Minha reflexão de hoje será baseada em
um artigo que foi escrito pelo professor Mauro Betti em 2007 e contempla alguns
aspectos da relação entre a Educação Física e a semiótica que acho interessante
compartilhar com vocês.
Primeiramente o professor Mauro Betti
aborda a questão da crise de identidade na Educação Física ocorrida
especialmente no final da década de 1980 e início da década de 1990. Sabemos
que naquela época muitas discussões foram realizadas em âmbito nacional na área
da educação. Vínhamos de uma ditadura militar, depois passamos por um processo
de reabertura política em que muito se discutiu acerca da necessidade de
mudanças e quais rumos tomarem a partir daquele momento.
Dentre as discussões da época para a
Educação Física, surge o termo “cultura corporal” que seria o saber corporal, “a
perspectiva na qual ‘o movimentar-se é entendido como forma de comunicação com
o mundo que é constituinte e construtora de cultura, mas também possibilitada
por ela’” (BETTI, 2007), mas que “enquanto cultura habita no mundo do
simbólico” (BRACHT, 1999).
Ao falar de “mundo do simbólico”
imediatamente podemos associar então a “cultura corporal” com a semiótica de
Peirce que nos permite pensar que signo é tudo aquilo que significa algo para
alguém. Na Educação Física é preciso que a “cultura corporal” também seja
repleta de signos para nossos alunos, que seja um conhecimento capaz de gerar
outro conhecimento.
A “visão semiótica” de cultura (DAÓLIO,
2001, APUD BETTI 2007), é entendida como “conjunto de significados”, e permite
considerar as pessoas “agentes de cultura”, ampliando assim “o conceito de cultura
para um processo simbólico absolutamente dinâmico”. Ou seja, em meu entendimento,
o processo simbólico é como um ciclo em que a construção dos signos realizados
pelos alunos gera outros signos e, sendo assim, não acaba a não ser que o
processo, por algum motivo, seja interrompido e tudo aquilo passe a não ter
mais significado nenhum para ela.
“Assim, entender o fenômeno do corpo/motricidade,
e da Educação Física como fato cultural, supõe apoio nos estudos dos signos”
(BETTI, 2007). Betti (2007) já havia desde a década de 1990 nos alertado para a
necessidade de se estabelecer relações entre a semiótica peirceana e o ensino
da Educação Física, pois possibilitam aos professores e alunos uma troca
durante o processo de ensino-aprendizagem independente de qualquer teoria. O professor
incentivaria os alunos a consistirem signos
ou quase signos através de palavras,
situações e outros meios que podem auxiliar nessa função de associação sígnica
do conhecimento (semioses).
Portanto, podemos dizer que a semiótica peirceana
indica à Educação Física a importância de considerar tudo o que está além da
cultura. Considerar o se-movimentar
como gestos expressivos (signos) parece ser uma das soluções para que possamos
ir aquém da cultura, e depois, retornarmos a ela (a cultura) novamente num
processo dinâmico nessa construção.
A Educação Física não pode mais ser
vista como uma intervenção, mas como uma inter-locução
que possibilita o diálogo e como inter-pretação,
que possibilita pensar no que esta “entre”. “Na
Educação Física escolar apresenta-se de modo mais específico a questão do
repertório dos alunos, pois é tarefa da escola ampliá-lo, para estender aos
alunos as possibilidades de estabelecer
relações interpretantes” (BETTI, 2007, p. 216). Cabe a nós
professores então ser um facilitador desse processo.
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