Após
conhecermos a Semiótica de Charles S. Peirce, passamos a perceber o quanto a
lógica geral dos signos se faz presente em uma das teorias mais disseminadas no
Brasil a respeito da formação de professores: na perspectiva do Professor
Reflexivo. Isto porque a Semiótica desenvolvida por Peirce, reconhecida como a
ciência geral dos signos e de todas as linguagens (SANTAELLA, 1983) estende o conceito de signo para qualquer
fenômeno dotado de significação, entendendo o processo de produção de signos
(Linguagem) como a raiz da comunicação. E aqui nos perguntamos, é possível
conceber um professor reflexivo que não seja comunicativo? É possível conceber
um professor reflexivo sem tomar a
escola e a experiência educativa ambientes de interação entre diferentes
linguagens e, principalmente, como fluxo permanente de reconhecimento e de engendramento
de novos e distintos signos (o que na semiótica peirceana denomina-se
“semiose”), acerca da docência? Em nosso entendimento, é precisamente essa
dimensão semiótica a raiz do processo de reflexão sobre as práticas pedagógicas,
processo esse aclamado por diversos autores (SCHÖN, 2000; NÓVOA, 1992), como um dos elementos centrais à formação
dos professores e também da constituição dos estágios (PIMENTA E LIMA, 2005/2006).
Neste quesito as contribuições peircenas são
profundamente promissoras, dado que o processo de interpretação decorrente da
Semiótica de Peirce rompe com a habitual noção grega de que esta seja a relação
entre as palavras e os pensamentos, ou entre os pensamentos e as coisas, de
modo que, o que quer que seja que ocorra no pensamento, possa dar conta do que
se passa no mundo. Ao contrário, em Peirce a interpretação não é um ato
simplesmente mental, mas também um hábito de ação, como resposta habitual e
constante que o intérprete dá ao signo ou ao objeto, isto é, um signo que pode
ser interpretado em consequência de um hábito ou de uma disposição para a ação
(DI SARNO, 2000). Isto quer dizer que, de um ponto de vista semiótico, refletir
sobre a prática, significa não apenas interpretar de forma mental as situações
pedagógicas analisadas, ou apenas construir pensamentos - signos mentais -, mas
também agir e se predispor a agir de determinada forma, uma vez que as ações
não são meramente resultantes de uma interpretação, mas também uma forma de
interpretação.
Com isto, é
preciso reconhecer que a questão da reflexão sobre a prática na educação
pressupõe o entendimento da prática docente como comunicação, interlocução, o
que até os dias atuais não nos parece explícito entre os autores que adotaram a
perspectiva do que se convencionou chamar de professor reflexivo (SCHÖN,
2000; NÓVOA, 1992). Afinal, a reflexão sobre a prática na formação de
professores implica o entendimento das ações pedagógicas como elementos
comunicante, que se expressam por meio dos signos.
Além disso, o
paradigma reflexivo também não explicita a questão epistêmica de como a reflexão pode florescer no âmbito
formativo. Bastariam formular problemas ou questões aos alunos? Bastariam
auto-questionamentos? Como diz Peirce (1972), a formulação de hipóteses,
premissas e inferências é uma faculdade aprendida e não inata. Sendo assim, o
pressuposto para a reflexão é a capacidade de leitura semiótica, de decifrar os
signos que emanam da realidade e engendrá-los em novas redes de significação.
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