The Qualitative Report, v. 2, n. 3, December, 1995.
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TURRISI, P. O papel do pragmatismo de Peirce na educação. Cognitio-Estudos: Revista de Filosofia, São Paulo, n. 3, nov 2002.
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VIÉGAS, L. de S. Reflexões sobre a pesquisa etnográfica em psicologia e educação. Diálogos Possíveis, Salvador, v. 6, n. 1, p. 103-123, jan.-jun. 2007.