sábado, 24 de novembro de 2012

UMA REFLEXÃO SOBRE A DÚVIDA...

A dúvida e a crença são estados do espírito, representam momentos distintos na trajetória da vida humana. Pierce considera a crença como um sentimento que indica uma posição estabelecida em nossa natureza que determina nossas ações. A dúvida, entretanto, representa um estado desagradavel e incômodo.
Sendo a crença um estado de tranquilidade, a dúvida consiste em um estímulo para alcançar uma nova crença depois de um percurso de indagações. A dúvida surge como a forma de por em prova uma idéia estabelecida, buscando chegar a uma verdade.
Mesmo que a idéia de se alcançar uma crença mais bem qualificada pareça o melhor a ser feito, o fato de ter que abandonar uma posição agradavel e permitir a desconstrução do que era base não representa a melhor alternativa para a maioria. Muitas vezes até sentimos a fragilidade de nossas concepções, mas, acostumados com o ritmo desse movimento marcado, somos convencidos a proteger nossa posição atual, temendo a descontrução de nosso alicerce e principalmente, com medo do desconhecido que virá após a dúvida.
Sê permitir a dúvida é uma ação fundamental na construção humana, denuncia o fato de estarmos dentro de um processo de constante evolução. Se não pusermos nossas “verdades” à prova, poderemos viver em um constante ciclo de vida esperada, idealizada e distante da melhoria contínua que é de certa forma um desejo comum de todos, ao contrário do conflito que a ela conduz.
Na história ocorreram inúmeras injustiças com diversos povos e nações, cada um desses eventos reside sobre uma verdade estabelecida, uma idéia que convence outros e justifica a morte de muitos.
Muitas injustiças ainda ocorrem atualmente, não porque sejam bem mascaradas, pois a maioria assiste conformada. Há pouca mobilização de luta porque a idéia de que “nada vai mudar” é uma verdade estabelecida, que para ser desconstruída precisa da dúvida, contudo, a dúvida conduz a um compromisso de investigação e ação, e cada vez mais não temos compromisso com o mundo, com os outros e nem com nós mesmos.
Não poderemos questionar os erros desta sociedade sem antes nos expormos a dúvida, para que a frente da confirmação real das misérias tenhamos a coragem de lapidar nossas estruturas de pensamento e nos mobilizarmos em prol de uma vida mais humana por meio da constante busca e do permanente compromisso com a verdade.
Precisamos duvidar do modo que nos falam sobre o mundo e também da forma que o enxergamos, podemos por exemplo, com nossas pesquisas acadêmicas, contribuirmos com a descoberta da verdade ou simplismente confirmamos a nossa crença dentro de uma resistente redoma protetora. O verdadeiro investigador não teme a desconstrução de suas crenças, mas por meio da dúvida se descobre como sujeito da natureza humana e não como mera criatura de instintos.
Que possamos assumir o confronto com as idéias, as que temos e as que ouvimos, tanto as que ainda nada são no plano material, como as que já foram cristalizadas como verdades. Mesmo certos que a desconstrução é incômoda, sigamos a partir do pressuposto que a nova construção terá melhor arquitetura, será feita com melhores materiais e por uma mão de obra mais qualificada, e então por isso, vale nosso investimento dentro da constante atividade de demolir e construir.
“Deixemos os entulhos de lado e sigamos com o projeto, sobre este solo há muita coisa a ser feita e a planta deve mudar. A beleza da nova morada depende de cada um de nós, de nossos sonhos, realidades e ações. Nossas crenças, nossas dúvidas”.

                                                                                                      Tony Moreira

Referência:
PIERCE, Charles sanders. Semiótica e filosofia. São Paulo: Cultrix, 1972.

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