Reprovação de um aluno em uma determinada
série, a não-aquisição de certos conhecimentos e competências são casos que
podem ser exprimidos pelo termo “fracasso escolar”. Entende-se por fracasso
escolar qualquer insucesso envolvido no processo de ensino-aprendizagem,
particularmente, o “porque” do aluno não conseguir aprender. Contudo, mesmo
sabendo que a descoberta do fracasso escolar poderia solucionar dos problemas
da escola, Charlot (2000) aponta que o “fracasso escolar” é complexo, amplo e
impossível de ser palpado e analisado, portanto nos sugere entender que talvez
não haja o fracasso escolar, mas que existam alunos em situação de fracasso[1].
Não por acaso, estudos sociológicos na década de 70, como de Bordieu
tentam desvendar as causas do fracasso escolar por meio da teoria sociológica
da reprodução. Essa investigação condena a escola como um local que contribui
para a reprodução das desigualdades sociais. Já que, seu olhar investigativo
parte da hipótese em afirmar que a probabilidade de sucesso escolar é maior nos
filhos das classes dominantes do que nos filhos das classes desfavorecidas e,
conseqüentemente, estes conseguiriam melhores condições no mercado do trabalho
e na sociedade.
Sob o ponto de vista estatístico não
há o que contestar, filhos de pais das classes dominantes predominam com maior
sucesso escolar, entretanto, Charlot (2000) critica a teoria de reprodução[2],
por acreditar que é mecânica e reducionista ao excluir e ignorar as questões
dos próprios sujeitos enquanto seres singulares que interpretam, dão sentido,
agem no e sobre o mundo por meio das suas relações com os outros e também, a
teoria não explica a totalidade dos fenômenos da expressão “fracasso escolar”.
A principal queixa do autor, refere-se a possibilidade dos próprios sujeitos
contribuírem nas próprias mudanças de destinos sociais. O que se quer dizer é
que não basta ser somente “filho/herdeiro de...”, é indispensável que se
estude, que se adquira uma atividade intelectual.
É nesse pano de fundo que Charlot
(2000) se interessa a ampliar seu campo de investigação, pois, assim como os
estudos Bordieu, até dado momento as pesquisas da sociologia da educação buscam
confirmar e validar se as teorias sociológicas se reproduzem na escola.
Todavia, Charlot (2000) transita da idéia de coerção social como foco
investigativo para uma possível “sociologia do sujeito”. Isto é, prefere
considerar as questões subjetivas do indivíduo enquanto ser social dotado de
história pessoal nascido em um mundo pré-existente/estruturado, sobretudo,
submetido à obrigação de aprender para ocupar um lugar no mundo.
[1] Conforme dicionário Houaiss (2009): “não ter
êxito; falhar, frustrar-se, malograr-se”. Para Charlot, o insucesso escolar, o
não-êxito escolar.
[2] A palavra reprodução remete a idéia
de não ter escolha, assim como quando
nascemos (fruto de uma reprodução biológica) não tivemos a opção de manifestar
interesse ou não de nascer, simplesmente nascemos. A teoria da reprodução na
escola, assim como a palavra, condena o sujeito como resultado de uma
reprodução, não tendo então, a opção de sucesso ou fracasso escolar.
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