Espaço para reflexão dos alunos do Professor Doutor Mauro Betti. Programa de Mestrado e Doutorado em Educação. Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - campus de Presidente Prudente.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Tenho cá minhas dificuldades
Resolvi, a partir dos anúncios das datas de postagens das atividades, e, ja devidamente instalada na bela e simpática cidade de Presidente Prudente, verificar se minha postagem seguiu e se o texto hoje me parecia razoável para uma postage. Após alguma dificuldade em localizar o referido e nao conseguir entender o mecanismo para encontrá-lo no meu endereço percebi que outros conteudos por mim elaborados nao encontravam-se junto dos demais titulos postados. Por fim achei o que postei sobre o texto de Bernard Charlot e os outros, nada! Entao resolvi (re)publicar um deles na expectativa de encontrá-lo junto aos demais. Ainda nao voltei a pagina principal (é assim de se chama?) do Blog porém espero que esteja superada essa pequena barreira de ordem tecnológica. Assim, será possível me aventurar e publicar outro conteudo preparado em meses atras. Abraços em tod@as. Elena. Segue..
Pragmatismo e/ou Pragmaticismo: reflexões
Com o acesso aos textos
de semiótica que circulam na disciplina observei o uso das palavras pragmatismo
e pragamaticismo. Considerando que esses textos são de conteúdo filosófico
procurei compreender se, se tratavam de diferenças apenas de ordem semântica ou
se conceitos semelhantes ou mesmo que diferenças e sentidos esses conceitos
querem empregar. A partir dessas conjeturas pensei se esse conteúdo seria uma
possível contribuição para desfrutar, pensar e questionar.
Consultando diferentes fontes inicialmente apreende-se
que o termo Pragmatismo constituiu uma escola de filosofia do final do Século
XIX, e surgiu no Metaphysical Club conduzido pelo Lógico Charles Sandres
Peirce, o Psicólogo William James, pelo Jurista Oliver Wendell Holmes Jr e
Chauncey Wriht, estabelecidos nos Estados Unidos. O termo “Pragmatismo” de
autoria de Peirce em 1870 tem seu primeiro registro em 1898, sendo usado por W.
James.
Com a intenção de encontrar nuances
que possam distinguir os termos Pagmatismo e Pragmaticismo sem buscar
aprofundar questões de ordem filosóficas mais profundas é possível considerar
que Peirce deu o título de Pragmatismo as Ciências Normativas “como uma
doutrina lógica ou método para determinar o significado dos conceitos
intelectuais, e, aponta diretamente para a importância da ética (Santaella, 2002,
p.78). O Pragmatismo postula que as teorias cientificas e filosóficas sejam
usadas como instrumento a serem julgados por seus resultados ou fins onde W.
James sugere que a veracidade de uma idéia deve ser considerada em um sentido
instrumental, analisando os resultados produzidos por sua adoção, uma visão utilitária
da verdade. Desta forma a filosofia do Pragmatismo para W. James, seria um meio-termo
entre o racionalismo e o empirismo com uma perspectiva aberta à investigação de
qualquer hipótese, desde que seja capaz de se mostrar concretamente útil. O
pragmatismo não aceita a ciência pela própria ciência. Um estudo só se
justifica s há alguma utilidade social e defende que uma teoria só pode ser
comprovada por suas evidencias praticas, tendo assim semelhanças com o
empirismo. Peirce defende as teorias científicas como conjuntos de hipóteses cuja
validade só pode ser determinada levando-se em conta seus resultados, efeitos e
conseqüências, a prática científica propriamente dita.
A partir de 1905, Peirce passa a
usar o termo Pragmaticismo entendendo que o nome originalmente indicado para
designar sua filosofia estaria sendo usado por “jornais literários” por ele não
aprovado. Por outro lado a questão que distingue o pragmatismo do pragmaticismo
esta no entendimento aos desdobramentos práticos. O pragmatismo daria
relevância apenas às evidências empíricas e às práticas mais vantajosas para o
sujeito individual sendo considerado por ele, então, uma doutrina filosófica
menos exigente que o pragmaticismo que passa adotar, inclusive, ainda, para
evitar que o conceito que empregava fosse psicologizado, como ocorreu com o
pragmatismo após sair do Metaphysical Club .
Ao “substituir o termo Pragmatismo
que segundo Peirce (1983, p. 286), serviu ‘para exprimir algum significado que
lhe incumbia, antes, excluir’, por Pragmaticismo, Peirce (2000), preocupado com
as terminologias, entende que a designação da doutrina termina em ismo,
e o sufixo icismo, por sua vez, assinala um sentido mais rigorosamente
definido”(Zouein, 2009, p. 61).
É
importante considerar ainda que “o pragmaticismo está vinculado a várias
doutrinas peirceanas: o anti-cartesianismo (Santaella, p.1993:26 et. seq.), o
falibilismo, continuísmo [sinequismo] e evolução (CP 1.141 et. seq.), à “dúvida,
crença e hábito” (CP 5.371 e 372), ao realismo (CP 1.161 e Ibri (1992:39-40)) e
também à lógica ou semiótica, cujos vínculos com a fenomenologia são mais
evidentes, ou talvez mais conhecidos, do que nas doutrinas (FRANKENTHAL, 2004,
p.2)”. (Idem, p.62).
Para
Fidalgo (2010), o “pragmatismo, como Peirce o concebe, é um método
lógico-semiótico de clarificação das idéias”. Rodrigues e Reino (2010)
esclarece que “o Pragmaticismo enquanto método, caracteriza-se pela orientação
à conduta que, por conseqüência, se realiza ao se fixar uma crença e apresenta
uma passagem dos manuscritos de Peirce que “pode-se verificar que ‘a crença é
estabelecida quando um hábito estável é formado, envolvendo o estabelecimento
de uma regra de ação’ (CP 5.397)”.
Silveira
alerta que “ao recortar-se com cuidado o objeto do
"pragmaticismo", como doutrina filosófica onde se insere a teoria semiótica,
mais clara fica a insistência
de que é na produção do conceito que a investigação
pretende se concentrar e que é lá que mais plenamente o conceito de signo se
realiza. Assim, em "What Pragmatism is"
(6. 5.428), respondendo ao objetante que se opunha ao fato do pragmaticismo
não pretender voltar-se especialmente para o caráter sensual da experiência do
mundo, Peirce reafirma que: "o pragmaticismo não pretende definir os
equivalentes fenomenais das palavras e das idéias gerais, mas, ao contrário, eliminar seu
elemento sensual, e se empenha em definir seu teor racional, encontrando-o no
porte intencional (purposive bearing) da palavra ou
da proposição em questão" (Silveira, 1989, p.72).
Algumas consultas
Fidalgo, António. O Método pragmatista em Charles
Sandres Peirce, Universidade da Beira Interior, 2010, Portugal.
Rodrigues,
Luciene e Reino, Thaisa. O problema da identidade pessoal no âmbito do
pragmaticismo. Revista eletrônica de filosofia Cognitivo-estudos. Volume 7, no.
2, julho-dezembro, pp. 160-165. São Paulo, 2010, disponível em http://www.pucsp.br/pos/filosofia/Pragmatismo>
Santaella, Lucia. Semiótica aplicada. Ed. Pioneira. São
Paulo, 2002.
Silveira, Lauro Barbosa
da, Charles Sandres Peirce enquanto Semiótica. Revista trans/For/Ação. No. 12.
Pags 71-84. São Paulo, 1989.
Zouein, Mauricio Elias.
Signo Kudiiyada Kayaa: qualissignos de uma transformação cultural. Signo mito
Kudiiyada Kayaa. Dissertaçao de Mestrado. Universidade Católica.Brasília, 2009
Leituras e conversa com Bernard Charlot: imagens de uma educação excludente em desconstrução, provocações aos que se dizem pesquisadores da educação
Leituras e conversa com Bernard Charlot: imagens de uma educação excludente em desconstrução,
provocações aos que se dizem pesquisadores da educação
Charlot em seus
escritos e em sua fala aos alunos do curso de pós-graduação em educação discute suas teses provocativas, que embora tivessem sido construídas há mais de 30 anos,
continuam atuais. Sua produção teórica chama atenção por
a todo momento problematizar a relação da escola e seu papel desempenhado numa sociedade
estruturada em relações sociais
desiguais, o que me mobiliza sempre, e ainda mais dado o momento
político que estamos vivendo.
O autor
chama-nos atenção que enquanto as
teorias da educação brigam entre si em
torno de suas crenças , “(...) as desigualdades sociais, a fome, o racismo, o
desemprego, a corrupção política, a ditadura etc., isto é, as formas sociais e
afetivas do ‘mal’, continuam e são
raramente objetos de debate na escola. Não interferem no funcionamento
de escolas socialmente desiguais.”(p.37)
Nós
pesquisadores, muitas vezes, signatários de uma educação pedante somos colocados em grande movimentação
intelectual ao ouvir Charlot e assim tocados a pensar o sentido do sentidos
dados à educação, somos mobilizados a fazer o movimento do pensamento científico
que transita da crença à dúvida. A refletir sobre “ o ser humano e o sentido do
que ele confere à sua atividade e a si mesmo”. (p.47). Isto significa, numa perspectiva antropológica ressignificar o objeto de acordo com os sujeitos,
as situações, ou seja é preciso ressignificar a educação , despí-la dos
discursos que naturalizam a desigualdade
social.
Quando Charlot afirma que não há uma natureza humana e assim uma
naturalização das desigualdades sociais, como as teorias pedagógicas, e hoje a
“dominação ideológica neoliberal que nos impõe a pensar tudo em termos de
sujeito” (p.48), querem nos fazem acreditar,
luta contra a ideia de uma
naturalização dos fenômenos como do fracasso escolar, pois explicita que o ser humano tem uma condição que não se
reduz a desdobramentos biológicos, filogenéticos ou culturais deterministas.
Na perspectiva
afirmativamente da condição humana, nas
palavras de Charlot : “(...) a cria
humana nasce inacabada, mas nasce em um mundo adulto, em um determinado lugar
especial , temporal, social e sexual
desse mundo e, ao longo de uma história singular ele se torna um
sujeito, diferente de qualquer um outro. A negação dos discursos de natureza
humana, exige da educação um triplo
papel de humanização, pois deve olhar
a criança como um sujeito que é “ humano, social e singular”. (p.49)
Nas falas em
nos escritos de Charlot, a todo momento, a cada palavra, há um confronto para aqueles que se pretendem pensadores,
pesquisadores da educação, pois nos
questiona como podemos pensar a educação
sem levantar, ao mesmo tempo a questão da desigualdade social, a do
sujeito, a da atividade e, indo até o fim do caminho, a do sujeito e do seu desejo” (p.47) . Ficou o
desafio de nos damos conta de nossa mesquinhez científica, que tacitamente não se
move em busca de caminhos para transformar
a educação a partir de outros olhares, e lutar contra a desigualdade social.
As palavras de Charlot para alunos do curso de pós-graduação em Educação, portanto, professores e pesquisadores da educação
foram provocativas, como o são em
seus livros, pois a todo o momento questiona
os discursos pedagógicos que
justificam uma educação que se pretende alheia a desigualdades sociais. Charlot
nos pergunta quando iremos assumir o desafio de “(...) uma pedagogia social,
isto é, de uma pedagogia que não desconhece ou disfarça, mas sim, integra a
questão das desigualdades sociais e, de
forma mais ampla, a das funções sociais da educação.” (p.38). Pensar estas
questões, antes de tudo, é um compromisso ético que deve ser assumido por
nós pesquisadores da educação
CHARLOT, B. A mistificação pedagógica: as formas
contemporâneas de um processo perene – prefácio à nova edição brasileira. In: ____. A mistificação pedagógica: realidades
sociais e processos ideológicos na teoria da educação. São Paulo: Cortez, 2013.
p.33-50
Dulcinéia Beirigo de Souza
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Considerações sobre o Pragmatismo de Peirce
Reflexões a partir do texto:
O método pragmático de Charles S. Peirce, de Paulo H. S. Costa. Disponível em: http://www.ufsj.edu.br/revistalable.
O método pragmático de Charles S. Peirce, de Paulo H. S. Costa. Disponível em: http://www.ufsj.edu.br/revistalable.
O Pragmatismo de Peirce "é uma corrente filosófica americana dos primeiros anos da década de 1870", que deseja um "método capaz de determinar o verdadeiro sentido de qualquer conceito, doutrina, proposição, palavra ou outro tipo de signo".
O Pragmatismo - como método lógico - não enquadra os resultados da ciências em "campos teóricos pré-moldados", porém ele clareia, pela análise de conceitos, os significados que afetam nossa conduta.
Ele é “um método de análise que tem como objeto o significado
dos conceitos, um método de pensamento que se põe entre o objeto e seu
significado”.
Pensar em como significamos os conceitos, nos leva à compreensão de como agimos, uma vez que, para Peirce, o pensamento é direcionado por uma crença, que praticada se transforma em hábito e modela a nossa conduta.
A relação entre a crença e a dúvida, no método pragmático peirciano, configura estados "da mente diferentes", ou seja, crença e dúvida são distintas, mas se relacionam, à medida que a crença gera conforto e, quando estamos expostos a crenças diferentes das nossas, entramos em dúvida, em desacerto. Assim, no desejo de voltar a nos estabilizarmos com uma crença, realizamos a inquirição: análise de conceitos que clareiem e justifiquem uma conduta.
O estranhamento ou fase da dúvida torna-se um momento necessário para a ampliação dos significados que atribuímos aos conceitos. A ação de inquirir proporciona o desencadear de novas crenças e hábitos que nos conduzirão às ações.
Contudo, é preciso "ver" o mundo com a possibilidade do diferente, do estranho, do que nos causa desconforto e nos conduz à dúvida. Somente pelo estranhamento é que desencadeamos um processo que pode nos fazer ver o outro, nos fazer analisar, comparar, repensar, avaliar, permitindo, finalmente, estabelecer determinados padrões e generalizações, os quais sejam aceitáveis e sirvam, pelo menos naquela ocasião, para sustentar novo pensamento.
Passar pelo estranhamento, chegar ao reconhecimento do outro e generalizar um conceito é uma sucessão de pensamento desafiadora em uma escola, uma vez que os grupos de educadores e educandos costumam ser grandes e heterogêneos.
Pensando na atuação de um pesquisador que trabalhe com pesquisa-ação, é muito interessante reconhecer as significações que cada sujeito envolvido na pesquisa tem a respeito da temática educativa em discussão, pois identificando as crenças, o pesquisador poderá propor alguns questionamentos que levem ao desequilíbrio, à dúvida e que, talvez, possam ajudar o grupo a reconhecer o outro, as distintas possibilidades, a fim de que, ao chegar à generalização, haja uma conduta afetada e diferente, num movimento constante do repensar, reorganizar os pensamentos, que conduzirão à nova ação.
Gislene Aparecida da Silva Barbosa
O fluxo contínuo da experiência na pesquisa educacional
Reflexões a partir do texto:
BROENS, M. C.; ANDRADE, E.B.; PILAN, F.C. A noção de fluxo contínuo da experiência: contribuições de Dewey para a Ciência Cognitiva. In: Cognitio-estudos - revista eletrônica de filosofia, vol. 5, nº 1. São Paulo, 2008, p.25-32.
Por muito tempo acreditamos que a mente e o corpo eram elementos distintos e até opostos, apesar de ambos comporem o ser humano. Também, por influência da tradição racionalista e pelas concepções de Descartes, aprendemos que o corpo possibilita, pelos cinco sentidos, uma construção perceptiva do mundo, a qual é falível e pode nos induzir a equívocos de compreensão das coisas.
Assim, fomos ensinados a duvidar de nossas percepções sensoriais, a não confiar nas nossas emoções e, até, a rejeitá-las, porque a experiência cotidiana seria duvidosa e não serviria para o desenvolvimento de um método de análise confiável. Neste sentido, a mente, ou seja, a razão, ocupou lugar de destaque na sociedade ocidental, já que haveria uma dualidade e que a mente seria a única faceta fiável de nosso ser.
Na escola básica, desde que ocupávamos a posição de alunos, fomos ensinados a aceitar que os textos mais formais, mais reflexivos e complexos não levariam a marca da 1ª pessoa do singular e usariam a argumentação sustentada em uma lógica, sem apelos emocionais, já que a razão deveria prevalecer.
Essa tentativa de separação entre a singularidade e a universalidade é, para Dewey, um reducionismo simplista que resulta em menosprezo ao ambiente, com o qual o ser humano interage e a partir do qual aprende. Negar a experiência cotidiana é, portanto, camuflar a realidade das situações, pressupondo que a "teoria" seria melhor que a prática e que poderia se sustentar sem ela, quando, na verdade, seria apenas um recorte da vida, que não particulariza, que não capta os detalhes distintivos dos eventos, das situações e das pessoas.
Para superar a dicotomia mente-corpo, Dewey propôs que o fluxo contínuo da experiência seja valorizado, ou seja, sem separar das emoções, de fatos, de lógica etc. Assim, a experiência seria compreendida como o processo constante de ação e de reflexão acerca do cotidiano, garantindo que experiências indissociáveis entre si possam interagir "ativo-passiva com e do ambiente", construindo uma rede de pensamentos e ações que implicam em mudanças de atitude do sujeito.
Na escola básica, local onde acontecem muitas pesquisas educacionais, até que ponto valorizamos as experiências cotidianas dos educadores e alunos? Na análise de dados coletados na pesquisa, o quanto valorizamos as emoções, as singularidades de cada objeto/sujeito participante? O quanto acompanhamos a mudança de hábitos destas mesmas pessoas a partir de processos de reflexão sobre as práticas, incentivando-os a valorizar a experiência?
Isto não significa, de forma alguma, manutenção de todas as práticas desenvolvidas na escola, mas mostra aos membros de uma comunidade escolar, o quanto as vivências de cada um podem ajudar nos processos de análise das situações. Os "erros" cometidos pelo grupo escola ou na ação individualizada de cada membro não são elementos apenas negativos, pois, no movimento da experiência ativa e passiva (ação e reflexão), eles ajudam a construir previsões de experiências futuras, na tentativa de não mais cair no mesmo equívoco.
Pensando no professor e na sua formação continuada, o fluxo contínuo da experiência aponta-nos um caminho: não apresentarmos uma teoria de como ensinar sem conhecer o cotidiano do professor e sem que ele também a conheça, sendo capaz de falar e de agir consciente do que faz. Neste campo, a observação das aulas e a conversa com os docentes se transformam em estratégias relevantes, para que, juntos a eles, possamos elaborar um plano de intervenção, que vise à melhoria educacional.
Gislene Aparecida da Silva Barbosa
Comentários sobre "A Conversa com Bernard Charlot"
O Professor Charlot, em um primeiro apontamento marcante da discussão aborda as
diferenças entre as escolas públicas e particulares, quer seja sob a ótica da
pedagogia tradicional ou da pedagogia nova, que consideram os alunos que as compõem
como se as suas bases de conhecimentos e bases sociais fossem as mesmas, salientando
que há desigualdades sociais a serem consideradas. A partir destas diferenças, baseado no conceito
de Marx, aborda a ideologia na educação como um sistema que mostra e/ou
expressa a realidade, ao mesmo tempo que disfarça tal realidade, pois, muitos
dizem o que acham, mas acham de acordo com o contexto em que vivem.
Faz referencia ao termo "disciplina" na pedagogia
tradicional, não só como o ato de ser comportado, mas também quanto as práticas
impostas ao indivíduo de repetir atividades, a fim de disciplina-lo, acrescentando
a isso, o fato do ensino ser realizado em um espaço e tempo bem definido, onde
as atividades são divididas para serem executadas e praticadas constantemente.
Ressalta que há casos onde se diz praticar a pedagogia nova mas, o que se faz na verdade, é
a prática tradicional.
Ao tratar da igualdade de oportunidades, pode-se supor que o
indivíduo vai à escola para conseguir um diploma. Desta forma, a cultura
escolar ampara-se nos moldes da classe dominante, pois, todo aquele que vai à escola
tem a oportunidade de um futuro melhor. Questiona, no entanto, se existe a
igualdade de chances. Se existem, de fato, por que então os resultados são desiguais? Será por que
alguns são mais inteligentes ou aptos do que os outros?
Quanto ao fracasso escolar, cita o uso da tecnologia como
possibilidade de ser um aliado, mas nunca uma solução. Se for utilizada como uma
forma de mediar os problemas de aprendizagem pode contribuir para superar as
desigualdades no ambiente escolar de tal forma que o aluno possa apropriar-se
do saber, desde que esteja ele motivado em um processo de aprendizagem que seja
significativo.
Dewey, as
Ciências Cognitivas e a autonomia das máquinas.
João Ferreira Filho
Segundo Dewey
há uma tendência muito forte e de antiga tradição que nos prende a
racionalidade, no entanto nós não podemos ficar presos apenas à racionalidade e
desconsiderar ou negligenciar as emoções.
Os racionalistas,
a exemplo de Descartes, descartaram toda possibilidade de percepção como
caminho à verdade (a experiência cotidiana é desprezível) e instalaram a dúvida
metódica.
Dewey critica
este dualismo que supervaloriza a mente em detrimento da experiência. Ele não
concebe este dualismo de conhecimento que separa conhecimento científico de
conhecimento comum; é a tradição filosófica que busca demonstrar que o ato de
teorizar é completo por si só, o que conduz a supervalorização da mente/razão e
detrimento de toda e qualquer experiência.
[...] essa separação se
mostra especialmente perniciosa quando o conhecimento comum é menosprezado,
quando as emoções são consideradas meros elementos que perturbam a razão,
afecções ou patologias de que ela deve afastar-se para a obtenção de um
conhecimento puro, estável e universal, não confundido pela dinâmica da vida,
suas constantes mudanças e desafios. [...] O estável e o constante nos agradam,
ao passo que a mudança e a inconstância nos assustam. (Bronens, Andrade, Pilan,
p. 26)
É pela
integração entre razão e ação que a aprendizagem acontece, num movimento de “fluxo
e refluxo” contínuo de experiências indissociáveis entre si, “nessa dinâmica de
interação ativo-passiva com e do ambiente” – entre o racional e a experiência
que se dá a transformação do hábito em conhecimento reflexivo. Ai se dá o
conhecimento de fato.
Quando uma atividade
continua pelas consequências que dela decorrem [...], quando a mudança feita
pela ação se reflete em uma mudança operada em nós, esse fluxo e refluxo são
perpassados de significação. Aprendemos alguma coisa. (Bronens, Andrade, Pilan,
apud Dewey, 1959, p.152)
Conhecimento
implica em mudanças. Minhas experiências permitem prever acontecimentos
futuros, mas isto não é infalível, assim quando acontece o erro, o organismo
utiliza-o em experiências futuras, reaproveita-o em novas experiências. Por
isto estamos em constante processo de aperfeiçoamento participativo e interativo
O hábito por si
só não trás conhecimento é preciso a reflexão sobre o fato, é preciso que a
ação se torne uma ação inteligente capaz de buscar as alterações futuras.
Na mesma linha
cartesiana, mas pensando além, está a Filosofia Cognitiva ou da Mente que busca
produzir modelos mecânicos da mente, merecendo especial destaque os modelos
computacionais.
Mesmo as
pesquisas com Inteligência Artificial (IA) privilegiam, de certo modo, a mente
em detrimento do aspecto material.
Algumas
máquinas reproduzem ações de sucesso, mas ainda assim são frutos de uma
programação, “trata-se de um modelo computacional da mente desprovido da
corporeidade evolutivamente moldada pelos fluxos e refluxos da experiência do
organismo no mundo” (p. 29)
Este movimento
acolhido por vários pensadores tem por proposta a “cognição incorporada” que
geram “robôs-guias” capazes de “prever” e “buscar soluções” para certas
situações, assim parece que a robótica começa a estreitar os laços entre corpo
e mente.
Se por um lado
se recupera o pensamento de Dewey, pois
[...] a ação inteligente
não é mais concebida apenas como o resultado de um planejamento algorítmico que
a preceda e que exerce em relação a ela um poder causal, em moldes
assemelhados, como vimos, ao suposto poder causal da res cogitas sobre a res
extensa no contexto ontológico do dualismo cartesiano. (Bronens, Andrade,
Pilan, p. 30)
No entanto este
movimento cerebrocentrísmo nos trás outras preocupações no sentido da tendência
reducionista e de desconsiderar a unidade corpórea em suas relações ambientais.
Quando se repensa
em Dewey e na indissociabilidade entre conhecimento e ação se vê limites do
projeto da explicação dada pelas Ciências Cognitivas e pelas Neurociências.
Participe!
Semiótica
Joyce Cristina Claro Menoti
Sabemos que a semiótica é um saber muito antigo, que estuda
os modos como o homem significa o que o rodeia. É a ciência Geral dos signos e
da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas
sígnicos, isto é, sistemas de significação. Estuda o processo de significação
ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da idéia.
Para a semiótica a linguagem é a capacidade humana de produzir
signos de qualquer tipo. Estes, por sua vez, são qualquer “coisa” que
represente outra “coisa” para uma mente interpretadora.
Foto: Relação
interpretante cria o signo (processo).
Na semiose - multiplicação dos signos que se hibridam – o produto
de um signo gera outro signo, num ciclo e nesse processo a aprendizagem trata-se
da aquisição de conceitos e da modificação de condutas. Nesta dinâmica contínua
de hibridização o produto de um signo é gerado a partir das vivências e
conhecimentos que o aluno traz consigo, e diante disso, se faz necessário que o
professor considere tais conhecimentos na sua prática pedagógica, partindo
destes signos, para que, a aprendizagem seja significativa para ele.
Considerando alguns sistemas sígnicos como, por exemplo:
artes visuais, música, fotografia, cinema, culinária, vestuário, gestos, proponho
a seguinte atividade:
Apresento alguns signos (imagens, música e vídeo) e gostaria
de pedir que comentassem alguns exercícios.
A partir das respostas veremos o que e de que forma um mesmo
signo representa para cada um. Conto com a participação de vocês. Divirtam-se!
1) Esta imagem te remete a que pensamento, lembrança, situação, reflexão?
2) Defina a imagem abaixo.
3) Escute a música:
4) Agora “veja” a representação dos signos dessa
música para o autor do vídeo.
Por fim, um pouco de humor.
Obrigada pela participação!
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Análise do prefácio do livro a partir das noções de crença, dúvida e método científico (abdutivo-indutivo) de Peirce
Análise do prefácio do livro a partir das
noções de crença, dúvida e método científico (abdutivo-indutivo) de Peirce
Bernard Charlot traz, no prefácio à nova edição do livro A mistificação pedagógica – realidades sociais
e processos ideológicos na teoria da educação, uma apresentação do estudo
que realizou em 1975 e foi publicado em 1979 e republicado 38 anos depois.
Além de apresentar o estudo realizado na década de 1970,
faz uma reflexão sobre o estudo desenvolvido. Mesmo sem ter se dedicado ao
estudo da semiótica de Peirce, é possível notar no prefácio alguns aspectos da
semiótica peirceana, como a crença, a dúvida, o método abdutivo-indutivo e a
perquirição.
Ao ler o prefácio, observa-se que a questão da pesquisa,
assim como pontua Peirce, é muito relevante. Na página 38, Charlot se questiona
sobre o argumento que enreda o livro e reflete se ainda concorda com ele e com
a ideia de mistificação pedagógica então pontuada na primeira edição do livro. Dessa
forma, ao se questionar sobre o concordar com o pensamento, parte da pesquisa,
saindo do estado da dúvida para chegar à crença. Nesse “movimento”, chega à
conclusão de três assuntos que merecem atenção no contexto brasileiro – ao
refletir sobre o que pesquisara, “transforma” as antigas crenças em dúvida,
utiliza-se do método indutivo-abdutivo e chega a novas conclusões (novas
crenças), indo, então, além das conclusões que chegara quando realiza o estudo
na década de 1970. O autor traz, assim, uma reflexão desses três pontos: quanto
à questão da tensão pedagogia tradicional versus
pedagogia nova, conclui que mesmo depois de passados os 38 anos, os polos da relação
ainda são vivos (p. 39).
Outro ponto trazido é a questão da neurologia e
informática. O autor, ao “desconfiar” quando falam de “neurociências”, no
plural, ou de “neuroeducação”, parte da dúvida dos termos relacionados à
neurociência, educação e antropologia, propondo novas crenças – e colocando a
crença de que a educação seja um processo cerebral em xeque.
Por último, aborda a problemática da sociologia da “reprodução”,
trazendo à tona a a perspectiva sociológica e histórica e a educação.
No texto de Charlot, é evidente que o autor se questiona
acerca de sua própria produção: “Por quê? Conversão, ruptura? Poderia ser, já
que o pesquisador tem o direito a pesquisar e, portanto, mudar de rumo.” (p.
46). O autor, para sair da dúvida, parte da pesquisa, da perquirição e
reflexão, para chegar à crença, sendo que esta pode, após algum tempo, ser questionada
novamente.
Análise do Texto de Bernard Charlot, a partir das noções de "crença" e "dúvida" e do "método científico (abdutivo-indutivo)" de Charles S. Pierce.
A educação é política
A primeira coisa que me chamou a atenção, e segundo Charlot foi o que mais repercutiu quando ele escreveu este livro foi o fato de o mesmo colocar em evidência, que a educação é política, isto é, ela tem o poder de libertar o ser humano, de transformá-lo e assim construir um novo significado para o mundo e para a sociedade.
No texto duas teses são centrais, a primeira é de que existe um abismo entre o discurso pedagógico e a realidade social, ou seja, a teoria busca o desenvolvimento da criança para torná-la um ser humano e no entanto silencia a questão do seu pertencimento social. A segunda tese explica que a pedagogia "nova" ou como é conhecida no Brasil "construtivista" por mais diferente que seja da pedagogia tradicional, aborda a questão da educação da mesma forma, isto é, sem considerar a realidade social da criança.
A questão central para Charlot é o fato das teorias educacionais desconsiderarem a realidade social da criança, para ele é fundamental pensarmos em uma pedagogia social, que construa não somente um movimento de educação popular, mas, também, um movimento popular sobre a educação. Para Charlot sem o segundo o primeiro não encontraria nenhum apoio em forças sociais e continuaria sendo "um discurso que desliza na realidade da educação, sem mudá-la"(p.37)
A argumentação do livro repousa na análise da função do conceito de Natureza nos discursos pedagógicos, segundo Charlot a "crença" ou "mistificação pedagógica" é de que existiria um natureza humana e que o sucesso ou o insucesso do sujeito estaria fundamentalmente ligado a essa natureza, ou seja, para a pedagogia tradicional a natureza da criança é corrompida e a educação deve livrá-la dessa corrupção, enquanto que para a pedagogia "construtivista" a criança é tida como naturalmente inocente e a sociedade adulta é que a corromperia e a esterilizaria, sendo assim a educação teria como objetivo principal proteger a natureza da criança e garantir a dignidade social sem desvirtuá-la.
Charlot acredita que o mais importante, o ponto fundamental é perceber que enquanto a discussão permanece no âmbito filosófico-religioso, o verdadeiro "mal", as desigualdades sociais, continuam a ser ignoradas tanto pelos teóricos quanto pela própria escola. Segundo o autor é preciso colocar em dúvida esses discursos e compreender o significado da realidade social na relação do sujeito com o saber, o conceito fundador de uma pedagogia social é justamente o de que não exite uma natureza humana, sendo este o conceito principal da mistificação pedagógica.
Atualmente novas crenças segundo Charlot, ou novas mistificações tem surgido como a "neurológica" e a "informática", para ele não devemos negar as contribuições das mesmas, no entanto é preciso sempre colocar em dúvida suas soluções milagrosas e ficarmos atentos para os problemas que as mesmas podem trazer no âmbito educacional especialmente acerca da invenção de novas desigualdades sociais.
Ao repensar todas essas questões Charlot compreende que as pesquisas que realizou sobre a relação com o saber levantaram um ponto fundamental que é a questão do sentido da educação, da escola e do que se aprende, assim, como, o levaram a uma reflexão antropológica sobre o próprio conceito de homem.
Charlot nos mostra que o discurso pedagógico disfarça a desigualdade social em desigualdade natural e cultural, para ele não se pode pensar a educação sem levar em consideração a questão da desigualdade social, assim, como a do sentido, a do sujeito e do seu desejo, é preciso sair deste estado de "crença" ou "mistificação" e compreender o sentido da educação na vida dos sujeitos e esse caminho pode ser percorrido fundamentalmente com a ajuda do método científico que ao colocar em dúvida e levantar novos problemas no âmbito educacional pode nos conduzir a uma educação mais significativa.
Segundo Charlot,
"a educação é um triplo processo de humanização, socialização/ingresso em uma cultura, subjetivação/singularização." (p.49)
Referência
CHARLOT, B. A mistificação pedagógica: as formas contemporâneas de um processo perene - prefácio à nova edição brasileira. In: _____. A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação. São Paulo: Cortez, 2013. p. 33-50.
Trabalho do dia 03 de outubro de 2014
Análise do texto de Bernard Charlot “A mistificação pedagógica: as formas
contemporâneas de um processo perene - prefácio à nova edição brasileira. In:
_____. A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na
teoria da educação”, a partir das noções de
"crença" e "dúvida" e do "método científico
(abdutivo-indutivo)" de Charles S. Peirce.
Rosilene Figueira Miranda
Esse texto foi extraído de um livro
escrito em 1975, e traduzido no Brasil em 1979. Teve uma excelente repercussão na
França, e no Brasil se tornou obrigatória sua leitura nos cursos de
licenciaturas em Pedagogia.
No Brasil, em 1979, por ser um livro
que apresentavam as ideias marxistas de forma mais aberta, a cerca de questões
importantes para a pedagogia, num período em que a ditadura militar estava
perdendo terreno, novos partidos políticos estavam sendo criados e alguns
exilados estavam retornando ao país, teve uma ampla publicidade.
O autor decide após 38 anos
republicar o livro devido ao fato, principalmente, das transformações ocorridas
a nível mundial, nas formas de militância, e pensamentos e reflexões marxistas,
que se dirigiram a outros objetos de estudos, como a questão da subjetividade.
Questão essa que Marx deixou de ter interesse.
No entanto, apesar das mudanças duas
teses amparadas no livro continuam atuais.
A primeira tese está subentendida no
subtítulo do livro Realidades sociais e
processos ideológicos na teoria da educação, visto que há uma distância
entre o discurso pedagógico e o que realmente acontece na prática pedagógica. A
teoria aponta maneiras de guiar o aluno a se tornar um ser humano plenamente
realizado, mas deixa uma lacuna no que diz respeito a ele pertencer a um meio
social. Atrelada à primeira tese, a segunda, causou um impacto nos militantes
pedagógicos, e deu margem a diversos debates. Pois
o olhar que eles tinham sobre “pedagogia nova”, baseado em diversos intelectuais
da educação, esse livro a desmistifica, ao afirmar que não há uma “pedagogia
nova”, diferente da tradicional, se não for levado em conta a realidade social da
criança.
O autor afirma que “ Uma mudança social
fundamental requer uma pedagogia social, que ainda está por ser inventada”.
Explica, ainda, que é necessário, não só uma Educação popular, mas um movimento
popular sobre a Educação. Caso contrário, a Educação popular continuaria apenas
no discurso, não haveria mudanças.
O autor se baseia em analisar a concepção
de Natureza nos discursos pedagógicos, e na sua interligação com a infância transmitida
pela pedagogia.
Para Charlot enquanto ficam
debatendo temas filosóficos-religiosos, as escolas na prática continuam socialmente
desiguais. Para ele o importante é uma pedagogia que toma para si a realidade
social integrando-as e não somente disfarçando em temas de discursos. O homem é
um ser social, e como tal, camuflar isso através de discursos não vai resolver
o problema da educação, ao contrário, corre-se o risco de legitimá-la.
Charlot faz um questionamento se
após passar 34 anos da primeira publicação no Brasil, e agora reeditada, a
argumentação abordada nele e a ideia da mistificação pedagógica ainda é válida.
Para ele, no Brasil, as palavras pedagogia “tradicional” e “nova” perderam
muito sua essência e passaram a ser mais rótulos do que conceitos analíticos.
O autor afirma a grandes
dificuldades que os professores brasileiros enfrentam, por acabarem forçados a
terem práticas tradicionais nas escolas, e ao mesmo tempo precisam se declarar “construtivistas”.
Nome novo na ideologia brasileira para a pedagogia “nova”. Alguns são incapazes
de lutar por mudanças reais e silenciam, outros se mobilizam dentro dessa
concepção “construtivista”, no entanto, dentro de um sistema tradicional. Por isso,
o autor entende que seu livro ainda é atual.
Charlot não se mostra contrário às
contribuições da neurologia e da informática no processo de aprendizagem. Apenas
teme que isso se torne outra mistificação. Principalmente no que diz respeito à
“neuroeducação”, pois, segundo ele, pretendem “dar conta da educação por
versões modernizadas da antiga ideia de natureza humana”. E sua outra
preocupação em relação á uma forma de mistificação pedagógica é em relação à
informática. Pois, há muitos que defendem a ideia de que os problemas de
aprendizagem dos alunos podem ser solucionados dando a cada aluno um computador
ou um tablete. E, nesse contexto, Charlot não nega seus valores pedagógicos em
termos de contribuição, afirmando que possibilita ao professor e alunos a parte
menos agradável do processo de aprendizagem: a transmissão-memorização.
Charlot não faz crítica a
modernidade científica e tecnológica, e sim na questão disso se tornar uma
mistificação em relação à referência a uma natureza do homem.
O autor argumenta, também, que houve
uma reprodução das desigualdades sociais de uma geração para outra, sendo que a
educação contribuiu para tal, acabaram por serem consideradas normais em todas
as classes sociais. Não houve “igualdade de oportunidades”, como pensam a
maioria, isso é uma ilusão, uma mistificação.
Charlot afirma que há uma crença nos
discursos ideológicos sobre as questões pedagógicas, e isso tem um distanciamento
nas práticas pedagógicas no país, tanto dos que na realidade seguem os discursos
“tradicionais”, tanto os que se dizem “construtivistas” (aqui sinônimo de pedagogia
“nova”).
O que vemos hoje no sistema educacional
brasileiro é que grande parte dos professores não instauram a dúvida,
simplesmente acreditam e propagam, reproduzindo a desigualdade nas escolas. E devido ao fato dessa crença estar arraigada
na maioria dos profissionais da educação, não tendem, sequer para a dúvida, não
há questionamentos em relação aos discursos pedagógicos, sejam eles de qualquer
natureza. Essa crença gera uma comodidade, que faz com que não se levantem as
dúvidas. A dúvida vai dar trabalho, vai exigir um processo de investigação, que
pode proporcionar novas crenças e novas dúvidas, o que demandaria sair da
situação cômoda em que se encontram. Teriam que começar a inquerir, usando o
método científico abdutivo-dedutivo para embasar a investigações.
Referência
CHARLOT, B. A mistificação
pedagógica: as formas contemporâneas de um processo perene - prefácio à
nova edição brasileira. In: _____. A mistificação pedagógica: realidades
sociais e processos ideológicos na teoria da educação. São Paulo: Cortez, 2013.
p. 33-50.
Apontamento: Conversa com o professor Bernard Charlot
Apontamento: Conversa com o professor Bernard Charlot.
No
dia 03 de outubro de 2014, a convite do professor doutor Mauro Betti, o
professor e pesquisador Bernard Charlot esteve junto aos alunos do Programa de
Pós Graduação em Educação em um momento de conversa e de troca de ideias sobre
os problemas enfrentados pelo professor ao longo de sua carreira. Foram
discutidos assuntos relevantes acerca do caráter pedagógico de pensamento, bem,
como a prática pedagógica na contemporaneidade baseando-se numa concepção
social da infância na educação.
Segundo
Charlot a educação não tem sido pensada a partir da criança, mas sim a criança
é que tem sido pensada a partir da educação. Neste sentido, a educação tem elaborado
uma representação de criança e infância a partir de sua natureza e cultura,
portanto, a ideia de infância esta carregada de significações ideológicas. Para
o adulto a criança é um ser inacabado, e seu desenvolvimento cultural se
condiciona através de suas possibilidades de natureza humana.
Na
pedagogia tradicional, a criança não possui ainda uma natureza específica, ou
seja, nem “boa, nem “má”, podendo esta ser corrompida. Nesse ponto, a educação
consiste em disciplinar a criança, incumbindo-lhe regras. Para a pedagogia nova
faz-se necessário respeitar a dignidade da criança, ao não-acabamento da pedagogia
tradicional, a pedagogia nova designa o nome de desenvolvimento, ou seja, a
criança desenvolve em vias de caminhos próprios aquilo que ela deve vir a ser.
Em níveis educacionais cabe ao adulto educar a criança levando em consideração
suas especificidades da infância, suas necessidades e seus interesses naturais.
Por Taisa Andrade de Souza Silva Ribeiro.
Assinar:
Postagens (Atom)