Experiência em Educação Matemática para
professores indígenas em Roraima: comentários e reflexões
Elena C. Fioretti
A Educação se considerada como processo em que
um fluxo em movimento a interconecta em seus múltiplos fatores, então a
aprendizagem enquanto parte integrante e indissociada da educação seja ela
qualquer e em sentido amplo é também um processo e não um produto na acepção de
acabado, uma vez que promove a co-participação interagida entre um mundo físico
com uma comunidade “dentro da qual se encontra o sujeito”(Merrel,2004,
p.37), dessa aprendizagem.
Floyd Merrell (2004),
no texto “A prática do Pragmatismo: aprender vivendo, viver aprendendo”, discorre
compreender que a aprendizagem é uma questão de interdependência,
inter-relacionalidade e interatividade.
Ao levantar essa questão, Merrell destaca que a experiência deve ser
pensada não como algo externo (empirismo) mas compreender que “o aspecto vital
e comum da experiência humana é o processo de perceber, conceber e aprender os
fenômenos”, isto é, da vivencia criamos sentido e significados internos e
externos e experimentamos a realidade a partir do movimento de resignificação.
Merrel aponta que
no sentido de novas experiências não somos autônomos, mas que existe um
movimento, ou um fluxo em processo de totalidade interconectado e interativo,
ou seja, não é possível nos dar a ilusão de que nossas generalidades são
suficientes e completas como nas abordagens conservadoras apresentadas por
Peirce quando se refere aos métodos da tenacidade e da autoridade.
E
Peirce em “Semiótica e Filosofia”(1972), com o intuito de discutir a Lógica
enquanto método, ou apresentando como outra denominação de Semiótica, “formal
doutrina dos signos”(p.93), versa sobre o papel da dúvida como motivadora do
espírito para refletir a respeito de determinadas crenças. Ao definir a Lógica
(Semiótica) como método científico, por abstração “somo levados a enunciados
eminentemente falíveis e (...) relativamente ao que devem se os caracteres de
todos os signos, empregados por uma inteligência ‘científica’, isto é, por uma inteligência
capaz de aprender com base na experiência”(Peirce, 1972, p.93).
A partir das apreensões essencialmente desses
autores, sendo Merrel estudioso do pensamento de Peirce e como exercício
discente, nos foi proposto pelo Professor Dr. Mauro Betti, da Disciplina “Entre
os saberes docentes e os aprenderes discentes: questões teóricas e
metodológicas” relatar uma experiência que pudesse ao tempo de repensar uma
prática pedagógica oportunizasse refletir sobre as questões apresentadas pelos
autores.
A experiência em si consiste
em promover o exercício da vivencia enquanto professora da disciplina de
“Etnomatemática” para alunos de três etnias indígenas que habitam em Roraima em
processo de formação no Curso de Magistério promovido pela Secretaria Estadual
de Educação. O curso de formação continuada para professores indígenas em
exercício da atividade docente buscava a tentativa de enquadrá-los em efetiva
função laboral já que atuavam como professores leigos ministrando aulas para
alunos das escolas regulares instaladas nas comunidades indígenas de suas
etnias respectivamente.
Mais que um breve
relato de uma singela experiência esse exercício de vivencia possibilitou
repensar essa prática recorrente para indígenas professores que buscam o
necessitam dessas formas de profissionalização ou de aperfeiçoamento
profissional.
Ao relato então: em
principio estranhei a nominação da disciplina que deveria ministrar: “Etnomatemática”.
Ao observar a ementa da disciplina que me foi ofertada deparei com um conteúdo
absolutamente relacionado a “Matemática” que podemos considerar ou já convencionada
como “universal”e de “Etno” não havia nada. Como tratar desses conteúdos e discutir
metodologias e didáticas se, em muitas situações, a linguagem, os elementos
simbólicos e suas “fórmulas” não lhes diziam respeito ou sentido ou apenas
aceitavam como verdadeiras mediante as imposições que o Sistema Educacional imprimem?
Como estratégia iniciei
com a apresentação dos conceitos matemáticos mediante a história e seus precursores
a fim de contextualizar e de promover alguma relação com o que esta definido
nos conteúdos mínimos obrigatórios da disciplina e que seriam objeto de suas
atividades docentes. Em contra partida, na expectativa de discutir e valorizar
as diferentes formas de organizar o raciocínio lógico, considerando uma possível
interatividade entre as diferentes etnias presentes, várias atividades foram
sugeridas e dentre elas a apresentação de jogos e brinquedos de desafio –
quebra cabeça, a partir das criações e práticas oriundas de suas comunidades. O
resultado foi a elaboração, apresentação e troca entre os participantes de
conjunto de peças que demonstraram algumas formas que são usadas para o
desenvolvimento do raciocínio lógico pelas diferentes etnias. A expectativa foi
alcançada, pois os conteúdos exigidos no curso foram desenvolvidos. Ao longo
das aulas pudemos pensar no que seria uma abordagem “etnomatemática” e como os
professores poderiam explorar além dos conteúdos existentes nas grades curriculares
consideradas necessárias para o aprendizados dos alunos regularmente
matriculados nas escolas oficiais, como aspectos da forma, organização e habilidades
desenvolvidas para as situações que envolvem cálculos, medidas, calendários, proporções,
etc. E assim pude experimentar uma situação
pedagógica enriquecedora mas questionando a condição dos conteúdos das
disciplinas para a Educação Indígena estavam ( e ainda estão) concentrados nos
mesmos que são adotados para as escolas não indígenas.
Ao apresentar esse
relato de experiência e manifestando esse questionamento acerca dos conteúdos
que não são diferenciados para as diversas modalidades de educação ofertada aos
distintos grupos sócio culturais, pude refletir, a partir das considerações do
Professor Mauro Betti, da Disciplina “Entre os saberes docentes e os aprenderes
discentes: questões teóricas e metodológicas”, sobre seu posicionamento que
compreende que a necessidade da adoção dos mesmos conteúdos para os alunos das comunidades indígenas esta também
na oportunidade de esses povos se apropriarem e se apoderarem dos saberes da
sociedade que via de regra impõe seu modo de vida. É uma outra forma de
observar e aprender sobre uma situação
(ou fenômeno) sem que se desprenda do entendimento que a “aprendizagem é uma
questão de interdependência, inter-relacionalidade e interatividade” considerando
que “o aspecto vital e comum da experiência humana é o processo de perceber,
conceber e aprender os fenômenos”, conforme nos ensina Floyd Merrel.
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