terça-feira, 18 de novembro de 2014

Etnografia como uma abordagem de pesquisa em Educação: Comentários e contribuições

A estrutura da disciplina “Entre os saberes docentes e os aprenderes discentes” ministrada pelo Prof. Dr. Mauro Betti, no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista "Julio Mesquita Filho", UNESP, campus de Presidente Prudente, dedica conteúdos da Semiótica americana cujo precursor é Charles Sanders Peirce, com enfoques na Educação; a Pesquisa-ação e nela uma perspectiva semiótica; e, a perspectiva etnográfica e Educação.
            Com o intuito de contribuir com o enriquecimento das discussões e socializar estudos de caráter etnográfico em educação, principalmente para os pesquisadores desse Programa que se dedicam a modalidade e enfoque da Etnografia, comento sinteticamente um recente estudo realizado no Estado de Roraima, sede de referencia e ambiência de uma realidade do extremo norte brasileiro, de autoria da Maristela Bortolon de Matos, o qual lhe conferiu o título de Doutora em Educação pela Universidade Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, no Rio Grande do Sul.  
            Os estudos de caráter etnográfico, esquema adotado inicialmente para as pesquisas antropológicas dedicadas para descrever e estudar a cultura e a sociedade de um determinado grupo humano assumem outras perspectivas que vão sendo elaboradas como estratégia metodológica. Esses estudos levam em conta a construção das relações que se estabelecem entre o pesquisador, o ambiente investigado e os sujeitos nele envolvido.
            O trabalho de Maristela Bortolon de Matos, segundo a autora, é de cunho etnográfico com abordagem fenomenológica e realiza “uma descrição crítica do cotidiano de duas escolas indígenas e, nessa descrição, interligo a dimensão cultural do grupo social que constitui a escola (cultura escolar) e a comunidade (cultura local)” (Matos, 2013, p. 139), e desta forma, considerando os fenômenos educacionais como fenômenos sociais se preocupa, a pesquisadora, com as características que esse ambiente propicia.
            A pesquisa de Maristela Bortolon de Matos: As culturas indígenas e a gestão das escolas da comunidade Guariba, RR: uma etnografia”, foi desenvolvida no município do Amajari, Estado de Roraima, junto da comunidade Guariba, formada por ameríndios Macuxi de família lingüística Karib e por Wapixanas de família lingüística Aruake. Considera os elementos internos e externos e os aspectos formais e informais que interferem e que configuram o cotidiano da gestão das escolas sediadas no âmbito dessa comunidade e pondera, como resultado dos estudos realizados, que “o processo analítico e a permanência em campo me permitem afirmar que há uma influência mútua entre as cultura indígenas e os processos de gestão das escolas na Comunidade Guariba. Entre outros resultados da pesquisa, concluí que: as interações entre a vida nas escolas têm a cultura indígena local como elemento mediador; a Comunidade indígena Guariba, atualmente utiliza a escola para reafirmar e manter manifestações culturais locais; as interações e inter-relações podem ser percebidas em diferentes e diversas situações (ou ações) que ocorrem nas escolas e na comunidade, amplamente descritas nesta tese; e as manifestações culturais indígenas locais são parte inerente à forma como se configura a gestão das escolas”, utilizando como marco teórico de referência, a Teoria da Complexidade presente em Morin (1991, 1996,1997,2009,2011).
            Trata-se de uma oportunidade de conhecer um pouco mais da diversidade desse nosso país, aprofundar os conteúdos pertinentes as pesquisas de caráter etnográficas e de educação e ainda de fonte de inspiração para outros estudos dessa natureza. Vale à pena apreciar.
            Interessou-se pelo assunto? Quer ler a tese de Maristela? Passa um email para mim que eu te coloco em contato com a pesquisadora: lefioretti@hotmail.com
Quero me valer desse espaço para continuar apresentando outros textos, independente dos prazos e compromissos assumidos como estratégias adotadas pelo Professor Mauro Betti na disciplina, como exercício de pensar e de elaborar conhecimentos.
            Abraços,

            Elena C. Fioretti

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Um olhar semiótico da educação

                                     

                                                                                                      Saulo Albuquerque Gomes.


            Essas linhas tem como objetivo instigar algumas reflexões sobre as contribuições do pensamento de Charles Sanders Peirce e relacioná-las ao âmbito da educação. Essas considerações foram feitas a partir da leitura de um texto que é resultado da pesquisa institucional “o tempo e a semiótica” realizada por Ana Cristina Teodoro da Silva, doutora em História/UNESP e Professora do Departamento de Fundamentos da Educação – UEM.
            A primeira questão que nos é colocada é a seguinte: Qual a contribuição da semiótica para a educação? Para a autora a semiótica de Peirce propõe outra visão de mundo, que rompe com a noção de dualidades, compreende que as relações naturais e os processos de conhecimento ocorrem por meio de relações triádicas.
            Peirce tinha como objetivo encontrar categorias que fossem comuns a qualquer forma de pensamento, ele queria entender como funciona o pensamento. As categorias fundamentais que foram encontradas por ele foram chamadas de primeiridade, secundidade e terceiridade e essa tríade estará presente em toda a organização do saber proposta por Pierce.
     Acredita-se que é preciso compreender essas categorias para compreender a semiótica de Peirce e não cair no erro de entendê-la como algo mecânico e dessa forma mais próxima as dualidades por ele negadas. 
   Para SILVA, “A primeiridade é sensação, a pura cor vermelha, uma euforia que aparece. É a categoria da liberdade, da espontaneidade, não chega a ser consciente, quando pensamos nela já estamos na secundidade. A secundidade é a categoria do confronto, do choque com o outro, do presente sem reflexão, da surpresa. Um esbarrão na esquina, a consciência do roçar da pele com a roupa, o detectar de uma presença. No instante em que percebemos que a presença é de um gato, já estamos na terceiridade, categoria do entendimento, da reflexão, da relação, do signo completo.” Para a autora todo e qualquer fenômeno não pode abrir mão desses três momentos, que seriam os fundamentos a partir dos quais todos os conhecimentos ocorrem.
     A semiótica é a ciência que estuda os signos, o que seria então os signos? Segundo Santaella, “Em uma definição mais detalhada, o signo é qualquer coisa de qualquer espécie (uma palavra, um livro, uma biblioteca, um grito, uma pintura, um museu, uma pessoa, uma mancha de tinta, um vídeo etc.) que representa outra coisa, chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial, efeito este que é chamado de interpretante do signo (SANTAELLA, 2004a, p. 8)."
   Segundo SILVA, a semiótica, é o estudo da semiose, isto é, do processo de atuação e funcionamento dos signos. Partilhar dessa proposta significa rever como conhecemos, e essa revisão nos permite alterar premissas relacionadas à educação.
    A semiótica entende que toda a aprendizagem ocorre por meio de signos, a comunicação é fundamental para o processo cognitivo, aprendemos comunicando e comunicamos aprendendo.
       Na escola busca-se um conhecimento sistemático, induzido. A noção de primeiridade é destacada como fundamental para o processo de aprendizagem, a prerrogativa é que "sem esse sentimento de algo que nos toca não se efetua o processo síignico completo.” 
     O aprendizado na perspectiva semiótica não busca resultados, mas caminhos, como afirma SILVA, " O aprendizado, da perspectiva da semiótica, precisa de um objeto ou conteúdo, de uma mente com seu capital de signos e produzirá um resultado. Não há garantias de onde chegaremos, apenas garante-se que há um caminho."
       Olhar a educação através das lentes da semiótica é compreender que não há separação entre percepção e conhecimento, para Peirce o pensamento não está em nós, nós é que estamos em pensamento.


REFERÊNCIA

SILVA, A.C.T., PERSPECTIVA SEMIÓTICA DA EDUCAÇÃO, Rev. Teoria e Prática da Educação, v11, n.3, p.259-267. Set./dez.2008.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Por uma educação errante, segundo o pragmatismo de Peirce



O pragmatismo de Peirce nos ensina algo de profundamente necessário à educação e à pratica da pesquisa: Somos seres errantes e toda inteligência decorre exatamente disto.
Ao contrário do que nos fez crer as pedagógicas em voga nos sistemas educacionais brasileiros, o erro e a dúvida são o ponto central do ato educativo. Não deveriam, assim, ser vistos como abomináveis, vexatórios ou constrangedores -  seja aos professores ou aos estudantes.
Com base em Peirce, podemos conceber que os princípios educativos e mesmo a aprendizagem (entendida como mudança de conduta) tornam-se concretas nas consequências que resultam de suas aplicações. Portanto, a educação ganha sentido na experiência - fato esse amplamente explorado por John Dewey em sua obra. Mas a experiência tem sua importância na medida em que ela nos permite o confronto com a realidade. A experiência é educativa, por assim dizer, porque ela é a porta de entrada de nossas crenças e a matéria prima de nossos hábitos, mas é também o canal pelo qual a dúvida em nós se instala. Todo processo de aprendizagem e de pesquisa se inicia, segundo Peirce, por uma excitação, uma condição irritante de nossa experiência (entendida como curso da vida em que as ideias são filtradas de forma a eliminar o que é falso e dar vigor ao verdadeiro) em que a crença é posta em dúvida por não produzir mais os mesmo efeitos: a dúvida se origina pela surpresa, é geralmente provocada pelo exterior e tem o poder de paralisar a ação. Tal processo, de dissipar a dúvida e estabelecer nova crença, Peirce chama de investigação/perquirição. O conflito gerado pela dúvida viva e autêntica em nossa experiência leva ao encontro de novas crenças e novas condutas. A crença elimina a dúvida, nos faz conscientes e estabelece um hábito que regula a ação. Portanto, a crença se fixa no processo de pesquisa, resultando em aprendizagem que decorre da dúvida.
É, por conseguinte, a experiência a responsável por evidenciar que a uma possível concepção subjacente a ação esta equivocada, fazendo com que o hábito adquirido seja rompido, desde que o caráter mental da consciência tenha a plasticidade necessária. A experiência tem um fator corretivo e alimentador do nosso intelecto. Quando erramos, procede a correção, buscando novo hábito mais adequado à continuidade da existência. A tendência ao erro e a possibilidade de correção por meio de novos hábitos se inscreve no contexto da aprendizagem, sendo ela própria processo de aprender. Um pena que a escola e nossos professores ainda creem que o erro é nosso pior inimigo quando se trata de "educação". Por isto sou levado a crer que uma "educação errante" - no sentido descrito acima - já seria algo suficientemente renovador de nosso contexto escolar atual.

Postagem de Dulcineia - Reflexões a partir da disciplina "Entre os Saberes docentes e aprenderes discentes..."

OBS: ENVIADO POR E-MAIL PARA O PROF.MAURO BETTI EM 10/11/2014?

A disciplina “Entre os saberes docentes e aprenderes discentes: questões teóricas e metodológicas” contribuiu muito para a minha formação enquanto pesquisadora , professora e trabalhadora da  educação. Nela,  foram destacados  novos olhares sobre a educação, evidenciando outras possibilidades  interpretativas dos signos que compõe o fenômeno educação. Das muitas contribuições, ficaram  me mobilizando a importância de que a pesquisa em educação  precisa pensar o que afeta   o professor e   o aluno para o conhecimento .  

Sagazmente, Tonucci   (1975)traduz as  minhas inquietações   que foram potencializadas na disciplina...


A importância do  professor tem que se tornar signo para sí próprio  se não objetivar  o trabalho, colocar o próprio  trabalho diante  do professor e como a pesquisa-ação pode  contribuir para tal conhecimento do professor sobre si próprio

O professor precisa ser confrontado sobre o que sente, pensa e faz ...

É preciso que nós pesquisadores e o próprio professor  também descubramos qual a  relação  que temos  com o saber, que desejos o mobilizam. Enquanto signos, nos colocar-nos em dúvida
 

Repensar o papel da escola   buscando seus sentidos e significações, olhá-la com estranheza.

Criança: aquela que é sempre vista de cima

 Por isso, é importante  perceber  que o aluno pode estar  em diferentes posições na relação pedagógica, ora como signo, ora como objeto e ora como interpretante.






Valorizar em pesquisa como o professor e o  aluno como interpretante em suas expressividades, compreender o seu pensamento.


As imagens elaboradas pelo Tonucci (1975) são belíssimas e intrigantes, provoca-nos a inúmeras semioses,  convida-nos  a mudar-nos de posição continuamente na  tríade semiótica, para compreendermos  o complexo fenômeno da educação , do qual a alteridade na construção de uma educação melhor é fator indispensável.

Bem, ainda estou em processo de aprendizagem  e a certeza que é  preciso em educação nos preocupar-nos com  os afetos, no sentido de afetar o outro. 

Como afirma Silva (2008): Porque insistir na importância do afeto? Porque o afeto concentra-se à primeiridade, categoria fundamental de todo o processo semiótico. Sem este sentimento de algo que nos toca não se efetua o processo sígnico completo. O que ocorre, se não nos afeta de alguma forma, se não produziria signos. ‘Toda relação com afeto, criativa, constitui-se em troca interpessoal, mesmo que de mim com meus pensamentos. Se estivermos dispostos, há muitos  lugares para praticar o diálogo (SILVEIRA, 2005, apud SILVA, 2008, p.263)
  É