CONSIDERAÇÕES
SOBRE A DISCIPLINA “ENTRE OS SABERES DOCENTES E OS APRENDERES DISCENTES”
ROSILENE
FIGUEIRA MIRANDA
Lembro-me do primeiro dia de aula da disciplina, tinha
lido os textos, e confesso que achei complexo. Na realidade não entendi muita
coisa. O professor começou a aula dando informações sobre a disciplina, entrou
no assunto da Semiótica. Já tinha ouvido falar alguma coisa a respeito, mas
muito pouco, e como não tinha conhecimento do assunto, achei complicado. No
entanto, fiquei um pouco mais tranquila quando o professor disse que ao final
da disciplina entenderíamos melhor o que Peirce havia escrito em seus
textos. Até o final da aula estava
vislumbrando uma luzinha no fim do túnel, mas muito fraquinha.
Mas mesmo assim, senti que não poderia desistir da
disciplina, e não era pelos créditos. Eu precisava saber mais sobre o assunto.
Fiquei tomada pela curiosidade, e precisava saber a relação de tudo isso com a
educação. E isso foi acontecendo no decorrer das demais aulas. Na segunda aula
a luzinha no fim do túnel começou a ficar um pouco mais forte, consegui
entender um pouco mais sobre a Semiótica, o método Pragmático de Peirce, e o
texto de Charlot “ A mistificação pedagógica: as formas contemporâneas de um
processo perene – prefácio à nova edição brasileira. in _________. A
mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na teoria
da educação. São Paulo: Cortez, 2013. P. 33-50.”, começou a fazer sentido
quando reli, após a segunda aula. Bem como as demais leituras da disciplina.
A aula que teve a contribuição de Eliane Gomes da Silva
colaborou para esclarecer mais pontos, pois de forma simples, atrativa, ela nos
mostrou várias coisas, e muitas vezes pequenos detalhes, mas que fazem a
diferença, que acontecem num ambiente escolar, e que passam despercebidos, que
vários professores agem de maneira automática, sem analisar o objeto principal
de sua aula. Não prestam atenção nos alunos, ignoram seu meio social e
cultural, acreditando na fixação da crença de que sempre fizeram assim, em
relação às atividades, avaliações, etc., e acomodados nessa crença, não
duvidam, não fazem perquirições sobre sua prática, tornando, dessa forma, um
saber estratificado. E isso não colabora para as aprendizagens significativas
dos alunos.
Eliane iniciou a aula com uma frase de Peirce muito
intrigante: “ Um sistema em colapso caminha para frente”. E uma outra de
dois professores que também seguem o método de Peirce, “O caminho tortuoso só
faz sentido se nos levar a uma conduta futura”. O caminho só faz sentido se for
através de novas experiências na perspectiva de Peirce. Os semióticos
peircianos vão a campo estudar, trabalham com o fenômeno bruto, por exemplo, se
for com crianças com problemas, eles vão até elas e ficam juntos. Não estudam o
problema de forma isolada. Ao contrário, interagem com o fenômeno. Ou seja:
Ao observar algo novo, ele é singular, senão observar e
conviver, não se pode simplesmente “achar” nada sobre ele. É preciso “atentar
para”, pois cada relação pedagógica é única, não é como uma réplica. Ao “ver” e
“atentar para” não devemos emitir um juízo de valores.
Os alunos, os conteúdos e o contexto mudam de posição e o
professor também precisa mudar. Caso o professor não muda de posição não
entenderá o fenômeno, nesse caso, o aluno. A partir da Semiótica é exigido um
novo olhar para a relação professor e aluno. A linguagem corporal, sensitiva, o
toque intermediário pelo conteúdo das disciplinas. Trazer os conteúdos para os
alunos é o concreto, o conhecimento que está nos livros e nas mentes dos
professores exteriorizados para os alunos. No entanto, os alunos podem gostar
do que o professor propôs ou irem além do proposto.
Não podemos ficar estagnados, é preciso modificar,
ressignificar os conteúdos. Os alunos são singulares, tem desejos, trazem
experiências vividas, relações com o saber, por outro lado, o professor também,
além disso de trazerem essas peculiaridades como os alunos, trazem, também,
saberes (conhecimento). Dessa forma, precisamos analisar os resultados das
ações que fazemos, e isso é complexo, difícil.
Então, para a Semiótica a aprendizagem é o processo de
aquisição de conceitos e de modificação de condutas, conduta crítica e
autocrítica. Sem a Pedagogia não tem como mudar o conduta.
Segundo Mauro Betti, o professor constrói muito do seu
saber exercendo a sua atividade de docência, precisamos voltar a pensar e
relacionar aluno, saber docente e aprendizagem. É preciso tentar entender o que
acontece no interior da escola, quando aparecem novas reformas na educação, é
necessário trazer dados gerados por caminhos científicos, método peirciano. O
aluno não pode desaparecer no social e a sociedade valorizar só o produto.
Por fim, encerro minhas considerações com uma observação,
no último dia de aula na apresentação do trabalho sobre a tese de um dos grupos,
quando disseram em determinado momento que a autora da tese numa certa ação
estava na terceiridade, fiquei na dúvida, ou melhor, não consegui identificar
elementos que comprovassem a terceiridade, mas como não tinha lido a tese
acabei por não perguntar ao grupo, mesmo porque, há também a possibilidade da
autora “achar” e o grupo não era responsável por isso. Com isso pude verificar
que a respeito do que o professor disse no primeiro dia de aula, que até o
final da disciplina estaríamos compreendendo melhor, tinha acontecido.
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