PELEGRINI,
Sônia Maria
A partir das leituras e discussões
da disciplina, fiquei tentada em pensar a relação proposta no título acima e
resolvi arriscar. Este tema tem sido por demais debatido nas escolas e tem sido
foco de políticas públicas dos governos municipais, estaduais e federal, em
função do número de crianças não alfabetizadas nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, encaminhadas aos anos finais do Ensino Fundamental e, dos
resultados das avaliações externas; não entrarei aqui, no mérito da qualidade e
validade destas avaliações.
O Ministério da Educação - MEC lançou
no final de 2012 um Pacto Nacional, que propõe que todas as crianças estejam
alfabetizadas na idade certa, ou seja, ao final do 3º. ano de escolaridade, por
volta dos oito anos de idade; o chamdo “Programa Nacional de Alfabetização na
Idade Certa” – PNAIC, cujo objetivo é subsidiar ações que possibilitem as redes
de ensino buscarem alternativas para
resolver esta “equação”. O referido programa está sob a coordenação pedagógica
da Universidade Federal de Pernanbuco e terá como foco a formação dos
professores que estejam atuando com os 1º., 2º. e 3º. anos do Ensino
Fundamental. (para mais informações, ver site do MEC).
Como professora alfabetizadora e, a
frente de uma secretaria de Educação
Municipal nossa ideia é discutir e encontrar alternativas para enfrentamento destas questões e, a partir
deste contexto, relatarei uma experiência na rede municipal de Presidente
Prudente, sob a coordenação da Prof. Dra Onaide Schwartz Mendonça, a frente do
Nucleo de Ensino da FCT/UNESP de Pres.
Prudente.
O projeto denominou-se: Alfabetização Sociolinguística no Município de
Presidente Prudente e teve seu início como projeto piloto em duas escolas no
ano de 2011.
Introduçao e
Justificativa:
Neste trabalho pretendemos apresentar resultados finais de pesquisa
realizada em Projeto do Núcleo de Ensino da FCT/UNESP/ Presidente Prudente-SP,
na rede Municipal de Ensino, no ano de 2011. Foi proposto uma formação
continuada aos professores de duas escolas. A necessidade desta formação surgiu
após a constatação do alto número de alunos não alfabetizados, nos anos
iniciais do Ensino Fundamental (1º. ao 5º. ano). Essa proposta traz uma nova
perspectiva para a alfabetização, pois compreende método como organização e
sistematização do trabalho docente. Propõe que o processo tenha por princípio a
realidade do aluno, desenvolvendo a oralidade e a conscientização através do
diálogo, defende a implementação de atividades linguísticas para explorar
conhecimentos específicos da alfabetização através da leitura diversificada do
alfabeto, da ficha de descobertas, processos de análise e síntese, e de
estratégias didáticas dos níveis pré-silábico, silábico e alfabético. Traz
ainda, o trabalho com diferentes gêneros textuais e, com isso, promove também o
letramento. É sócio, porque valoriza
o diálogo no ambiente de sala de aula, e é linguístico,
pois desenvolve atividades específicas de leitura e de escrita.
Objetivos:
O objetivo foi oferecer
formação continuada aos professores em exercício e às equipes gestoras
de duas escolas, com foco na alfabetização através do método Sociolingüístico,
decorrentes da teoria da Psicogênese da Língua Escrita de Emília Ferreiro e Ana
Teberosky, para garantir a alfabetização das crianças na idade certa.
Descrição:
O Projeto teve início com o oferecimento de um curso para
professores das duas escolas, através do qual aprenderam teorias e práticas
sobre o Método Sociolinguístico de Alfabetização.
Considerações iniciais:
A análise dos dados indicou a evolução dos níveis de escrita em menos
de três meses de trabalho. Os resultados da aplicação do método
sociolinguístico mostraram que mais de 90% das crianças do 1° e do 2° anos,
destas duas escolas, concluíram o ano alfabetizadas e que é possível
alfabetizar todas as crianças na idade certa. Nessa proposta os alunos tornam-se
de fato os sujeitos da sua aprendizagem, pois são motivadas e envolvidas
passando a fazer parte do processo. Constatou-se que a maioria das crianças do
1º ano já havia compreendido o funcionamento do sistema linguístico na
composição de palavras e frases, enquanto os de 2° ano passaram a produzir
textos longos, coerentes e coesos.
Continuidade do projeto:
No segundo semestre de 2011, foi diagnosticado um total de 13% de
crianças dos 3º., 4º. e 5º. anos não
alfabetizadas na rede municipal e, oferecida uma capacitação específica aos
professores que trabalham com projeto de apoio nas escolas municipais e que
atendem estas crianças.
Face aos resultados a secretaria de Educação Municipal ofereceu, no
inicio do ano letivo de 2012, o curso à
todos os professores de 1º. e 2º. anos. Tivemos assim em 2012 cerca de sessenta
(60) professores, 50% da rede, trabalhando com a proposta e os resultados começaram a aparecer logo nos primeiros meses com avanços
significativos.
Ao final do ano de 2012 o resultado obtido foi de 72% das crinças do
1º. ano (com 5 e 6 anos de idade), já no ultimo estágio do processo de
alfabetização - “alfabéticas” e, 83% de
crianças do 2º. ano (com 6 e 7 anos de idade),
já alfabetizadas e iniciando a produção de textos coerentes. Podemos
pressupor com estes dados que “É possível alfabetizar todas as crianças na
idade certa” (título do artigo apresentado, por nós, no I Congresso
Internacional sobre a Teoria Histórico Cultural, em 2012, na UNESP de Marília).
Acreditamos que essa proposta vem atender à demanda recorrente da
escola e, dos professores que necessitam de fundamentação teórica e vivências produtivas
de práticas e atividades para alfabetizarem com competência e, na idade certa.
Minhas reflexões:
Para quem já alfabetizou crianças, cujo repertório, ou, como diz
SILVA (2008), “o capital de signos disponíveis”, são reduzidos, é necessário
conhecimento aprofundado sobre a construção do “signo” e que, sobretudo,
conforme SILVA, o afeto inicia
qualquer relação de aprendizagem, pois o que não afeta o sujeito, não atinge a mente e não produz “signo”.
Na especificidade da aprendizagem da lingua escrita, poderíamos
arriscar a seguinte relação quanto as categorias fundamentais do processo de
significação: A primeiridade, seria a
sensação, o sentimento e a curiosodade de querer e poder entender o mundo da
escrita; a secundidade seria o
movimento que a criança vive num ambiente alfabetizador que produza sentido,
dúvida, surpresas, ao meu ver o principal momento para “afetar” as crianças; a terceiridade seria a elaboração do
processo mental sobre a contrução da lingua escrita e sua
aplicação/generalização a partir dos elementos intermediados pelo professor
alfabetizador.
De acordo com SILVA:
O professor tem grande responsabilidade na
condução do processo comunicativo/cognitivo, porém a aluno também é agente, é
sujeito. O aluno não é passivo, não deve ficar a espera de um conhecimento
pronto. O professor atua como um signo intermedeia
os objetos do mundo ao aluno, ambos produzindo conhecimento nesse processo
semiótico. Os três aspectos: mundo, aluno e professor estão envolvidos no
processo, em uma trilha do conhecimento. (2008, p. 265)
As propostas de práticas pedagógicas da metodologia sociolinguistica
pressupoem que o aluno é parte integrante e sujeito da sua aprendizagem e nesta
tríade o professor “internedeia” o mundo/objeto, no caso a lingua escrita, e o
aluno com seu capital de signos disponíveis e, àqueles construídos ao longo do
processo.
Observou-se no decorrer da implantação da proposta o envolvimento e
significação das crianças na contrução do processo. Houve depoimentos em que as
crianças de uma escola da peliferia, escola de menor IDEB, em que as crianças
ao sairem para o intervalo, queriam levar giz para bricarem de escolinha no
pátio, tão significativo aquela experiência da descolberta do código
linguístico. Outro resultado apontado em 2012, são as crianças de 5 e 6 anos do
1º. ano, de um bairro da zona de exclusão social da cidade, produzindo livro com textos
variados e, a mesma escola com cinco turmas de 1º. ano, pela primeira vez nos
ultimos sete anos (período que a diretora está na escola), conseguiram mais de
90% de crianças, no ultimo estágio do processo da construção da escrita -
alfabéticas.
A partir destas reflexões, pode-se intuir que, não foi apenas o conhecimento
da uma nova metodologia de ensino que provocou estas modificações e resultados,
mas, o significado que afetou cada um
dos professores alfabetizadores, na medida em que iam aprendendo e resignificando
um novo jeito de propor atividades que envolvessem as crianças neste processo
que “normamlmente” já tem uma significação para as crianças nesta idade.
Referencias bilbiográfica
e bibliografia básica:
SILVA, A. C.
T. da. A perspectiva semiótica da
educação. Revista Teoria e Prática da Educação , Maringá,
v.11,n.3,p.259-267, set-dez.2008.
MENDONÇA, Onaide
Schwartz Correa de; PELEGRINI, Sônia Maria e MORAES, Margaret. Alfabetizar crianças na dade certa é
possível. Trabalho completo apresentado no I Congresso Internacional sobre
a Teoria Histórico Cultural, UNESP/Marília/SP, 2012.
MENDONÇA, O. S.; MENDONÇA, O. C. Alfabetização - Método Sociolinguístico: Consciência social,
silábica e alfabética em Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2007. 150p., ISBN
978-85-249-1284-9.
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