quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A PESQUISA-AÇÃO NO PROCESSO PEDAGÓGICO
Maria Ângela O. S. Rubini
A pesquisa-ação foi criada por Kurt Lewin na década de 40, inicialmente num contexto de pós-guerra, as primeiras pesquisas foram desenvolvidas para o governo norte-americano, com o objetivo de provocar mudanças em dois aspectos: nos hábitos alimentares dos cidadãos e na mudança de atitudes com relação à intolerância aos grupos étnicos minoritários.
A partir da década de 50, a ciência surge como uma prática social de conhecimento, e a pesquisa-ação pelo caráter investigativo que se desenvolve com a participação e convivência, distancia-se da concepção de ciência tradicional, concebida por métodos rigorosos e aparentemente neutros.
No Brasil, após a segunda guerra mundial, os movimentos sociais se valeram da pesquisa-ação como uma estratégia de emancipação política. A educação popular, concebida por Paulo Freire, inspirou pesquisadores no trabalho de uma pedagogia cujo ponto crucial, era a militância política na luta por uma sociedade menos desigual. Tal concepção tinha como proposta, um trabalho pautado no diálogo e na valorização da cultura popular, que possibilitasse uma educação emancipatória dos marginalizados e excluídos.
Na década de 60, durante a Campanha Nacional de Alfabetização, grupos excluídos das periferias, do campo, regiões ribeirinhas, e outros, foram alfabetizados, por voluntários que através das diferentes formas de arte, problematizaram o exercício de cidadania, tendo como objetivo atingir a alfabetização dos cidadãos, através do fortalecimento do diálogo capacitando-os para a participação social e política, encaminhando-os à emancipação. 

                                              As múltiplas formas de concretização da educação popular concebidas no quadro teórico         daquilo que se chamou de educação libertadora, têm em comum o desenvolvimento de ações investigativas coletivas que visam a aquisição de conhecimentos concebidos como emancipatórios. (Costa, 1998, p.4)

Podemos entender que tal metodologia envolve pesquisador e pesquisados, numa relação de comunicação dialógica que permeia todo o processo, desde as primeiras ações até os resultados obtidos, gerando uma cumplicidade coletiva, na medida em que se aprofunda na interpretação e compreensão do conhecimento. Ao professor é necessário a consciência de que a comunicação na contemporaneidade é dinâmica, os conceitos e paradigmas estão em constante mudança, o papel do professor detentor e transmissor do saber históricamente acumulado pela humanidade e o aluno como receptor passivo, dá lugar a uma relação em que ambos são pesquisadores e construtores desse novo conhecimento. Segundo Silva (pg 36, 2012):   

                                               Referimo-nos, sim, à possibilidade de facultar aos professores e crianças/alunos a condição     de investigadores do processo de ensino e aprendizagem.
                                        Nesse entendimento, o professor é investigador de sua própria ação (e aprendizado), e as      crianças/alunos, investigadores de seus próprios aprendizados, na condição de serem elas    próprios responsáveis por significar e dar sentido às suas experiências.  

Na pesquisa-ação, espera-se a disponibilidade e cooperação de todos os protagonistas, no entanto, é preciso que o pesquisador perceba que estará entrando num grupo em que de alguma maneira, já possui uma dinâmica própria, e ele é um sujeito de fora desse contexto. Segundo Franco (2005), “há que se ter um “aquecimento coletivo” que anteceda o trabalho de pesquisa propriamente dito”. Essa ação consiste em articular a entrada do pesquisador no grupo, num clima caloroso, de camaradagem, de confiança, para que se instale entre todos, a cooperação profissional.
Usando a estratégia comunicativa que emerge do diálogo entre a equipe, os acordos vão sendo mediados pela postura colaborativa e mansa de um profissional cauteloso de seu papel, que sabe passar de pesquisador a participante colocando-se como colaborador do grupo, ao mesmo tempo em que disponibiliza á escola, os saberes da universidade.
A pesquisa-ação provoca transformações na reconstrução de novos saberes e os sujeitos vão se apropriando desses conhecimentos ressignificando seus valores, suas práticas, se constituindo como investigadores, encontrando respostas para os novos desafios.

REFERÊNCIAS:
FRANCO, M. A. S. Pedagogia da Pesquisa-Ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p. 483-502, set/dez, 2005.

GOMES DA SILVA, E. Movimento e educação-infantil: uma pesquisa-ação na perspectiva semiótica. 2012. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2012.

SILVA, L. H. (Org) A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis, Vozes, 1998.
COSTA, M. V. A Pesquisa-Ação na Sala de Aula e o Processo da Significação. V Seminário Internacional da SMED/POA – 1998, 239 p.




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