A
leitura dos textos de Bernard Charlot (1996 e 2000), levou-me a refletir sobre
pesquisa que pretendo desenvolver neste curso de doutorado e sua relevância
para a compreensão de processos de ensino e aprendizagem.
Ainda
que eu não utilize as elaborações deste teórico para a realização da pesquisa,
penso que quando ele fala da importância de conhecer a singularidade dos
sujeitos, inseridos num contexto mais amplo, quando trata de significado e
sentido, e das relações do sujeito com o saber, permite a reflexão sobre
diversos aspectos do que pretendo investigar.
Diferentemente
das pesquisas apresentadas por Charlot (1996), me proponho a estudar a sala de
aula e não a escola, embora não se possa considerar aquela desvinculada desta.
Pretendo investigar, em uma sala de aula, práticas de ensino de estratégias de
leitura e como os alunos se apropriam destas e as utilizam para construir os
sentidos dos textos.
Sendo
a leitura aspecto fundamental para o sucesso ou fracassso escolar, entendo que
minha preocupação se aproxima da discussão que ele faz em “Relação com o saber
e com a escola entre estudantes de periferia”. Partindo de postulados que
apontam, num contexto mais amplo, que bons leitores utilizam determinadas
estratégias para elaborarem os sentidos, me proponho a investigar os processos
singulares de aprendizagem das estratégias de leitura no contexto da sala de
aula.
Penso
que os conceitos apresentados por Charlot (1996), retomando Leontiev, de
significado (social) e sentido (individual), fracasso e sucesso escolar, e de
relação com a escola e com o saber, têm me ajudado muito a pensar sobre como
realizar minha pesquisa.
A
relação com a escola e com o saber é uma relação de sentido engendrada e
alimentada pelos móbiles que se enraízam na vida individual e social, mas é
também relação com um saber que a criança, para se formar, deve se apropriar de
maneira eficaz. (CHARLOT, 1996, p. 50)
Entendo que a maior
parte do que se tem feito em relação ao ensino de leitura, afirmando pretender
a construção do gosto, do hábito e do prazer na leitura, constitui-se em
motivação e não em mobilização, pois esta depende da relação individual que
cada sujeito estabelece com o objeto de estudo e ao sentido que esta possui.
Charlot afirma que. “Motiva-se alguém de fora, mas
se mobiliza de dentro. [...]
É importante compreender que a mobilização é interna e supõe um desejo do próprio
aluno.” (CHARLOT, 2005, entrevista). Afirma, ainda, que, “a criança
mobiliza-se, em uma atividade, quando investe nela, quando faz uso de si mesma
como de um recurso, quando é posta em movimento por móbeis que remetem a um
desejo, um sentido, um valor.” (CHARLOT, 2000, p. 55)
Penso que no que tange
aos diferentes saberes escolares, inclusive à leitura, a mobilização é fator
determinante.
Como, em minha
pesquisa, serei pesquisadora e atuarei como professora (embora não titular) da
turma investigada, me preocupo também com o papel do professor para a
mobilização dos saberes. Neste sentido, as pesquisas de Charlot podem
contribuir pois, embora os processos que identificam o “bom professor” sejam
singulares e ocorram de maneira diferente para cada um, alguns aspectos
levantados em suas pesquisas a partir do que apresentam os alunos podem ser
pistas para o docente refletir sobre seu papel e suas maneiras de agir e de
conduzir os processos de ensino em sala de aula, a partir das afirmações de
alunos. “[...] o bom professor se esforça, explica bem e repete com paciência,
provoca a vontade de estudar, é tranquilo[...]”
(CHARLOT, 1996, p. 54)
Ainda que o professor
tenha papel fundamental, entendo que só o ele e, no caso da minha pesquisa, o
professor com uma determinada metodologia de ensino, não são elementos
suficientes para mobilizar todos os alunos para o saber. Os estudos de Charlot
mostraram que a mobilização na escola também depende de fatores externos, que
constituem a mobilização para a escola. Esta não determina a mobilização na
escola, mas estabelece relação.
Vislumbro um desafio
fascinante e talvez doloroso, no desenvolvimento de minha pesquisa para que eu
possa pensar em ações que contribuam para a mobilização dos alunos para a
leitura. Assim, me pergunto: porque alguns gostam e outros não gostam de ler?
Como mobilizar os alunos para que leiam mesmo quando não estão sendo cobrados?
Mais do que saber utilizar estratégias para construir uma compreensão e, mesmo
anterior a essas não estaria a mobilização para a aprendizagem delas?
A partir dos estudos de
Charlot entendo que a mobilização para este saber (que é, ao mesmo tempo uma
ação) é essencial para que se faça da leitura algo constante na vida dos alunos
e assim, ao lerem poderão aprender diferentes conteúdos, bem como aprender mais
sobre o próprio processo de leitura. Não conseguirei responder a
todas essas perguntas em minha pesquisa, mas elas permanecerão em minha mente,
me incomodando e, porque não, me mobilizando na busca por possíveis respostas.
Referências
CHARLOT,
Bernard. Relação com o saber e com a
escola entre estudantes de periferia. In: Cadernos de Pesquisa, n. 97, São
Paulo, maio, 1996.
CHARLOT,
Bernard. Da relação com o saber: elementos
para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.
CHARLOT,
Bernard. A escola e o saber. 2005.
Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/ent_a.php?t=006.
Acesso: 15/11/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.