sábado, 29 de setembro de 2012

A representação do objeto não implica a repetição exata do mesmo, nem que o referente esteja diante de um espelho.


Renato Izidoro da Silva e Miguel Angel Garcia Bordas   no trabalho intitulado - Escrita e codificação política na construção da realidade indígena contemporânea: interculturalidade e intertextualidade escreve um ensaio que constitui um recorte temático de sua tese de doutorado cujo objeto foi a  investigação das proposições textuais legislativas e conceituais para educação escolar indígena – interculturalidade, bilinguismo, diferenciação e especificidade – quanto suas possibilidades e impossibilidades objetivas de realização. Achei interessante a leitura. Sobre a Semiótica assim escrevem os autores:

Uma importante discussão da dinâmica semiótica ou doutrina geral dos signos é seu poder de gerar ambientes, paisagens, objetos e pensamentos que designem ordenamentos, comandos que embora sejam motivados pela interação com algum ou um grupo de objetos podem dessa relação paulatinamente se libertar no sentido de diversos graus de afastamento e liberdade associativa ou lógica dos signos entre si quando presentes na mente. O representante do referente produzido na interação com um sujeito influencia uma transformação no modo como o mesmo sujeito se relaciona com o mesmo objeto quando após um afastamento ele retorna observá-lo, configurando o objeto primeiro como sendo outro referente ou como um objeto ampliado pelo signo. É ainda preciso demarcar o instante em que o signo passa a ser, ele próprio, um objeto passível de abandonar sua função de representante para assumir a posição de referente a ser representado por outro signo.
Conforme Peirce (2005, p.46): “Um signo, ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido”. O signo extrapola seu referente anterior, apesar dele poder ser entendido como uma emanação de seu objeto, quando operado por uma mente ou um sujeito, de modo que o signo criado – desenvolvido – na mente passa a interpretar não apenas o referente, mas o signo representante mais imediatamente produzido. Segundo Melo (1988, p.61), um dos aspectos das teorizações de Baudrillard sobre o código e seus processos semiótico é “[...] precessão [retorno] do efeito sobre a causa, […] enquanto técnica de controle do objeto”. Trata-se de uma relação de inversão entre o real e a representação de modo que o primeiro passa a obedecer a cibernética dos códigos. Essa liberdade do signo em relação ao seu objeto referente devido a certa disponibilidade natural da mente em se apartar do objeto observado por meio de processos cognitivos e imaginativos, mas também orientado intencionalmente pela ideologia e seus desenvolvimentos técnicos e tecnológicos é um dos fatores que não permite ao signo proporcionar familiaridade ou reconhecimento total do objeto que representa, apesar de influenciá-lo e criar realidades ou simulacros independentes. O signo não é menos nem mais real ou irreal que seu objeto, mas é ele próprio uma existência lançada à experiência material do sujeito humano. A experiência humana do signo constitui um campo de experimentações peculiar de codificação e decodificação em suas próprias condições de existência.
Observamos uma distinção não-dicotômica entre dois planos da vivência humana que desde os primeiros contatos coloniais designam a realidade indígena e a não-indígena relativa ao conhecimento construído uma em relação à outra: a vivência in loco e a vivência mediada por textos. Ambas as vivências envolvem ainda um terceiro elemento, o sujeito ou a mente. De modo colateral, seguir por essa trilha pode significar enfrentar o desafio de contrapor os conceitos de real e de representação, embora não seja nossa intenção. Consideramos os dois planos de vivência como duas superfícies de convivência e interação do sujeito em relação à codificação dos objetos em relação aos signos.
O indígena em relação ao não-indígena, e esse em relação àquele, instituem suas relações como mediadas por signos diversos, acerca dos quais ora notamos a hegemonia de um, ora a dominância de outro referente ao exercício da codificação da realidade no campo da alteridade humana, na medida em que a escrita favorece que a experiência do código chegue antes da experiência in loco com o objeto ou outros sujeitos. A escrita prenuncia um acontecimento, tem um caráter de aviso; sendo seu exemplo mais emblemático a carta que, além de comunicar um referente, também comunica a si mesma no mesmo instante que gera uma experiência imprevista devido ao contexto receptivo encontrado em sua chegada, lembrando a participação do destinatário na construção da mensagem.
            O artigo completo está em: www.politicasculturaisemrevista.ufba.br

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CRONOGRAMA e LEITURAS PARA 19/10

Pessoal, enviei o cronograma da disciplina por e-mail. Para a aula de 19/10 os textos indicados (serão enviados semana que vem por e-mail) são:

STENHOUSE, L. La investigación como base de la enseñanza. 2.ed. Madrid: Morata, 1993. (primeira parte)
GOMES-DA-SILVA, E.   A construção metodológica. In:______. Movimento e educação infantil: uma pesquisa-ação na perspectiva semiótica. 2012.Tese ( Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Cap.2, p. 51 a 59.

No período da parte teremos a presença da Profa.  Dra. Eliane Gomes da Silva, que apresentará sua tese, fundamentada na semiótica peirciana e que se valeu de princípios da pesquisa-ação.

MAURO BETTI

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sugestão de vídeos

Ola Pessoal
Estudando os textos da próxima aula (28/9) senti a necessidade de buscar algo que ilustrasse a filosofia e as ideias de John Dewey para a educação. Encontrei uns vídeos da UNIVESP TV sobre um colégio  na cidade de Paulínia que busca trabalhar com os princípios do autor. O programa 2 também vai contar suscintamente como a filosofia de John Dewey influenciou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Vale a pena dar uma olhada:
http://www.youtube.com/watch?v=KKE_rO9cdm4

http://www.youtube.com/watch?v=LQmZre8TBls&feature=relmfu

Bons estudos a todos!

Semiótica Peirceana - Vídeo

olá, colegas,
segue vídeo (são vários em sequência) com apresentação do pensamento de Peirce, realizado pelo Prof. Dr. Júlio Pinto;
além do material que já temos, achei interessante para obter uma ideia ainda mais geral sobre o pragmaticismo/semiótica:
Videoconferência sobre Semiótica Peirceana

domingo, 23 de setembro de 2012

A APRENDIZAGEM SOB O PONTO DE VISTA DA SEMIÓTICA DE PEIRCE E DA NEUROCIÊNCIAS

         
            Os textos propostos para a primeira aula, tenho que confessar, me surpreenderam, uma vez que nunca havia tido a oportunidade de estudar Peirce. Apesar da leitura não ter sido fácil, suas informações e a discussão realizada na aula, me conduziram à reflexão da minha experiência profissional e o conteúdo abordado.
            Ao pensar em minha formação (Fonoaudiologia), pude observar que envolve uma semiótica que está mais relacionada com as ideias de Peirce em virtude de ser uma área que lida com a Comunicação Humana (seja verbal ou não verbal), é o estudo de todo processo de aquisição, desenvolvimento e abrangência da linguagem (nela estão inseridos a língua e o código), as habilidades fonológica, semântica, sintática e pragmática, bem como da semiótica estruturalista por ter como objeto de estudo a fonética no que se refere a articulação dos fonemas (Saussure).
            Há quase dez anos atuando na educação junto a equipe de apoio especializado à inclusão, cotidianamente as angústias reais da escola são compartilhadas conosco. Assim, posso dizer que existem muitos “entraves” que interferem no processo de ensino-aprendizagem, o que não vou ater a descrevê-los porque fugirei do contexto a ser discutido.
            Deste modo, com a leitura do texto “Fixação de Crenças”  de Peirce (1972) me reportei a algumas falas do grupo de educadores (professores, gestor, coordenador e/ou orientador pedagógico) e pude notar que alguns apresentam dificuldades de saírem da posição de crença para a dúvida. Talvez isso seja um dos principais fatores que dificultam desviar o foco destes profissionais para outras variáveis que atuam diretamente no processo de aprendizagem do aluno. Outro ponto importante, é que existem muitos profissionais que realizam a formação de professores e compartilham da mesma crença fortalecendo-a ainda mais.
Neste cenário, uma das crenças principais é inferir que o motivo do “não aprender” decorre de algum problema que a criança tem, focando o fracasso como sendo exclusivamente um comprometimento biológico e que a morosidade em se obter um diagnóstico aumenta ainda mais a defasagem.
            Discorrer a respeito da aprendizagem, propiciaria páginas e páginas, já que se trata de um processo complexo. Vou direcionar o foco a definição de aprendizagem proposta pela perspectiva semiótica de Peirce, na qual pude observar que existe uma semelhança com a da neurociência ao considerar a aprendizagem como um processo de aquisição de conceitos e de modificação de condutas. Desta forma, posso também referir que todo esse processo é o resultado do que somos, fazemos, pensamos e desejamos por meio do funcionamento do sistema nervoso e de sua interação com o corpo, isto é, com a história de vida de cada indivíduo[1] considerando os aspectos biológico, ambiental, emocional, socioeconômico e cultural.
No intuito de fazer valer essa relação entre semiologia e neurociências encontrei uma entrevista[2] de Damásio (2012), em que refere que a neurociências está empenhada em resolver questões nas quais os filósofos há séculos se dedicam. Além de que, alguns filósofos podem ser apontados como precursores da atual neurociências, já que muitas de suas teorias estão sendo testadas com o avanço dos estudos desta área.
Um dos aspectos relevantes citados por este neurocientista e que considero relevante deixar registrado é que, por ser uma área que está ganhando espaço de discussão, muitos estão tendo uma visão simplista do funcionamento cerebral e pontua que tal reducionismo traz riscos, principalmente quando envolve a medicalização, referindo que esta não é a única solução e acrescento aqui, o meu ponto de vista sobre os falsos diagnósticos, considerando o grande percentual de crianças disléxicas, TDAH entre outros.
O autor  salienta, ainda,  que existem muitas variáveis que se relacionam com o desenvolvimento cerebral como afetividade, relacionamento interpessoal, política, economia entre outros e ao considerar essa premissa, posso dizer que os mesmos estão envolvidos na aprendizagem.
Deste modo, ao reportar para o contexto de aprendizagem em sala de aula, podemos dizer que o processo da semiose ocorre continuamente e construir um signo dependerá das experiências pessoais do aluno como também de um mediador (professor) que auxilie na relação interpretante. O que condiz com o ponto de vista de Freire (2001), em que aponta a importância de se considerar os saberes, as experiências dos alunos associando sua realidade concreta ao ensino da disciplina, já que acredita que o entendimento é adquirido por meio da co-participação envolvendo um  processo dialógico e, portanto, que torna  possível que o processo de semiose ocorra constantemente permitindo uma mudança de conduta.
            Diante de toda complexidade que a aprendizagem envolve, finalizo pontuando a metáfora de que “uma andorinha só não faz verão”. Portanto, subentendo que torna-se fundamental uma equipe interdisciplinar (fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos entre outros) na educação atuando na formação de professores, gestor  e orientador/coordenador pedagógico, bem como na busca conjunta de alternativas para auxiliar a criança no processo de ensino-aprendizagem (CIASCA, 2010).
<!--[if !supportFootnotes]-->

[1] Artigo disponível no site http://www.cerebronosso.bio.br/guia-bsico-de-neurociencia.