As
discussões sobre a teoria de Bernard Charlot vivenciadas na Disciplina Saberes docente e aprenderes discentes,
me fizeram realmente refletir, enquanto professora, sobre a relação que os
alunos têm com o saber e perceber que nem sempre o “aprender” tem o mesmo
sentido para alunos e professores.
Aprender é exercer
uma atividade em situação: em um
local, em um momento da sua história e em condições de tempo diversas, com a
ajuda de pessoas que a ajudam a aprender. A relação com o saber é relação com o
mundo, em um sentido geral, mas é, também, relação com esses mundos
particulares (meios, espaços...) nos quais a criança vive e aprende. (CHARLOT, 2000, p. 67)
Diante
disso, o texto O Saber e as Figuras do
Aprender¹ contribuiu de forma significativa para minha compreensão dessa
relação de saber e aprender. Gostaria de destacar as dimensões do saber
abordadas por Charlot: a dimensão epistêmica, a dimensão de identidade e a
dimensão social.
Dimensão
epistêmica
Charlot
aponta três formas de relação epistêmica com o saber:
·
Aprender
enquanto atividade de apropriação de um saber, passar da não-posse à posse de
determinado saber (saber-objeto); esse processo epistêmico é chamado de objetivação-denominação.
·
Aprender
a dominar uma atividade, passar do não-domínio ao domínio de uma atividade;
esse processo epistêmico é chamado imbricação
do eu na situação.
·
Aprender
significa entrar em um dispositivo relacional (apropriar-se de formas
relacionais – relação consigo próprio, com os outros), dominar essas relações e
encontrar a distância conveniente entre si e os outros; esse processo
epistêmico é chamado distanciação-regulação.
aprender faz sentido
por referência à história do sujeito, às suas expectativas, às suas
referências, à sua concepção de vida, às suas relações com os outros, à imagem
que tem de si e à que quer dar de si aos outros. (CHARLOT, 2000, p. 72)
O
que sou capaz de aprender? Essa relação de sucesso e fracasso com o saber
permeia a vida dos alunos ao longo dos anos escolares. O autor cita o exemplo
da relação de alguns estudantes com a matemática: alguns alunos relatam gostar
da matemática em determinado ano porque gostam do professor e, no ano seguinte,
não gostam da matéria porque não gostam do professor. Esse tipo de relação com
a matemática está na dependência da relação com o professor e do aluno consigo
mesmo. É uma situação na qual estão envolvidas as dimensões epistêmicas e de
identidade.
Dimensão
social
A
relação com o saber é também uma relação social, pois o sujeito dessa relação
não se relaciona apenas consigo mesmo (história de vida), mas com o mundo
(lugar onde vive, origens), com outras pessoas (pais, colegas, professores),
tem uma história social.
Charlot
deixa claro que a dimensão social não se acrescenta às outras dimensões, mas
contribui para dar-lhes uma forma particular, são dimensões inseparáveis.
O
que sou capaz de aprender? O que nossos alunos são capazes de aprender nas
escolas que temos? Estamos conseguindo mobilizar nossos alunos para o saber?
Será que somos capazes sequer de perceber o que mobiliza ou não nossos alunos?
Será que já não passou da hora de repensarmos os conteúdos e “práticas” de
ensino que não tem sentido para as crianças e jovens?
Se
o que nos move é o “desejo de” fazer, aprender, conhecer... precisamos tornar a
educação desejável!
Vivian
A. Corrêa Braz
REFERÊNCIA
CHARLOT,
B. Da relação com o saber: elementos para
uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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