domingo, 9 de novembro de 2014

"Da sabedoria dos livros"

Da sabedoria dos livros

Não penses compreender a vida nos autores.
      Nenhum disto é capaz.
Mas, à medida que vivendo fores,
      Melhor os compreenderás.

Mario Quintana


       Gostaria de iniciar este breve texto, ressaltando que ao me deparar com este poema de Mario Quintana, fui remetida às discussões que realizamos em nossas aulas sobre o significado de experiência para Peirce, onde experiência é compreendida enquanto “resultado cognitivo de todo viver”.
       Quintana nos remete, a partir de seu poema, ao quanto a experiência é imprescindível no processo de compreender o mundo, e até mesmo, de compreender aqueles que se propuseram a explicar o mundo. Nos instiga à pensar que precisamos estar abertos para entender a vida para além do que nos é dito através dos livros, é fundamental viver para compreender o viver.
       Quando buscamos o entendimento da vida, geralmente o fazemos através das ciências e da filosofia, muitas vezes sem nos questionar no valor da experiência neste processo. Porém isto é impensável para Peirce pois,  Segundo Medeiros(2009), Peirce defende ser a Filosofia um ramo das ciências que examina e busca desvendar o que é verdadeiro na experiência cotidiana.
     Medeiros(2009) nos esclarece que para a ciência, a experiência pode ser compreendida como o resultado da observação que explica o mundo, já para a filosofia, a experiência teria o significado de interpretação da vida e do mundo. São desses pressupostos que surge a máxima peirceana, já mencionada acima, de que: “a experiência é o inteiro resultado cognitivo do viver.” 
      Acredito ser importante ressaltar que nesta máxima, encontra-se uma relação intrínseca entre experiência e cognição, uma vez que, para Peirce não somente a experiência é o resultado cognitivo do viver, mas o viver também é moldado pela cognição.(MEDEIROS, 2009)
Assim, podemos nos remeter novamente ao poema de Quintana para  pensar em uma relação dialética entre desejar compreender o mundo através dos autores, porém só conseguir compreender nossas próprias vidas, e o que os autores escrevem sobre o mundo, quando tivermos vivido o suficiente para isto, ou seja, quando formos capazes de pensar sobre nosso próprio viver através de nossas experiências.
Medeiros (2009) afirma que Peirce defende existir uma única regra da razão, que é a de que para aprender, os indivíduos necessitam desejar aprender e que este desejo não deve se limitar a levar à pensar somente no que os mesmos já estão propícios à pensar, pois desta forma, estariam bloqueando novas ideias, novos pensamentos, novas investigações. Assim, se desejamos compreender algum aspecto do mundo, torna-se necessário nos abrir à novas experiências, à novas formas de pensar e de viver. Desta forma, poderemos entender o que os autores escrevem sobre o mundo e sobre nossas próprias vidas.

                                                                                            
                                                                                            Tatiane da Silva Pires Felix

REFERÊNCIAS:

MEDEIROS, T.T.Q. A FENOMENOLOGIA PRAGMATICISTA DE CHARLES S. PEIRCE. Prometeus Filosofia em Revista, ano 2 , n. 3 – Jan-Jun 2009.

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