sábado, 30 de agosto de 2014

A relação epistêmica com o saber de Charlot e os saberes necessários à pratica educativa de Paulo Freire

O sujeito para apropriar-se do mundo precisa aprender. A questão do aprender é muito mais ampla que a do saber. No entanto, vamos refletir sobre a questão do saber e sua relação epistêmica tentando estabelecer relações com os saberes necessários à pratica educativa de Paulo Freire (1996).
Para Charlot (2000, p. 68) há três formas de relação epistêmica com o saber. Aprender é passar da não pose a posse, da identificação de um saber virtual à sua apropriação real. Aprender pode ser também dominar uma atividade, ou capacitar-se a utilizar um objeto de forma pertinente. Passar do não domínio ao domínio de uma atividade.
Aprender significa ainda, entrar em um dispositivo relacional, apropriar-se de uma forma intersubjetiva, garantir um controle de seu desenvolvimento pessoal, construir-se de maneira reflexiva uma imagem de si mesmo.
Dessa forma, Charlot (2000, p. 68) esclarece que uma relação epistêmica “é a relação com um saber-objeto” e explica que na relação objetivação-denominação há “um saber-objeto e um sujeito consciente de ter-se apropriado de tal saber”.
Na relação epistêmica de imbricação do eu para Charlot (2000, p. 69) há uma relação entre o sujeito e o mundo, em que “o aprender é o domínio de uma atividade”.
Quando o sujeito regula a relação com o saber, temos o processo denominado por Charlot (2000, p. 70) de distanciação-regulação, em explica que o sujeito “[...] como sistema de condutas relacionais, como conjunto de processos psíquicos implementados nas relações com os outros e consigo mesmo”.
As explicações de Charlot (2000, p. 71) conduzem as reflexões a cerca da prática educativa e as relações com o saber que os professores estão envolvidos no seu cotidiano escolar, na sua relação com o mundo e com seus alunos, uma vez que explicita que a relação com o saber é construída.
Desse modo, não há como deixar de mencionar a importância da formação de professores, pois é na formação inicial que estes deveriam construir seus saberes a cerca da profissão a ser desempenhada.
A formação dos professores teria que contribuir para o estabelecimento de relações epistêmicas com o saber, tanto do ponto de vista dos saberes dos próprios professores, quanto de seus alunos. Como também contribuir para que considerassem os três tipos de saberes necessários a prática educativa apontados por Freire (1996).
Freire (1996, p. 25) aponta como um saber necessário que “Não há docência sem discência”, em que “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina ensina alguma coisa a alguém”. Está presente uma relação de abertura entre quem ensina e quem aprende, pois ambos aprendem nesse processo.
Com relação ao “Ensinar não é transmitir conhecimentos”, Freire (1996, p. 52) explica que é preciso muito mais, uma vez que é essencial “[...] criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Nesse ponto há uma visível concordância entre Freire e Charlot quanto a necessidade de construção dos conhecimentos pelos professores e pelos alunos.
Quanto ao “Ensinar é uma especificidade humana” Freire (1996, p.102)  relaciona com a autoridade docente democrática e afirma que “[...] deve revelar em suas relações com as liberdades dos alunos é a segurança em si mesma”. Verificamos que há uma articulação entre autoridade e sabedoria.
Diante de tantas reflexões propomos que a formação dos professores considere os três tipos de saberes necessários a prática educativa: Não há docência sem discência, ensinar não é transferir conhecimentos e ensinar é uma especificidade humana. Além disso, precisamos considerar as três formas de relação epistêmica com o saber: objetivação-denominação, imbricação do eu, distanciação-regulação propostas por Charlot (2000) para o estabelecimento de uma relação epistêmica com o saber e a construção dos saberes pelos professores e alunos na prática educativa.

Referência Bibliográfica:
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed,
2000.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.


Rosangela Aparecida Galdi da Silva

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