quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O Saber-Objeto na Perspectiva de Charlot e Dewey



O Saber-Objeto na Perspectiva de Charlot e Dewey

Sidnei de Oliveira Sousa

Aprender é uma característica inerente ao ser humano, seja do ponto de vista biológico como defende Piaget (1973, p. 120) em seu livro “Biologia e Conhecimento” ou do ponto de vista mais formal da aquisição de conteúdo intelectual. Nesse âmbito, Charlot (2000, p. 65) sugere que o aprender como um saber-objeto é uma das figuras ou sentido que se da ao ato de aprender e que por essa razão há que se ter bastante claro qual o significado que alunos e professores conferem ao ato de aprender em um ambiente escolar.
Dewey (1959, p. 199) diz que a ação do educador se concentra em modificar os estímulos ou as situações para que os alunos possam desenvolver atitudes intelectuais e sentimentais, mas deixa claro também que o conteúdo de estudo deve ser considerado ao propor essas situações. Charlot (2000, p. 67) partilha da visão de Dewey ao dizer que aprender é exercer uma atividade em situação, ou seja, em um local, um momento histórico e com a ajuda de pessoas que ajudam a aprender.
Assim, outro ponto chave diz respeito ao meio social para significar os hábitos formados, uma vez que o conteúdo de estudo da educação não formal encontra-se na matriz da própria relação do individuo com seu meio social. Esse fato deve ser norteador das ações na educação formal (DEWEY, 1959, p. 199).
Nesse sentido, Dewey (1959, 200) observa que na medida em que um grupo social se torna mais complexo, enriquecido com habilidades ou aprendizagens adquiridas, o conteúdo da vida social vai se transformando em conteúdos de ensino a serem transmitidos para os mais jovens com o objetivo de perpetuar a vida do referido grupo social. E a invenção da escrita e da prensa permitiu um imenso impulso nesse sentido. A seleção, formulação e organização dos conteúdos com o intuito de ensino nas escolas muitas vezes encobrem a ligação que existe com os hábitos e ideias do grupo social, como se o estudo de tais conteúdos representasse conhecimentos válidos por si mesmos, independente de qualquer relação com os valores sociais.
Toda relação com o saber apresenta uma dimensão epistêmica, mas também uma dimensão de identidade que passa pela construção de si mesmo e de sua imagem. A sociedade moderna tende impor a figura do saber-objeto (sucesso escolar) como uma passagem obrigatória para se tornar “alguém” no grupo social (CHARLOT, 2000, p. 72). Dessa forma, a problemática que se apresenta é trazer para a educação formal o elo entre conteúdo e vida social que foi perdido na organização do conteúdo socialmente construído e a partir desse elo tornar a aula interessante. Pois como ressalta Charlot (2000, p. 73), uma aula interessante é aquela em que se estabeleça uma relação com o mundo, consigo mesmo e com o outro. Nessa direção, Dewey (1959, p. 203) ressalta que,

O problema do ensino é conservar a experiência do educando a envolver em direção àquilo que o experiente, o culto, o especialista já sabe. Daí a necessidade de que o professor conheça tanto a matéria como as necessidades e capacidades características do estudante.


Referências

CHARLOT, Bernard. Da Relação com o Saber: Elementos para uma teoria.  Porto Alegre: Artmed, 2000.

DEWEY, John. Democracia e Educação: introdução à filosofia da educação. Tradução por Godofredo Rangel, Anísio Teixeira. 3. ed. São Paulo: Nacional, 1959.

PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento: Ensaio sobre as relações entre as regulações orgânicas e os processos cognoscitivos. Petrópolis: Editora Vozes, 1973.

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