PELEGRINI, Sônia Maria
A partir
das três disciplinas da pós-graduação deste ano: Delineamento Metodológico, Seminários de Pesquisa
e Entre Saberes Docentes e os Aprenderes Discentes: questões teóricas e
metodológicas, pude perceber a aproximação entre a pesquisa-ação, o ensino e a
pesquisa, (um dos conteúdos desta disciplina) e, como as ações educativas e
concepções de ensino e aprendizagem, da minha trajetória de vida acadêmica tem
relação, agora com maior fundamento, com
os pressupostos desta. O nosso projeto de pesquisa cujo objetivo é investigar e promover a construção de saberes sobre a
ludicidade no curriculo da Educação Integral no Ensino Fundamental I, estará
usando como procedimento metodológico a pesquisa ação, por considerar que a contribuição
para a resignificação das ações educativas cotidianas está intrinsecamente
ligada a forma de intervenção da pesquisa.
Considerando
a necessidade de romper paradigmas e superar a dicotomia, entre “os que
pesquisam” e “os que aplicam a pesquisa”
, e de, construir posturas que propiciem
a construção coletiva de saberes, atitudes de participação e co-autoria; a
pesquisa-ação pode ser a metodologia mais adequada para promover transformações
necessárias a prática educativa no chão da escola, bem como, promover
transformações sobre o modo como a universidade se relaciona e contribui com a
construção de saberes na/da escola. Segundo Barbier (2007) A pesquisa-ação é a revolta contra a separação entre fatos e
valores..... é um protesto contra a separação de pesquisa e ação.
Para
Franco (2012)
...o sujeito participante da pesquisa-ação começa a se sentir e a se
perceber protagonista de processos de transformação e autotransformação. No
entanto, será preciso que desconstrua saberes que nada mais siginficam,
construindo percepções favoráveis em relação à sua identidade profissional.
Como resultado, conseguirá valorizar e expressar seus saberes da experiência e
vinculá-los ao coletivo, socializá-los, referendá-los com novos pressupostos de
mudança ( 2012. p. 7).
A
pesquisa-ação, conforme afirma Pimenta (2005), tem por pressuposto que os
sujeitos que nela se envolvem compõem um grupo com objetivos e metas comuns,
interessados em um problema que emerge num dado contexto no qual atuam,
desempenhando papéis diversos: pesquisadores universitários e pesquisadores
professores. Constatado o problema, o papel do pesquisador universitário
consiste em ajudar o grupo a problematizá-lo, ou seja, situá-lo em um contexto
teórico mais amplo e, assim, possibilitar a ampliação da consciência dos
envolvidos, com vistas a planejar as formas de transformação das ações dos
sujeitos e das práticas institucionais.
A
importância da pesquisa na formação de professores, acontece no movimento que
compreende os docentes como sujeitos que podem construir conhecimentos sobre o
ensinar, na reflexão crítica sobre sua atividade, na dimensão coletiva e
contextualizada institucional e historicamente. Nessa direção, encontram-se
pesquisas denominadas de colaborativa, realizadas na relação entre
pesquisadores-professores da universidade e professores-pesquisadores nas
escolas, utilizando como metodologia a pesquisa- ação.
Para
Barbier (2007. p.118), quatro temáticas centrais devem ser examinadas quando se
fala do método da pesquisa-ação: A identificação do problema e a
contratualização; O planejamento e a realização em espiral; As técnicas de
pesquisa-ação; A teorização, a avaliação
e a publicação dos resultados.
A identificação do problema e a contratualização
é a primeira etapa da pesquisa que, no nosso caso, consistirá em conversar com
os diretores das 26 escolas municipais
que trabalham com Educação Integral e convidar para a participação, àqueles
cujos professores aceitarem a pesquisa. Será apresentado/esclarecido os
objetivos da pesquisa e a metodologia a ser trabalhada, para que os gestores e
professores sintam-se convidados a participarem da pesquisa e após o aceite, o
grupo passa a discutir uma contratualização para a efetivação do trabalho.
O planejamento e a realização em espiral pode ser considerado a segunda
etapa da pesquisa que, consiste em organizar com os participantes o
planejamento que dê conta de refletir sobre àquela realidade e, ainda, de
acordo com Franco (2005. p. 22), o método deve comtemplar o exercício contínuo
de espirais ciclicas: planejamento → ação → reflexão → pesquisa →
ressignificação → replanejamento → ações cada vez mais ajustadas às
necessidades coletivas → reflexões → aprofundamento da pesquisa →
ressignificação → replanejamento → novas ações →.... Esta ação é contínua e
perpassa todos os momentos da pesquisa, para que possa produzir conhecimentos e
transformções das ações iniciais.
Podemos
indicar a terceira etapa da pesquisa como as técnicas de pesquisa-ação. No
nosso caso, será indicado algumas técnicas que poderão sofrer modificações de
acordo com o resultado dos encaminhamentos dos sujeitos, pois na pesquisa-ação
elas também são discutidas e aprovadas pelos participantes. A entrevista, o
levantamento de dados estatisticos e outras técnicas mais quantitativas que
qualitativas, também serão usados, se necessário e contratuado com os
participantes.
Barbier
(2007.p.127-127) sugere as técnicas de observação participante e considera que
para a pesquisa-ação as mais apropriadas são: a Observação Participante Ativa-
OPA e Observação Participante Completa- OPC, e ainda a técnica do diário de
itinerância e gravações. Franco (2012. p. 17) sugere em sua pesquisa, o que
chama de dispositivo de formação sendo:
autoscopia (fimagem da aula), escuta
sensível, grupos de encontro, memoriais vivenciais, registros coletivos da
prática, grupo focal, dentre outos.
A quarta
etapa da pesquisa é a teorização, a avaliação e a publicação dos resultados.
Para Barbier (2007. p. 143-144),
Numa
pesquisa-ação a teoria decorre da avaliação permanente da ação. Encontra-se o
seguinte processo de pesquisa em espiral: situação problemática; planejamento e
ação n. 1; avaliação e teorização; retroação sobre o problema; planejamento e
ação n. 2; avaliação e teorização; retroação sobre o problema; planejamento e
ação n. 3; avaliação e teorização; retroação sobre o problema; planejamento e
ação n. 4; e assim sucessivamente.
A produção de relatórios
parciais serão redigidos na medida em que os participantes produzirem elementos
com as reflexões em espiral. Os artigos/textos serão publicados na medida em
que os participantes sentirem necessidade de socializar os conhecimentos
produzidos. Para Barbier (2007,p.145) a
publicação parece ser necessária numa pesquisa-ação porque suscita problemas
essenciais.
Segundo Franco (2012), a verdadeira pesquisa-ação começa após a reunião
dos dados, é um trabalho mental e os sujeitos devem conversar sobre os dados da
pesquisa, pois ela se consolida com a tessitura da construção do conhecimento
que é interpretado e partilhado entre os
sujeitos. O conhecimento emerge da dialética do processo e não do produto. A autora propõe no mínimo
dois (2) instrumentos para a pesquisa e ao chegar nas categorias,
preferencialmente coletiva, deve-se triangular, emergir o “3 D”, dar densidade,
colocando os sujeitos da experiência e os teóricos. A forma como cada um
arranja a triangulação entre conhecimento/sujeitos/teorias e tenciona os
dados, buscando as contradições entre
estes elementos/dados/sujeitos, é que dará a tessitura do texto. Assim os dados
da pesquisa devrá estar disponível aos sujeitos participantes que poderão
também produzir suas escritas.
É inegável a aproximação da pesquisa-ação com o ensino e com a pesquisa,
uma vez que esta parte do pressuposto da participação efetiva de todos os
participantes do processo e de ações reflexivas e ciclicas, produzindo novos
significados e consequentemente ações repensadas e resignificadas. A pesquisa-ação
é uma metodologia que possibilita concomitantemente aprender, ensinar,
pesquisar, descobrir, resignificar, repensar, refletir, construir saberes,
transformar práticas, reconstruir saberes.
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
BARBIER, René. A pesquisa-ação. Tradução de Lucie
Didio. Brasília: Liber Livro Editora, 2007.
FRANCO, Maria Amélia
Santoro. A Pedagogia da pesquisa-ação. Educação
e Pesquisa. Revista da Faculdade de educação da USP. Vol. 31, fascículo 3. Dez
2005. São Paulo 2005. ISSN: 15179702.
FRANCO, Maria Amélia
Santoro. A pesquisa ação na prática
pedagógica: balizando princípios metodológicos. (No prelo). 2012.
PIMENTA, S.G.(USP) Pesquisa-ação crítico-colaborativa:
construindo seu significado a partir de experiência com a formação docente.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n.3, p. 521-539, set./dez. 2005.