As noções de crença e
dúvida e o método científico de Charles Sanders Peirce no texto de Bernard
Charlot.
O texto “A mistificação
pedagógica: as formas contemporâneas de um processo perene”, prefácio da edição
brasileira do livro “A mistificação pedagógica – realidades sociais e processos
ideológicos na teoria da educação” de Bernard Charlot, construído a partir de
uma estrutura lógica, desde sua breve apresentação oferece situações para
refletir sobre o momento em que o livro citado foi escrito e a sua reedição para
os brasileiros mais de três décadas passadas e, por isso, permeado de
questionamentos e posicionamentos que pudessem elucidar motivos para uma nova edição.
Para proceder à análise
do texto à luz do pensamento de Charles S. Peirce é necessário versar sobre as noções
por ele descritas. Peirce compreende que “todo avanço importante no campo da ciência
tem correspondido a uma lição de lógica”(Peirce, 1972, p. 72). Desta forma “nossas
crenças orientam nossos desejos e dão contorno a nossas ações”(idem.p.76).Com a
crença podemos traçar nosso futuro mesmo que ela seja falível. Porém o oposto
da crença é a dúvida que se estabelece por meio das experiências que vivemos
que transtornam e que tornam combalida a crença. A ciência instaura crenças, geram
as teorias que são descrições de mundos possíveis enquanto resultado do diálogo
com a experiência. A dúvida gera esforço investigativo. Dentre os métodos de fixação
das crenças, o método científico (abdutivo-indutivo), para Peirce, se aplicado
corretamente é o meio de estabelecermos nossas crenças de forma válida.
O prefácio do livro,
objeto da análise, reconhece que mesmo com as mudanças ocorridas no mundo duas
teses permanecem bastante atuais: a distância entre o discurso pedagógico e a
realidade social e a nova pedagogia não leva em consideração a realidade social
da criança tal qual a pedagogia tradicional. A partir dessas premissas
apresenta como caminho lógico o argumento fundamental do livro onde o discurso
sobre a natureza humana necessariamente deve considerar sua dimensão social. No
Brasil, local da reedição do livro, as professoras vivem intensas contradições entre
o discurso da pedagogia nova e sua prática. E ainda apresenta a neurociência e a informática
como crenças que podem traçar um futuro para os processos educativos sem levar
em consideração que a educação é um processo antropológico, social, cultural
complexo e não um processo cerebral. Na perspectiva de Peirce, quem impõe a
crença (ideologia) da pressão das tecnologias e das mídias, deve ser vista com
certa dúvida e por isso promover investigações (estudos) para verificar o que
de fato pode trazer benefícios para os processos educacionais, levando em conta
que seus protagonistas são atores sociais.
Traça a trajetória entre a primeira publicação
e a segunda edição do livro que parte de uma perspectiva sociologia e histórica
e se volta para uma reflexão antropológica como questão central no sentido de
perquerir, de colocar em dúvida, as crenças como um “prolongamento do que já era
postulado”, nas palavras de Charlot. Saindo de uma abordagem marxista e se
voltando para uma relação centrada entre os sujeitos quando afirma que “o
discurso pedagógico disfarça a desigualdade social em desigualdade natural e
cultural: essa asserção é comprovada pela análise. Fazer isso é inaceitável:
esse enunciado não é mais um resultado de pesquisa, é, sim, uma postura ética e
política”, que independem da atitude do pesquisador. Apresenta o raciocínio da
Semiose de Charles S. Perice quando elucida que o homem é essencialmente,
integralmente social e essencialmente, integralmente singular. A complexidade
do que não é dualístico: não há separação entre um e outro.
Lamentavelmente não estive
presente na conversa com o Prof Bernard Charlot e o áudio em razão do local da
conferencia, juntamente com a pronuncia do Português carregado de Francês me
dificultou, para não dizer impossibilitou, a compreensão da fala do Prof.
Charlot de modo que não pude extrair dados e usufruir de tão importante momento,
mesmo fazendo grande esforço em ouvir,
ouvir e ouvir por diversas vezes a palestra.
Referências:
Bezerra, Efrem Pedroza –
A fixação da crença de Charles Sandres Peirce. São Paulo: Ideias & Letras,
2008.
Peirce, Charles S.
Semiótica e Filosofia. Editora Cultrix, São Paulo, 1972.
Abraços em tod@as,
Elena Fioretti.
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