Olga
L.Anglas R.Tarumoto
Segundo Charlot (2000)
na obra de P. Bourdieu há uma correlação estatística entre a origem social do
indivíduo e seu sucesso ou fracasso escolar. Uma explicação possível para essa correlação
seria a de que o sucesso escolar depende do capital cultural. A ideia é a de
que uma família rica em capital cultural considera a educação escolar como um
investimento que, de certa forma, garante sua posição social.
Para Charlot, a
sociologia dos anos 1960-70 analisou o fracasso escolar como diferença de
posições sociais entre alunos. Ele, por sua vez, propõe uma análise desse
fenômeno a partir do conceito de “relação com o saber”. Nesse caso, a análise desenvolver-se-ia
a partir de uma “leitura positiva” da experiência do aluno, de sua
interpretação do mundo e de suas atividades no mundo:
[...] o fracasso escolar não é apenas
diferença. É também uma experiência que o aluno vive e interpreta.
[...] A expressão “fracasso escolar”
designa: as situações nas quais os alunos se encontram em um momento de sua
história escolar, as atividades e condutas desses alunos, seus discursos
(Charlot, 2000, p. 17).
Observa-se desta forma
que Charlot admite a existência de uma relação estatística entre a origem
social da criança e seu sucesso ou fracasso escolar, enfatizando, entretanto,
que essa não é uma relação direta de causa-efeito, uma vez que há crianças do
meio popular que obtêm sucesso escolar, assim como há crianças de classe média
e alta que fracassam.
Do ponto de
vista estatístico, uma correlação indica a existência de uma relação linear
entre as variáveis na qual os valores das mesmas alteram-se simultaneamente;
quando falamos em causalidade referimo-nos à influência que uma dada variável
assume sobre outra. Ou seja, quando existe causalidade reportamos que a
variável X é causa das alterações registadas na variável Y. Por outo lado, a
existência de uma correlação entre X e Y pode indicar três situações: que X tem
influência sobre Y, que Y influi sobre X, ou que a relação entre ambas se deve
a uma variável Z, ou a um conjunto de outras variáveis não tomadas em
consideração. Isto porque uma correlação não nos indica a direcionalidade da
mesma, apenas o modo como as variáveis se movimentam: p. ex. quanto maior os
valores de X menor são os de Y (correlação negativa).
Desta forma, entende se
a relação estatística ou correlação estatística como sendo a força e a direção
do relacionamento linear entre duas VARIÁVEIS QUANTITATIVAS. A sua utilização é
importante quando precisamos avaliar o grau de relacionamento entre duas ou
mais variáveis. É possível descobrir com precisão, o quanto uma variável
interfere no resultado de outra. As técnicas associadas à Análise de Correlação
representam uma ferramenta fundamental de aplicação nas Ciências Sociais,
Humanas, Biológicas e Exatas. A análise de correlação é uma das técnicas mais
populares da Estatística e a ideia de correlação uma das mais importantes.
Nesse sentido geral, existem vários coeficientes medindo o grau de correlação,
adaptados à natureza dos dados. A medida de correlação mais usada é o
coeficiente de correlação linear de Pearson, calculado pela razão da
covariância de duas variáveis pelo produto de seus desvios padrão. Apesar do
nome, foi apresentada inicialmente por Francis Galton, em meados do século XVII
.
No entanto, segundo Larson
e Farber (2010), uma correlação forte não implica necessariamente uma relação
de causa e efeito entre elas, necessitando de um estudo mais aprofundado a
respeito das variáveis estudadas. Desta forma, caso haja uma correlação forte
entre duas variáveis, o pesquisador deve considerar as seguintes
possibilidades:
a. Há uma relação direta de causa e efeito entre as
variáveis?
b. Há uma relação de causa e efeito reversa entre as
variáveis?
c. É possível que a relação entre as variáveis possa
ser causada por uma terceira variável ou talvez pela combinação de diversas
outras variáveis?
d. É possível que a relação entre as variáveis sejam
uma coincidência?
Desta forma geral, o
estudo da relação causa-efeito permite a intervenção de forma a atingir o
objetivo desejado. Para alcançar tal
objetivo é importante o estudo da análise de correlação. Sob esta ótica, o
resultado apresentado por Bourdieu é importante e pode gerar resultados
significantes, no entanto, deve tomar o cuidado alertado por Charlot sobre o
que é causa e efeito, pois pode haver outras variáveis não observadas
diretamente que esteja contribuindo para a correlação entre o nível social e
sucesso ou fracasso escolar (caso c. entre as possibilidades apresentadas por
Larson e Farber, 2010), o que com uma ação sobre estas pode gerar um resultado
significativo para o sucesso ou fracasso escolar.
BIBLIOGRAFIA
CHARLOT,
B. Relação com o Saber, Formação dos
Professores e Globalização: Questões para a educação hoje. Porto Alegre
(RS), Artmed Editora S.A, 2005.
CHARLOT,
B. Da relação com o saber: elementos
para uma teoria. Porto Alegre (RS), Artmed Editora S.A., 2000.
LARSON,
R.; FARBER, B. Estatística Aplicada.
4ª Ed., São Paulo, Prentice Hall, 2010.
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