segunda-feira, 7 de julho de 2014

Relações entre a semiótica de Peirce e a pesquisa-ação



Durante as aulas, além das leituras sobre a semiótica, também tivemos a oportunidade de estudar a pesquisa-ação e relacionar os dois temas.

Assim, nesta postagem, pretendo trazer alguns pontos para reflexão, entre a semiótica de Peirce e a pesquisa-ação.

De acordo com Gomes da Silva (2012), a pesquisa-ação tem sua origem na década de 1960, quando os acadêmicos tentaram suprir as lacunas entre o ensino e a pesquisa e o problema entre a teoria e a prática; ou seja, minimizar as diferenças entre professor e pesquisador.

Franco (2005) pontua que a pesquisa-ação tem sido utilizada de diversas maneiras nas últimas décadas, passando a compor, assim, um mosaico de várias abordagens teórico-metodológicas.

Franco (2005) e Gomes da Silva (2012, citando André, 1995) esclarecem que a pesquisa-ação se pauta em conseguir mudanças em atitudes e comportamentos, ou seja, a mudança de conduta. De acordo com Franco (2005, p. 486), “a pesquisa-ação deve partir de uma situação social concreta a modificar e, mais do que isso, deve se inspirar constantemente nas transformações e nos elementos novos que surgem durante o processo e sob a influência da pesquisa”. A mudança na prática docente, por exemplo, seria possível a partir da mudança de conduta, acompanhada por um processo de pesquisa, de investigação sistemática e autocrítica, como define Stenhouse (1993).

Stenhouse esclarece a importância de se conhecer a realidade para transformar, para produzir transformações de sentido. A prática é o objeto da pesquisa, e esta é realizada com os professores e não sobre os professores.

Uma frase que me chamou a atenção é a epígrafe do capítulo 2 da tese de Gomes e Silva (2012): “Eu tô cansada de trabalhar com a criança de papel”. A frase, fala de uma professora participante da pesquisa, relaciona-se ao que pontua Stenhouse: é preciso conhecer a prática e atuar sobre ela para que haja transformação. A partir dessa prática pode-se testar e verificar teorias, formular novas e promover a generalização. Não é porque uma teoria funcionou num contexto x que irá funcionar da mesma forma no contexto y. A participante critica isso: o fato do pesquisador ir até a sala de aula, observar e colocar a criança no papel, para depois estudar e fazer generalizações, teorias.

Franco (2005) afirma que há vários pontos a serem contemplados na investigação sobre a prática educativa, e destaco alguns deles: a ação conjunta entre pesquisador e pesquisado; a emancipação e o desenvolvimento dos sujeitos da ação; a realização da pesquisa no local em que se dá a ação. Tal afirmação corrobora o pensamento de Stenhouse (1993), que diz que a investigação educativa é aquela realizada no conteto de um projeto educativo e enriquecedora deste – a sala de aula seria, então, o laboratório.

Para fechar, trago um excerto da tese de Gomes e Silva (2012), em que a autora traça pontos convergentes entre a semiótica de Peirce e o pensamento de Stenhouse, no que diz respeito à investigação como base do ensino:

“São pontos especialmente convergentes com a leitura do pensamento de Peirce e de Stenhouse: o currículo e os objetivos de ensino como hipotéticos; a educação como processo sem meta final; a dúvida como geradora da investigação e do ensino (pois o que é evidente deles não precisa); o conhecimento deve ser discutível  para que possa ser comprovado (pois o indiscutível é incomprovável); a rejeição da autoridade, da tradição e da opinião admitida na busca do conhecimento; a investigação como apreensão da experiência; o empreendimento científico como empreendimento público, crítico e autocrítico; o entendimento de que as generalizações devem ser testadas (e não “aplicadas”) em casos individuais – portanto, as teorias são hipotéticas; e que a investigação deve gerar implicações para a prática futura.”

Referências

FRANCO, M. A. S. Pedagogia da Pesquisa-Ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 482-502, set./dez., 2005.

GOMES DA SILVA, E.   Movimento e educação infantil: uma pesquisa-ação na perspectiva semiótica. 2012. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2012.


STENHOUSE, L. La investigación como base de la enseñanza. Madrid: Morata, 1993. 

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