domingo, 23 de setembro de 2012

A APRENDIZAGEM SOB O PONTO DE VISTA DA SEMIÓTICA DE PEIRCE E DA NEUROCIÊNCIAS

         
            Os textos propostos para a primeira aula, tenho que confessar, me surpreenderam, uma vez que nunca havia tido a oportunidade de estudar Peirce. Apesar da leitura não ter sido fácil, suas informações e a discussão realizada na aula, me conduziram à reflexão da minha experiência profissional e o conteúdo abordado.
            Ao pensar em minha formação (Fonoaudiologia), pude observar que envolve uma semiótica que está mais relacionada com as ideias de Peirce em virtude de ser uma área que lida com a Comunicação Humana (seja verbal ou não verbal), é o estudo de todo processo de aquisição, desenvolvimento e abrangência da linguagem (nela estão inseridos a língua e o código), as habilidades fonológica, semântica, sintática e pragmática, bem como da semiótica estruturalista por ter como objeto de estudo a fonética no que se refere a articulação dos fonemas (Saussure).
            Há quase dez anos atuando na educação junto a equipe de apoio especializado à inclusão, cotidianamente as angústias reais da escola são compartilhadas conosco. Assim, posso dizer que existem muitos “entraves” que interferem no processo de ensino-aprendizagem, o que não vou ater a descrevê-los porque fugirei do contexto a ser discutido.
            Deste modo, com a leitura do texto “Fixação de Crenças”  de Peirce (1972) me reportei a algumas falas do grupo de educadores (professores, gestor, coordenador e/ou orientador pedagógico) e pude notar que alguns apresentam dificuldades de saírem da posição de crença para a dúvida. Talvez isso seja um dos principais fatores que dificultam desviar o foco destes profissionais para outras variáveis que atuam diretamente no processo de aprendizagem do aluno. Outro ponto importante, é que existem muitos profissionais que realizam a formação de professores e compartilham da mesma crença fortalecendo-a ainda mais.
Neste cenário, uma das crenças principais é inferir que o motivo do “não aprender” decorre de algum problema que a criança tem, focando o fracasso como sendo exclusivamente um comprometimento biológico e que a morosidade em se obter um diagnóstico aumenta ainda mais a defasagem.
            Discorrer a respeito da aprendizagem, propiciaria páginas e páginas, já que se trata de um processo complexo. Vou direcionar o foco a definição de aprendizagem proposta pela perspectiva semiótica de Peirce, na qual pude observar que existe uma semelhança com a da neurociência ao considerar a aprendizagem como um processo de aquisição de conceitos e de modificação de condutas. Desta forma, posso também referir que todo esse processo é o resultado do que somos, fazemos, pensamos e desejamos por meio do funcionamento do sistema nervoso e de sua interação com o corpo, isto é, com a história de vida de cada indivíduo[1] considerando os aspectos biológico, ambiental, emocional, socioeconômico e cultural.
No intuito de fazer valer essa relação entre semiologia e neurociências encontrei uma entrevista[2] de Damásio (2012), em que refere que a neurociências está empenhada em resolver questões nas quais os filósofos há séculos se dedicam. Além de que, alguns filósofos podem ser apontados como precursores da atual neurociências, já que muitas de suas teorias estão sendo testadas com o avanço dos estudos desta área.
Um dos aspectos relevantes citados por este neurocientista e que considero relevante deixar registrado é que, por ser uma área que está ganhando espaço de discussão, muitos estão tendo uma visão simplista do funcionamento cerebral e pontua que tal reducionismo traz riscos, principalmente quando envolve a medicalização, referindo que esta não é a única solução e acrescento aqui, o meu ponto de vista sobre os falsos diagnósticos, considerando o grande percentual de crianças disléxicas, TDAH entre outros.
O autor  salienta, ainda,  que existem muitas variáveis que se relacionam com o desenvolvimento cerebral como afetividade, relacionamento interpessoal, política, economia entre outros e ao considerar essa premissa, posso dizer que os mesmos estão envolvidos na aprendizagem.
Deste modo, ao reportar para o contexto de aprendizagem em sala de aula, podemos dizer que o processo da semiose ocorre continuamente e construir um signo dependerá das experiências pessoais do aluno como também de um mediador (professor) que auxilie na relação interpretante. O que condiz com o ponto de vista de Freire (2001), em que aponta a importância de se considerar os saberes, as experiências dos alunos associando sua realidade concreta ao ensino da disciplina, já que acredita que o entendimento é adquirido por meio da co-participação envolvendo um  processo dialógico e, portanto, que torna  possível que o processo de semiose ocorra constantemente permitindo uma mudança de conduta.
            Diante de toda complexidade que a aprendizagem envolve, finalizo pontuando a metáfora de que “uma andorinha só não faz verão”. Portanto, subentendo que torna-se fundamental uma equipe interdisciplinar (fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos entre outros) na educação atuando na formação de professores, gestor  e orientador/coordenador pedagógico, bem como na busca conjunta de alternativas para auxiliar a criança no processo de ensino-aprendizagem (CIASCA, 2010).
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[1] Artigo disponível no site http://www.cerebronosso.bio.br/guia-bsico-de-neurociencia.

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