terça-feira, 29 de julho de 2014

Como tratar a relação com o saber?

            Como tratar a relação com o saber?  É com este questionamento, tomando como base as discussões realizadas nos capítulos 4, 5 e 6 do livro “Da Relação com o Saber: elementos para uma teoria”, de Bernard Charlot, que proponho algumas reflexões neste espaço.
             Para compreendermos a relação com o saber, Charlot (2000) apresenta algumas discussões de J.M. Monteil (1985), que diferencia a informação, o conhecimento e o saber. De acordo com Monteil (1985 apud CHARLOT, 2000, p. 61)


A informação é um dado exterior ao sujeito, pode ser armazenada, estocada, inclusive em um banco de dados; está “sob a primazia da objetividade”. O conhecimento é o resultado de uma experiência pessoal ligada à atividade de um sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas; como tal, é intransmissível, está “sob a primazia da subjetividade”. Assim como a informação, o saber está “sob a primazia da objetividade”, mas é uma informação de que o sujeito se apropria. [...] O saber é produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos, é construído em quadros metodológicos. [...]


            Como docentes, muitas vezes não nos preocupamos com a diferenciação apresentada por Monteil (1985) em nosso trabalho na sala de aula, colocando em segundo plano o que a objetividade e a subjetividade apresentam.
             Fazemos parte de um sistema educacional repleto de normas, currículos, leis, diretrizes, parâmetros e o que nos motiva a ensinar e a trabalhar com os alunos é cumprir tudo o que nos é “sugerido” por esse sistema e receber um “pró-labore” por esse trabalho; por muitos momentos, esquecer-se da relação que temos com o saber e o nosso papel como motivadores desse relacionamento é o que nos resta.
          Como consequência desta ação docente, muitos alunos hoje se limitam a um contato com informações presentes em bancos de dados da internet, em livros didáticos fornecidos pelos sistemas educacionais ou por listas de exercícios para vestibulares, enquanto as experiências pessoais possibilitadas pelo conhecimento e pelo saber deixam de acontecer ou, se acontecem, são em casos bem isolados.
            As relações com o saber são essenciais para nosso crescimento enquanto seres pensantes e atuantes em uma sociedade. Deste modo, adquirimos o saber não somente no que nos é apresentado nos livros e nas aulas em um contexto escolar, mas também nas relações que fazemos destes saberes com a nossa vida e com as experiências que esses nos possibilitam.
           Como indivíduos pensantes, é necessário o estabelecimento de relações com os vários tipos de saber, conforme aponta Charlot (2000, p. 62): “[...] prático, teórico, processual, científico, profissional, operatório, etc.”. Por muitos momentos, destinamos nossos relacionamentos com o saber por meio de uma vertente, seja ele um saber prático, um saber teórico, saber científico, entre outros; no entanto, por mais que as relações sejam direcionadas a um segmento (teórico, científico, prático), o saber sempre possui uma relação com o mundo e com o indivíduo que estabelece contato com ele.
        Em nosso contexto educacional, torna-se essencial diferenciarmos com nossos alunos o que a informação, o conhecimento e o saber apresentam particularmente, para que nossas relações com o saber possam ser momentos de aprendizagem e de contato com o mundo, consigo mesmo e com os outros. A fragmentação desses elementos não colabora com a qualidade das relações que são almejadas por meio do saber, para que como Charlot (2000) afirma, não aconteça um “acúmulo de conteúdos intelectuais”, mas sim, a percepção do papel que a informação, o conhecimento e o saberes possuem na formação dos indivíduos.
            Não cabe a esta intervenção trazer respostas prontas ao questionamento inicial, contudo, colaborar com as reflexões iniciadas por Charlot (2000) e expandir as ideias a respeito das relações com o saber foi o que me motivou até aqui. E que venham outras reflexões, pois o debate está apenas começando...

Natália Teixeira Ananias Freitas
Doutorado em Educação

Referência Bibliográfica
CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: ARTMED, 2000, p.51-89.
             


            

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