quinta-feira, 24 de abril de 2014

Considerações Acerca da Experiência/Raquel Pozzenato Silazaki


Neste segundo momento de postagem, escolhi  refletir um pouco acerca da questão da experiência, que embora pareça ser objeto de fácil compreensão não se configura desta forma. Assim como observamos sobre a pedagogia tradicional e o construtivismo, onde no cotidiano escolar, na prática educativa são conceituados, entendidos e utilizados, por grande parte dos educadores, sem um rigor reflexivo que permita distinguir seus “efeitos” quando propostos aos alunos.

O construtivismo em contraponto a uma pedagogia bancária (fragmentada, que se perpetua nos bancos escolares), tem sido utilizado, também, de uma forma errônea. A “exigência” que se impôs ao professor de ser construtivista obrigou-o a ser tradicional revestido de uma capa construtivista. Com isso, por não saber ao certo como atuar, por não ter assimilado que o construtivismo parte de uma  concepção de que o mundo não está pronto e acabado, de que a  criança interage com o meio  e integra seu próprio processo de aprendizagem não como expectadora e sim como um indivíduo que passa a ter consciência das coisas que circulam ao seu redor e no mundo. O mundo (cultural, econômico, político, etc.) influência as pessoas, mas as pessoas influenciam-no também. Assim deve ser pensada a criança na escola e o professor configura-se como parte, também, de todo este processo. A trajetória educacional demonstra que grandes equívocos aconteceram e acontecem acerca desta teoria, fato que necessita ser superado, ou melhor, analisado e refletido em busca de ressignificações. A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual se complementam alunos, professores e sociedade.

A chamada experiência também tem seus reflexos nesta trajetória educacional, de qual experiência referimo-nos?  Dewey chama-nos a atenção de que é necessário conceber a educação como uma reconstrução contínua da experiência. Ela é viva, é repleta de significados. Desta forma, ao propor uma educação pautada na experiência, não basta que o professor questione o aluno sobre seu cotidiano, o que eles já sabem, que os alunos falem de sua família, traga objetos, que o professor ande pelo bairro, saia no jardim de sua escola (uma atividade prática), que apenas observe o comportamento do aluno. Não basta uma postura questionadora no sentido de saber o que os alunos já sabem para depois passar a “transmitir” o que eles não sabem.

Assim, com as leituras dos textos, com as discussões que surgem nas disciplinas passamos a observar a escola sob novos ângulos, sob novas perspectivas que nos auxiliam a perceber o quanto, muitas práticas do cotidiano escolar, estão revestidas de experiências que perpetuam no aluno uma postura passiva, uma vida impensada perante o mundo. Uma pedagogia tradicional que é levada adiante, sem que muitos professores tenham consciência disso. O professor, então,  também tem dúvida de quais experiências permitirão o aluno dar sentido ao mundo, nele agir e interagir, ressignificar, encontrar soluções, inserir-se na cultura e produzir cultura.

Desta forma, conseguimos observar situações escolares que colocam o professor numa dinâmica complexa e muito árdua, pois não saber distinguir situações entre o tradicional, entre uma experiência significativa, daquela que é forjada e irrefletida, entre aquilo que se espera, por exemplo, numa perspectiva construtivista. Coloca-nos a necessidade de olhar para outras vertentes que aqui não caberia expor, pois há influência histórica, há questões referentes à formação inicial e continuada de professores, questões de políticas públicas, situações que se colocam neste cenário e que são objeto de estudos e estão colocadas para serem ressignificadas.

A partir das aulas sobre a semiótica percebemos uma dificuldade para associarmos os conceitos da disciplina nas práticas educativas, mas aos poucos também observamos que estamos, a todo momento, passando por situações de processos de significação. A experiência neste contexto, diz sobre o constante movimento entre a primeiridade, secundidade e terceiridade, na constante criação de signos. E que, a partir da construção de um signo, passo a partir dele, construir outros signos que me colocam em constante movimento. Assim a experiência é viva, em constante interação com o outro e com o meio, não é estática. Deve permitir ao aluno a ter sua consciência cognitiva, crítica e autocrítica em que ele está envolvido diretamente neste processo onde se tem várias relações interpretantes. Cabe aqui trazer uma ideia de Dewey  em que a “experiência é uma ação em potencial reflexivamente praticada e gerida pelo sujeito da ação”. Então, cabe a nós refletirmos se as “aulas práticas”, se a educação a partir das “experiências” propostas aos alunos são capazes de incluí-los neste processo de constante significação, interação e ressignificação da realidade. Que os leve a pensar, formular suas hipóteses, encontrar soluções e agregá-las ao que já conhecem e partir para a construção de um novo conhecimento, num constante movimento de significações.

São essas as considerações que faço neste segundo momento de postagem, estou aberta a discussões.

Raquel Pozzenato Silazaki   

 

 

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