quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Ensino - de Ciências - sob a perspectiva da “experiência” em John Dewey: Algumas reflexões



A breve reflexão que estabeleço entre o que incipientemente visa meu projeto e os saberes discutidos nos textos acerca da “reconstrução da experiência” em John Dewey constitui um tímido, porém intencionado movimento de elaboração de uma ponte entre ambos, onde o trânsito culmine senão para outros, mas à própria pesquisadora instrumento de reflexão.
            Começo este movimento reflexivo primeiro contando aos caros leitores um pouco do que nos desassossega. O longo da experiência discente e docente que carrego em minha memória, denuncia hoje uma preocupação com o modo pelo qual aprendi, e também ensinei Ciências (e não só Ciências, por isso o espaço no título). Temos por força do currículo - e de tantos outros fatores que se discutidos não caberiam na memória deste blog - desvinculado do ensino escolar os problemas e situações históricas que acorrem e impactam nossa vida e a dos estudantes. Para ilustrar o que verbalizo, posso interpelar o quanto o Ensino de Ciências (meu foco de estudo) no Estado do Amazonas incorporou acerca das seguintes questões: várzea e seca dos rios; as palafitas e a saúde da população; a infestação de Caramujos Africanos nos últimos anos que têm adoecido tanta gente; as questões climáticas tão particulares; as doenças tropicais; a terra preta que é um tipo de solo fértil encontrado principalmente na região amazônica; os produtos químicos como o mercúrio que lançados ao rio contaminam o peixe, importante fonte de alimentação do povo; as queimadas; o desmatamento; o saneamento básico praticamente inexistente etc.
            A resposta é não. Não incorporamos em nossas aulas estes conhecimentos que fazem parte do ambiente e da vida de todos os alunos e professores. É necessário dizer que não se defende a supressão dos conhecimentos gerais em Ciências que devem conhecer tanto as crianças lá em São Gabriel da Cachoeira- AM, quanto em Chuí – RS. Que fazem parte dos famosos PCN’s. No entanto até os PCN’s dizem da flexibilidade do currículo.
            Na construção das amarras dessa ponte reflexiva está o que Dewey fala sobre a experiência. “todo o homem é um ser resultante das experiências que constrói, seja de forma intencional ou não” como aponta o texto de Carlesso e Tomazetti (2009). A esta altura, provavelmente, alguns pensam que não compreendi o significado de experiência em Dewey e estou cometendo a mesma incoerência limitadora das professoras apontadas na pesquisa. Paciência eu vos peço! Nas considerações finais do artigo de Carlesso e Tomazetti (2009, p. 585) as autoras dizem “Entender a experiência com a rigorosidade e a propriedade descrita por Dewey implica mais do que aceitar o aluno e sua realidade, é reconhecer a potencialidade do já construído por ele, no sentido de alimentar prospectivas construções e reconstruções”.
            Ora, penso que se conseguíssemos envolver estas discussões que são intrínsecas a vida do sujeito-professor e do sujeito-aluno, e utilizá-las como porções objetivas da realidade social para a objetividade científica pretendida, o produto desta relação consciente e organizada não seria uma “caixa de pandora”.
São quatro os blocos temáticos propostos pelos PCN’s para o ensino fundamental: Ambiente; Ser humano e saúde; Recursos tecnológicos; Terra e Universo. O desafio é saber: De que modo é possível imbricar estas temáticas vazias e paginificadas nos livros didáticos em conhecimentos apropriados pelos alunos, reorganizados e reconstruídos, multidimensionados na vida concreta, pulsante, que está tão distinta da pigmentação da língua na pálida finura do papel.  

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