O pragmatismo
de Peirce nos ensina algo de profundamente necessário à educação e à pratica da
pesquisa: Somos seres errantes e toda inteligência decorre exatamente disto.
Ao contrário
do que nos fez crer as pedagógicas em voga nos sistemas educacionais
brasileiros, o erro e a dúvida são o ponto central do ato educativo. Não
deveriam, assim, ser vistos como abomináveis, vexatórios ou constrangedores
- seja aos professores ou aos estudantes.
Com base em
Peirce, podemos conceber que os princípios educativos e mesmo a aprendizagem
(entendida como mudança de conduta) tornam-se concretas nas consequências que
resultam de suas aplicações. Portanto, a educação ganha sentido na experiência
- fato esse amplamente explorado por John Dewey em sua obra. Mas a experiência tem sua importância na medida em que ela nos permite o confronto com a
realidade. A experiência é educativa, por assim dizer, porque ela é a porta de
entrada de nossas crenças e a matéria prima de nossos hábitos, mas é também o
canal pelo qual a dúvida em nós se instala. Todo processo de aprendizagem e de
pesquisa se inicia, segundo Peirce, por uma excitação, uma condição irritante
de nossa experiência (entendida como
curso da vida em que as ideias são filtradas de forma a eliminar o que é falso
e dar vigor ao verdadeiro) em que a crença é posta em dúvida por não produzir
mais os mesmo efeitos: a dúvida se origina pela surpresa, é geralmente
provocada pelo exterior e tem o poder de paralisar a ação. Tal processo, de
dissipar a dúvida e estabelecer nova crença, Peirce chama de
investigação/perquirição. O conflito gerado pela dúvida viva e autêntica em
nossa experiência leva ao encontro de novas crenças e novas condutas. A crença elimina a dúvida, nos
faz conscientes e estabelece um hábito que regula a ação. Portanto, a crença se
fixa no processo de pesquisa, resultando em aprendizagem que decorre da dúvida.
É, por
conseguinte, a experiência a responsável por evidenciar que a uma possível concepção
subjacente a ação esta equivocada, fazendo com que o hábito adquirido seja
rompido, desde que o caráter mental da consciência tenha a plasticidade
necessária. A experiência tem um fator corretivo e alimentador do nosso
intelecto. Quando erramos, procede a correção, buscando novo hábito mais
adequado à continuidade da existência. A tendência ao erro e a possibilidade de
correção por meio de novos hábitos se inscreve no contexto da aprendizagem,
sendo ela própria processo de aprender. Um pena que a escola e nossos
professores ainda creem que o erro é nosso pior inimigo quando se trata de
"educação". Por isto sou levado a crer que uma "educação errante"
- no sentido descrito acima - já seria algo suficientemente renovador de nosso
contexto escolar atual.
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