Por Claudinei Chelles
Partindo de
um referencial Peirceano, Turissi apresenta sugestões na direção de uma
educação pragmatista, considerando os modelos de instrução direta e o construtivismo.
A autora busca disponibilizar aos professores instrumentos por meio do
pragmatismo para o ensino mais eficiente. Assim, a proposta do texto é interrogar
dois distintos extremos filosóficos de ensinar, e compará-los com a prática de
ensino que o pragmatismo de Peirce sugere. No primeiro momento demonstra como
Peirce interpreta a “instrução direta” e o “construtivismo” por meio do aspecto
do pragmatismo. No segundo momento é uma proposta de como a educação de nível
superior pode apoiar-se no pragmatismo, bem como de uma avaliação sobre este
contorno de intervenção.
Na primeira
parte, referente à Instrução Direta, mencionando uma breve genealogia crítica,
Turissi cita que John Dewey (1897, 1926) estabeleceu uma fundação para o
construtivismo e consequentemente ultrapassa o “método tradicional”[1]
de ensino, já que suas ideias afirmam que a vida social não era apenas idêntica à comunicação, mas toda
comunicação (e, portanto toda vida social genuína) era educativa. (...) Toda comunicação é como a arte. Pode-se com justiça afirmar, portanto,
que qualquer arranjo que se mantenha vitalmente social, ou vitalmente
compartilhado, é educativo para aqueles que dele participam. Apenas quando ele
se torna engessado num molde e passa a funcionar de uma maneira rotineira, ele
perde seu poder educativo. No final,
portanto, não apenas a vida social requer ensino e aprendizado para sua própria
conservação, mas o próprio processo de viver junto educa. Ele amplia e ilumina
a experiência; ele estimula e enriquece a imaginação; ele cria responsabilidade
pela precisão e vivacidade da fala e do pensamento. Um homem vivendo realmente
sozinho (sozinho tanto mental quanto fisicamente) teria pouca ou nenhuma
oportunidade de refletir sobre sua experiência passada para dela extrair sua
rede de significados.
Para a
autora, na educação a “instrução direta” é uma forma contemporânea, ainda
presente nos métodos de ensino de escolas elementares, já que no ensino
superior sua presença ocorre pela presença do “método da aula expositiva”. A
“instrução direta”, fundada na década de 1960, nos Estados Unidos, sendo
tradicional no processo de ensino-aprendizagem tendo como interação os scripts de perguntas e respostas, com o
argumento que os resultados são melhores que as técnicas cognitivas. O método
de aula expositiva é o modelo de educação superior herdeiro da educação
tradicional. Para ela esse molde admite que o aluno é uma caixa e o professor
ensina colocando conhecimento na caixa. Ou seja, o aluno é receptor passivo, já
que no artigo de Peirce ”A Fixação das Crenças” pode se encontrar uma versão
dessa refutação. O método de instrução tradicional direta, ou da aula
expositiva, seria, nos termos de Peirce, autoritário. Ou seja, alguém que não o
crente subsequente decide o que as crenças deverão ser, expressa-as, e as
reforça. As restrições do ensino e aprendizado acrítico e autoritário propiciam
uma revolta ao sistema de educação tradicional.
Conforme
a perspectiva de Turrisi, o construtivismo seria uma opção para projetar um
sistema de educação no qual a construção do significado de seu aprendizado,
pelo estudante individual, é considerada uma prioridade. Sendo que mais adiante
busca referenciais em Jean Piaget, Jerome Bruner e Lev Vygotsky, assim como em
John Dewey. Para ela esses pensadores focaram o aprendizado para a vida
interior do indivíduo. Ou seja, “enquanto experienciamos algo novo, o
internalizamos por meio de nossas experiências ou construções de conhecimento
que estabelecemos previamente”.
O
construtivismo considera-se livre de dogmas. Até certo nível, então, ele está
livre do dogma da autoridade e das crenças não derivadas através de um processo
interno. O dilema a priori é este:
apenas porque eu possa vir a crer em algo, isso não implica que outros virão a
acreditar na mesma coisa. Se nós vivemos em comunidades, um universo público de
qualquer tipo, é importante reconciliar aquilo em que eu acredito com aquilo em
que outros acreditam. Planos educacionais construtivistas atentam para estas
questões algumas vezes ao não avaliarem os estudantes através de um conjunto de
critérios padrões, mas os encorajando a criarem portfólios sobre suas
investigações que eles mesmos interpretam e avaliam. No conhecimento
construtivista por teoria não se acredita que aquilo em que pensamos é verdade
sobre uma realidade independente, mas apenas que é “verdadeiro para mim.” A ideia
de que possamos experimentalmente determinar a verdade sobre uma realidade
independente é impossível nos termos do construtivismo.
Na segunda parte, sob a perspectiva
do pragmatismo, considerado um método científico de pesquisa, ensino e
aprendizado, a autora apresenta notas de Peirce (1903) escrevendo sobre as
passagens que revelaram suas ideias a respeito inclusive da importância da
lógica ser efetivamente considerada no âmbito de uma educação liberal. Ainda,
ela cita que Peirce propõe seu “processo de formar opiniões filosóficas” e seu
“método de discutir consigo mesmo uma questão filosófica”, já que nada pode ser aprendido de livros ou de aulas.
Eles não devem ser tratados como oráculos mas simplesmente como fatos a serem
estudados. Então, os fatos
devem ser ensinados e aprendidos pelo pragmatismo, que apresenta três elementos
significativos para a educação, que são: (1) a dependência das ciências em
relação à lógica; (2) a natureza categorial do pensamento; e (3) a aplicação
das categorias à realidade.
Turrisi
apresenta que os ramos da lógica correspondem às três categorias da
Fenomenologia, descobrindo e modelando o raciocínio que é representativo das
relações entre a Primeiridade, Segundidade e Terceiridade. A primeiridade
refere-se ao fenômeno do sentimento, à percepção; a segundidade refere-se ao
elemento de um fenômeno de força ou luta, à reação; a terceiridade é um meio
entre um Segundo e seu Primeiro, uma representação, um geral ou uma lei. E, os
correspondentes da lógica são a abdução, a dedução e a indução. A abdução
origina uma ideia; a dedução examina os argumentos possíveis relacionados às ideias;
a indução examina o grau pelo qual os argumentos são produzidos na experiência.
O pragmatismo é o trabalho com as representações do começo ao fim.
Educadores
que utilizam da instrução direta ou do construtivismo centrado no estudante,
negam o desejo por tal método. A instrução direta ensina leis já descobertas
como dogmas enquanto o construtivismo nega a existência de todas essas leis. O
construtivismo promoveu métodos de ensino e aprendizado que preenchem algumas
das condições necessárias para um pensador provir abduções. Escrever para
aprender, discussões, e técnicas de aprendizado experiencial estimulam um
ambiente no qual os estudantes assumem responsabilidade por proporem e
solucionarem problemas de sua própria criação. Possibilitar a experiência produz
familiaridade com o fenômeno. Há uma grande oportunidade para introduzir os
ramos da lógica que lidam com predições e as respostas de fenômenos naturais a
inferências que provam ou negam sua validade. A habilidade do pragmatismo de
influenciar a concepção da realidade do estudante, e o engajamento com ela,
melhoraria significativamente a educação moderna.
Portanto,
Turrisi sugere que o espírito do pragmatismo torne-se manifesto na sala de
aula: (1) a lógica deveria ser ensinada a partir da menor idade possível e
continuada através de toda a educação superior; (2) a lógica deveria ser
aplicada como um método para considerar quais efeitos, que poderiam concebivelmente
ter conseqüências práticas. Estudantes deveriam ter oportunidades de praticar o
método do pragmatismo; (3) possibilitar aos estudantes que se conscientizem de
quão longe foram investigações sobre dados fenômenos. Pois, as mudanças promovem
o “pensamento correto”. Condição em que os professores não são os juízes da
verdade; a realidade é. Os alunos estudando lógica são apresentados às questões
e problemas com que seus professores se acostumaram há bastante tempo.
Assim, os
educadores precisariam acompanhar tais transformações promovendo que os alunos
encarem o pensamento
antes que eles considerem que tenham aprendido alguma coisa; e ele não se
incomodaria de dedicar um tempo considerável a isso. Portanto, o treinamento em lógica seria uma solicitação
para professores e estudantes. A experiência seria o fundamental para o ensino.
A educação é um “objeto de concepção” do humano, cujo todo não é inteiramente conhecido
ou compreendido. Tanto a instrução direta quanto o construtivismo não garantem,
pelos seus pressupostos científicos, uma crença de que os objetivos da educação
possam ser atingidos através desses métodos. Isso justifica que o método
pragmatista de educação proposto auxilia a lógica para encontrar os efeitos,
que poderiam repercutir na compreensão da realidade.
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[1] Rote method, no original. (N.Trad.)
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[1] Rote method, no original. (N.Trad.)
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