A
breve reflexão que estabeleço entre o que incipientemente visa meu projeto e os
saberes discutidos nos textos acerca da “reconstrução da experiência” em John Dewey
constitui um tímido, porém intencionado movimento de elaboração de uma ponte
entre ambos, onde o trânsito culmine senão para outros, mas à própria
pesquisadora instrumento de reflexão.
Começo este movimento reflexivo primeiro contando aos
caros leitores um pouco do que nos desassossega. O longo da experiência
discente e docente que carrego em minha memória, denuncia hoje uma preocupação
com o modo pelo qual aprendi, e também ensinei Ciências (e não só Ciências, por
isso o espaço no título). Temos por força do currículo - e de tantos outros
fatores que se discutidos não caberiam na memória deste blog - desvinculado do
ensino escolar os problemas e situações históricas que acorrem e impactam nossa
vida e a dos estudantes. Para ilustrar o que verbalizo, posso interpelar o
quanto o Ensino de Ciências (meu foco de estudo) no Estado do Amazonas
incorporou acerca das seguintes questões: várzea e seca dos rios; as palafitas
e a saúde da população; a infestação de Caramujos Africanos nos últimos anos
que têm adoecido tanta gente; as questões climáticas tão particulares; as
doenças tropicais; a terra preta que é um tipo de solo fértil encontrado
principalmente na região amazônica; os produtos químicos como o mercúrio que
lançados ao rio contaminam o peixe, importante fonte de alimentação do povo; as
queimadas; o desmatamento; o saneamento básico praticamente inexistente etc.
A resposta é não. Não incorporamos em nossas aulas estes
conhecimentos que fazem parte do ambiente e da vida de todos os alunos e
professores. É necessário dizer que não se defende a supressão dos
conhecimentos gerais em Ciências que devem conhecer tanto as crianças lá em São
Gabriel da Cachoeira- AM, quanto em Chuí – RS. Que fazem parte dos famosos
PCN’s. No entanto até os PCN’s dizem da flexibilidade do currículo.
Na construção das amarras dessa ponte reflexiva está o
que Dewey fala sobre a experiência. “todo o homem é um ser resultante das
experiências que constrói, seja de forma intencional ou não” como aponta o
texto de Carlesso e Tomazetti (2009). A esta altura, provavelmente, alguns
pensam que não compreendi o significado de experiência em Dewey e estou
cometendo a mesma incoerência limitadora das professoras apontadas na pesquisa.
Paciência eu vos peço! Nas considerações finais do artigo de Carlesso e
Tomazetti (2009, p. 585) as autoras dizem “Entender a experiência com a
rigorosidade e a propriedade descrita por Dewey implica mais do que aceitar o
aluno e sua realidade, é reconhecer a potencialidade do já construído por ele,
no sentido de alimentar prospectivas construções e reconstruções”.
Ora, penso que se conseguíssemos envolver estas
discussões que são intrínsecas a vida do sujeito-professor e do sujeito-aluno,
e utilizá-las como porções objetivas da realidade social para a objetividade
científica pretendida, o produto desta relação consciente e organizada não
seria uma “caixa de pandora”.
São
quatro os blocos temáticos propostos pelos PCN’s para o ensino fundamental:
Ambiente; Ser humano e saúde; Recursos tecnológicos; Terra e Universo. O
desafio é saber: De que modo é possível imbricar estas temáticas vazias e
paginificadas nos livros didáticos em conhecimentos apropriados pelos alunos,
reorganizados e reconstruídos, multidimensionados na vida concreta, pulsante, que está tão distinta da pigmentação da língua na pálida finura do papel.
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