Através das leituras e
discussões realizadas na disciplina “Entre os saberes docentes e os aprenderes
discentes” foi possível conhecer os conceitos e pressupostos do pragmatismo e
semiótica de Peirce. Neste post, gostaria de adentrar em alguns destes conceitos,
principalmente os três fundamentos da experiência: os conceitos de
“primeiridade”, “secundidade” e “terceiridade” que servem para a compreensão de
qualquer fenômeno pela lógica da semiótica de Peirceana.
Segundo,
Silva (2008, p.261)
A primeiridade é sensação, a pura cor
vermelha, uma euforia que aparece. É a categoria da liberdade, da
espontaneidade, não chega a ser consciente, quando pensamos nela já estamos na
secundidade. A secundidade é a
categoria do confronto, do choque com o outro, do presente sem reflexão, da
surpresa. Um esbarrão na esquina, a
consciência do roçar da pele com a roupa, o detectar de uma presença. No
instante em que percebemos que a presença é de um gato, já estamos na terceiridade, categoria do
entendimento, da reflexão, da relação, do signo completo.
Ou seja, a primeiridade é o
contato primeiro, o acaso, algo espontâneo que precede à tomada de consciência
acerca do fenômeno; quando tomamos consciência do que o fenômeno é, já estamos
na secundidade e, finalmente quando entendemos e refletimos sobre aquele
fenômeno, podemos dizer que passamos pela terceiridade. É importante esclarecer
que esta relação entre primeiridade, secundidade e terceiridade não se finda
como um ciclo, porém se desdobra em novas oportunidades de estar em qualquer
uma destas etapas.
Por exemplo, quando escrevi
meu ultimo post para este site, discorri sobre a relação de um poema de
Quintana com o conceito de Experiência de Peirce. Para realizar esta tarefa,
passei pela primeiridade, secundidade e terceiridade, sendo que, ao me deparar
com o poema estava em primeiridade, quando me questionei sobre o conteúdo do
que havia lido e da possível relação com o que havia aprendido sobre semiótica,
estava em secundidade, já no momento em que consegui compreender e raciocinar
sobre a relação entre os dois fenômenos, estava em terceiridade.
Mas, este processo não se
findou em uma única tarefa, ao terminar de escrever acerca daquela relação, me deparei
com um novo processo - o de pensar sobre o movimento que me levou à relacionar
o conceito de experiência e o poema de Quintana, ou seja, o de elucubrar acerca
dos processos de primeiridade, secundidade e terceiridade que vivi para escrever
sobre o assunto.
Embora este processo possa
estar presente na compreensão de todos fenômenos, quando este fenômeno se trata
de uma forma de arte, a via para que se gere a terceiridade é ampliada, uma vez
que está implícito nos signos artísticos, a reação estética, a possibilidade de
se afetar, de sentir, ou seja, de se deparar com a primeiridade.
Quando pensamos na educação escolar,
podemos afirmar que esta, em sua grande maioria, tem focado seus ensinos na
terceiridade. Acredita-se ser mais importante a cognição, na racionalização no
processo de educação, porém, pensando nos elementos da experiência, torna-se
imprescindível que a educação trabalhe com possibilidades de os estudantes
viverem a primeiridade e a secundidade.
Neste
sentido, Silva(2008) afirma que devemos defender o afeto no processo de
educação pelo fato de o afeto ligar-se à primeiridade. Declara ainda a autora
que “Sem esse sentimento de algo que nos toca não se efetua o processo sígnico
completo. O que ocorre, se não nos afeta de alguma forma, não produzirá signos.”
(SILVA, 2008, p.263)
Ainda sobre a importância
dos afetos para a educação, Vigotski (2003, p. 143, 144) declarou que:
A velha educação sempre logicizava e
intelectualizava o comportamento, resultando dai um terrível “secamento do
coração”, a completa ausência de sentimento que se tornou traço obrigatório de
todos aqueles que passaram por esta educação (...) São precisamente as reações
emocionais que devem constituir a base do processo educativo. Antes de
comunicar esse ou aquele sentido, o mestre deve suscitar a respectiva emoção do
aluno e preocupar-se com que essa emoção esteja ligada à um novo conhecimento.
Todo o resto é saber morto, que extermina qualquer relação viva com o mundo.
Ou seja, se não levamos em conta os afetos e a
primeiridade no processo de ensino e aprendizagem, se não buscamos desenvolver
a sensibilização e as emoções na escola, o ato educativo poderá não se
concretizar ou não ter significados aos estudantes, não levar à novos
aprendizados e até mesmo se tornar “saber morto”.
Tatiane da Silva Pires Felix
Referências:
SILVA, A.C.T. A PERSPECTIVA SEMIÓTICA
DA EDUCAÇÃO.Rev. Teoria e Prática da Educação, v.11, n.3, p.259-267, set./dez.
2008.
VIGOTSKI, L. S. Psicologia pedagógica.
Porto Alegre: Artmed, 2003. (Trabalho original publicado em 1926)
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