Alex
Pessoa
Minha proposta, ao
elaborar esse texto, é apresentar elementos que considerei mais relevantes no
decorrer da disciplina. De antemão, destaco o contato mais direto com a produção
teórica de Charlot, especialmente seus apontamentos no que se refere às relações
com o saber. Nesse sentido, proponho uma análise, ainda que breve e carecedora
de aprofundamentos filosóficos, do papel que a escola, compreendida como instituição
aglutinadora de saberes historicamente produzidos pela humanidade e socialmente
reconhecida como relevante (pelo menos no campo discursivo), ocupa na vida de crianças
e adolescentes. O recorte que darei fundamenta-se na realidade de populações
que vivenciam situações de exclusão e vulnerabilidade social. Parto, dessa maneira,
do pressuposto de que o pertencimento a diferentes segmentos sociais produzem discrepâncias
na maneira de compreender e de se relacionar com os saberes.
Nesse campo de debates,
não tão bem explorado quanto se cogita, me parece plausível recorrer, e aqui
farei de forma libertina, ao conceito de sentido e significado. Em outras
palavras, considero de extrema relevância que analisemos, com base em
diferentes referenciais epistêmicos, como crianças e adolescentes se relacionam
com as instituições escolares e como (re)significam os conteúdos propostos. Para
que não haja reducionismos ou interpretações minguadas, esse problema de estudo
exige diferentes olhares. Proponho, para o momento, um enfoque para elementos
de ordem subjetiva, que produzem, ou não, condições favoráveis para a valorização
da escola e das práticas pedagógicas.
Libâneo, em uma de suas
obras mais conhecidas, ao analisar alguns processos históricos relacionados à
escola apontava que, até a década de 70, o simples fato de frequentar a escola
garantiria êxito no que tange a inserção em postos de trabalho e, certamente,
nos padrões prescritos socialmente como sucesso. Portanto, frequentar regularmente
a escola representava a possibilidade de mobilidade social e talvez fosse a
atividade mais valorizada. Com as mudanças na dinâmica social, como por
exemplo, um ideal de “escola para todos”, mudanças na forma de produção,
aumento do acúmulo de capital, entre tantas outras, a escola deixa de ser, por
si só, asseguradora de índices satisfatórios do ponto de vista econômico. Nesse
panorama, o discurso da escola como desencadeadora do sucesso e do
reconhecimento social já não mais se sustenta, especialmente para aqueles que
frequentam instituições inseridas em contextos de exclusão e vulnerabilidade
social, onde se visualiza de forma mais efetiva a impossibilidade de ruptura de
ciclos de pobreza, mesmo das pessoas que passaram por processos de escolarização
formal.
Outro ponto que
gostaria de chamar a atenção do leitor relaciona-se a falta de conexão dos
conteúdos programáticos com a vida desses estudantes. Paulo Freire sempre fazia
questão de salientar que “a educação deve ser para a vida”. Em concordância com
essa afirmação, defendo que um dos maiores desafios da educação é demonstrar a importância
e a aplicabilidade cotidiana dos temas desenvolvidos no ambiente escolar. Não é
por acaso que estudos recentes revelam que uma das disciplinas destacadas pelos
estudantes como mais importante seja a matemática. A utilização dos conteúdos dessa
disciplina extrapolam meras abstrações e trazem repercussões concretas para a
vida de quem aprende. Essas constatações exigem mudanças paradigmáticas na
forma de ensinar, não apenas na educação básica, mas em todos os níveis de
ensino.
No último ponto, desse
texto e não do debate, quero abordar o tema das relações constituídas no
ambiente escolar, sobretudo entre professores e alunos. As relações que emergem
de posições hierárquicas seguem uma tendência a destituir o outro enquanto
sujeito possuidor de direitos e saberes. O que acompanhamos é um entrelaçamento
de problemáticas no campo da educação, e destaco aqui temas como políticas
nacionais da educação, condições de trabalho, formação inicial e continuada, etc.,
que reverberam nas relações que são estabelecidas entre docentes e alunos. Os
imediatismos na resolução dessas questões forjam culpados: alunos, que não querem
aprender, e / ou professores que não querem / sabem ensinar. Destarte, essa dinâmica
transforma professores e alunos em personagens esquizofrênicos, com
dificuldades de relacionamento.
Esses três pontos, que
podem ser vistos apenas como devaneios, sugerem um vasto campo teórico a ser
percorrido para a compreensão da relação com o saber de estudantes de classes
sociais desfavorecidas com a escola, na medida em que a instituição não produz
sentidos e significados convidativos para que o aluno se relacione com o saber
institucionalizado.
A leitura de Charlot
traz contribuições interessantes, embora, sob meu ponto de vista, é insuficiente
para lidar com temas como diferenças culturais. Seus textos colaboram no rompimento
da supervalorização da escola e na supremacia dessa instituição como detentora
do conhecimento, tão presente na cultura ocidental. Seus escritos sugerem uma
análise cautelosa e pormenorizada dos saberes presentes nos lugares, nos objetos
e nas relações humanas. Portanto, sua obra pode auxiliar no enfrentamento dos
problemas educacionais supracitados, sem, no entanto, recorrer a modelos teóricos
subjetivistas e, fundamentalmente, esclarecendo que os saberes se baseiam numa
relação com o mundo, extrapolando o modelo escolar vigente.
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