quinta-feira, 24 de abril de 2014

Semiótica Peirciana na Educação e Educação Especial

Buscando compreender a Semiótica na área da Educação, busquei primeiramente entender algumas das categorias básicas de Peirce de forma geral, que são: primeiridade, secundidade e terceiridade. Acredito que essas categorias foram alguns dos maiores dilemas que vivenciamos na aula, pois sempre estamos buscado compreender algo na prática, onde podemos enxergar aplicações e exemplificações daquilo que estamos aprendendo.
 Assim, levei tempo em perceber que se trata da formação do signo que representa algo para uma mente e, a partir disso, busquei em algumas outras leituras identificar de forma mais “aplicada” a compreensão dessas questões para a área da Educação e também da Educação Especial, área da qual estou intimamente ligada por questão de pesquisa e de afeto.
Dessa forma, apresentarei algumas compreensões que me fizeram entender de forma mais clara a semiótica de Peirce.
No artigo “A perspectiva semiótica da Educação[1] da autora Ana Cristina Teodoro da Silva, compreendi de forma mais clara que a semiótica rompe com as dualidades. A autora explica que as relações naturais e o processo de conhecimento ocorrem por meio de relações triádicas. Confesso que nunca tinha pensado nesse termo e nas relações dessa forma, e por isso não compreendia as relações de primeiridade, secundidade e terceiridade.
Na explicação da autora pude perceber de forma mais “real” essas relações, pois na compreensão dela temos:
Primeiridade como sendo a “sensação, a pura cor vermelha, uma euforia que aparece. É a categoria da liberdade, da espontaneidade, não chega a ser consciente, quando pensamos nela já estamos na secundidade.”
Secundidade sendo a “categoria do confronto (muito bem exemplificado pela professora Eliane na última aula), do choque com o outro, do presente sem reflexão, da surpresa. Um esbarrão na esquina, o detectar de uma presença. No instante em que percebemos que a presença é de um gato, já estamos na terceiridade.”
Terceiridade sendo a “categoria do entendimento, da reflexão, da relação, do signo completo.”
Assim, escolho um exemplo da autora, em que retrata de forma simplificada as passagens dessas categorias:
Quero ouvir música. O ato que me leva ao aparelho, à escolha do disco, o som que entra em minha vida, é do nível da secundidade, algo que irromperá alterando um estado. Antes dele, porém, mesmo sem saber, eu tinha um sentimento, uma liberdade de ação, a música que escolhi dependeu desse sentimento e dessa liberdade. O som irrompe, são notas e palavras que dão forma a meu sentimento, o entendimento acalma, nomeia, quem sabe seria uma canção de amor e posso sonhar, elaborar uma saudade, talvez, e gerar outros signos, outras sensações, outras ações.”
Dessa forma, entendendo melhor as categorias e a tríade de relações, fui buscar compreender melhor a questão do signo. Signo é o responsável por fazer a mediação entre uma mente e um objeto.
Depois de compreender de forma mais clara, fui tentar relacionar tudo isso para a educação, e percebo que muitos dos dilemas relacionados a educação estão intimamente ligados com a lógica de Peirce. Por exemplo, quando debatemos sobre a aprendizagem na escola. O fato é que estamos sempre aprendendo alguma coisa, mesmo não sendo o esperado, e a diferença que o conhecimento proposto pela escola é aquele que procura conduzir o caminho do aprendizado. Isso, se remete a questão do afeto e a autora coloca de forma simples essa questão: “o afeto inicia qualquer relação de aprendizado – o que não me afeta, não atinge minha mente, não formará signo.” É fundamental que haja algum afeto.
Mas, o que isso tem a ver com a semiótica? Para a semiótica, onde ocorrer comunicação há aprendizado, há aprendizado onde houver ação do signo, e com esse entendimento, talvez podemos ampliar a noção de processo educativo. Trago como exemplo uma importante passagem do artigo em que a autora esclarece a importância da comunicação e do afeto na questão da aprendizagem:
Na sala de aula convencional, toda vez que ocorrer comunicação, ocorre aprendizado, sempre de acordo com o capital disponível de cada um e também de acordo com o afeto dado e recebido no processo. Com isso, nota-se que há tantos ritmos de aprendizado quantos forem os posicionados como alunos – professor inclusive. Por que insistir na importância do afeto? Porque o afeto conecta-se à primeiridade, categoria fundamental de todo processo semiótico. Sem esse sentimento de algo que nos toca não se efetua o processo sígnico completo. O que ocorre, se não nos afeta de alguma forma, não produzirá signos.”
Nesse sentido, é que passo a enxergar a semiótica como uma facilitadora na área da Educação Especial, pois se trata de compreender as diferenças em meio a potencialidades e habilidades individuais.
Por isso, achei importante refletir anteriormente sobre a comunicação e ação do signo, pois se “há comunicação, há aprendizado, há ação do signo, há aprendizado, há diálogo”. O grande desafio da Educação Especial é justamente a questão temporal da aprendizagem, a questão convencional em que ela está imposta a ser desenvolvida o que acarreta em obstáculos e preconceitos sobre o entendimento do aprendizado, ou seja, é muito comum que julguemos que uma pessoa com Deficiência Intelectual, por exemplo, não aprenda.
Assim, destaco outra passagem do artigo em que considero fundamental para a atual educação em que estamos inseridos:
“No caso da educação especial, a semiótica tem a oferecer o entendimento de que não há uma única temporalidade correta para o aprendizado, assim como não há conteúdo determinado ou caminho privilegiado. A criança especial é uma mente que interage com objetos (outras mentes, brinquedos, suas próprias fantasias...). Participar de suas formulações sígnicas é desafio do educador, entendendo que cada criança está em semiose.
Talvez seja adequado postular que muitas vezes não conseguimos perceber o aprendizado, e não que ele não ocorra. Onde há vida, há signo, pois é fundamental para a vida comunicar, sem comunicação entre as células, entre os indivíduos, entre seres e meio, a vida não é possível.”

Portanto, passo a considerar a semiótica como uma importante componente de análise em pesquisas educativas, principalmente pelo fato das premissas da semiótica virem a contribuir nos processos educativos.
As relações de professores e alunos não se tratam apenas de alguém que ensina e alguém que aprende, os conteúdos também não se tratam apenas de textos ou imagens que os professores irão implantar nos cérebros dos alunos, e com isso volto na questão do afeto, pois os alunos precisam estar dispostos a se afetarem pelo aprendizado, disponibilizarem sua mente, para dar sentido e percebo que as próximas leituras de Bernard Charlot poderão nos esclarecer melhor essas questões com as discussões da relação com o saber.
Espero ter contribuído com os colegas.

Abraços
Naiara Chierici






[1] Rev. Teoria e Prática da Educação, v.11, n.3, p.259-267, set./dez. 2008.

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