A idéia de que
alunos de classes dominantes alcançam sucesso na escola e que alunos das
classes populares tendem ao fracasso escolar foi por muito tempo aceita pelos
pesquisadores. Inegavelmente, há uma relação estatística entre origem social do
aluno e sucesso ou fracasso escolar.
A obra de
Bordieu é um importante referencial nesse assunto, pois para o autor a cultura
escolar se baseia na cultura da classe dominante, e aqueles alunos que já
chegam na escola familiarizados com essa cultura tendem ao sucesso escolar.
Para ele, os alunos de classes populares que alcançam sucesso escolar são uma
exceção, devido a características individuais.
Bordieu chama
de violência simbólica a imposição que a escola exerce sobre os alunos das
classes populares (como por exemplo, a linguagem valorizada e considerada
legítima na escola) e afirma que a escola não é um ambiente neutro de oferta de
oportunidades, mas uma instância de reprodução e legitimação da cultura da
classe dominante – daí a tendência ao sucesso escolar dos alunos oriundos dessa
classe social, tal como o fracasso dos outros.
Por outro
lado, Charlot critica a chamada “teoria da reprodução” pois não leva em conta
as práticas de ensino na sala de aula e as políticas específicas dos
estabelecimentos escolares. Para este
autor a relação classe social/sucesso/fracasso escolar não é direta.
Charlot propõe
então a análise do fenômeno sucesso ou fracasso escolar via relação com o
saber, considerando o aluno um sujeito-aprendiz que se constrói também por sua
singular apropriação do mundo, não como resultado passivo das influências do
ambiente. Para o autor, é a partir das relações diferenciadas com a escola e com
o saber que se constroem histórias de sucesso ou fracasso escolar.
O autor afirma
ainda que o sujeito não tem uma relação com o saber, ele é sua relação com o
saber, e apresenta três categorias de relação como saber: 1) o saber é percebido
como um objeto; 2) o saber é visto como saber-fazer; e 3) o saber é visto como
saber relacionar-se (com o mundo ou consigo mesmo).
Essas relações
levam tempo, implicam em atividades práticas e exigem mobilização do sujeito.
Charlot dá importância a idéia da mobilização, movimento interno do sujeito, e
para que isso aconteça, a atividade deve ter um sentido, relacionar-se com
outras coisas que o sujeito já encontrou no mundo.
Portanto, para
que o aluno se aproprie do saber escolar sua classe social não deve
necessariamente ser a dominante. Para que o aluno se aproprie do saber escolar ele
deve estar mobilizado em relação à escola, e para que essa mobilização ocorra a
aprendizagem deve fazer sentido para ele.
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