sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Por uma educação errante, segundo o pragmatismo de Peirce



O pragmatismo de Peirce nos ensina algo de profundamente necessário à educação e à pratica da pesquisa: Somos seres errantes e toda inteligência decorre exatamente disto.
Ao contrário do que nos fez crer as pedagógicas em voga nos sistemas educacionais brasileiros, o erro e a dúvida são o ponto central do ato educativo. Não deveriam, assim, ser vistos como abomináveis, vexatórios ou constrangedores -  seja aos professores ou aos estudantes.
Com base em Peirce, podemos conceber que os princípios educativos e mesmo a aprendizagem (entendida como mudança de conduta) tornam-se concretas nas consequências que resultam de suas aplicações. Portanto, a educação ganha sentido na experiência - fato esse amplamente explorado por John Dewey em sua obra. Mas a experiência tem sua importância na medida em que ela nos permite o confronto com a realidade. A experiência é educativa, por assim dizer, porque ela é a porta de entrada de nossas crenças e a matéria prima de nossos hábitos, mas é também o canal pelo qual a dúvida em nós se instala. Todo processo de aprendizagem e de pesquisa se inicia, segundo Peirce, por uma excitação, uma condição irritante de nossa experiência (entendida como curso da vida em que as ideias são filtradas de forma a eliminar o que é falso e dar vigor ao verdadeiro) em que a crença é posta em dúvida por não produzir mais os mesmo efeitos: a dúvida se origina pela surpresa, é geralmente provocada pelo exterior e tem o poder de paralisar a ação. Tal processo, de dissipar a dúvida e estabelecer nova crença, Peirce chama de investigação/perquirição. O conflito gerado pela dúvida viva e autêntica em nossa experiência leva ao encontro de novas crenças e novas condutas. A crença elimina a dúvida, nos faz conscientes e estabelece um hábito que regula a ação. Portanto, a crença se fixa no processo de pesquisa, resultando em aprendizagem que decorre da dúvida.
É, por conseguinte, a experiência a responsável por evidenciar que a uma possível concepção subjacente a ação esta equivocada, fazendo com que o hábito adquirido seja rompido, desde que o caráter mental da consciência tenha a plasticidade necessária. A experiência tem um fator corretivo e alimentador do nosso intelecto. Quando erramos, procede a correção, buscando novo hábito mais adequado à continuidade da existência. A tendência ao erro e a possibilidade de correção por meio de novos hábitos se inscreve no contexto da aprendizagem, sendo ela própria processo de aprender. Um pena que a escola e nossos professores ainda creem que o erro é nosso pior inimigo quando se trata de "educação". Por isto sou levado a crer que uma "educação errante" - no sentido descrito acima - já seria algo suficientemente renovador de nosso contexto escolar atual.

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