“Se você for uma pessoa que busca realmente
a verdade, é necessário que ao menos uma vez na vida duvide de todas as coisas,
da maneira mais profunda”.
Descartes
O texto
todo é muito interessante, mas gostaria de ressaltar aqui a crítica que Charlot
(2013) faz em relação a
Pedagogia vigente no Brasil, pois de acordo com o autor tanto a “Pedagogia Tradicional”,
quanto a “Pedagogia Nova”, desconsidera a realidade social dos alunos, ou seja,
ainda há de acordo com Charlot (2013) no interior das escolas brasileiras uma grande distância
entre o discurso pedagógico e a realidade social.
Além
disso, o autor afirma ainda que as desigualdades sociais presentes na sociedade
brasileira são um fator importante no fracasso escolar.
Uma grande parte dos professores tem a concepção
de que todos os sujeitos são "iguais" e tem a mesma capacidade,
entretanto tal fato desrespeita a individualidade dos sujeitos. Neste sentido,
uma ideia recorrente no âmbito escolar é que o insucesso da criança na escola
pública é o resultado de sua própria “escolha”, de sua “falta de vontade” de
estudar, como se todas as pessoas fossem livres e capazes de ascender social e culturalmente.
Tal fato torna-se prejudicial para a
instituição escolar, pois a crença (sinônimo de fé) do docente orienta sua
prática pedagógica e faz com que o educador acredite que o hipotético insucesso
da criança na escola pública é resultado da falta de vontade dos alunos de
aprender, ou seja, essa fé não causa movimento e mudanças na educação. Neste
sentido, Peirce afirma que aquilo que chamamos usualmente de crença não tem
lugar em ciência.
No
ambiente escolar, quando os educadores creem no fato de que “o aluno não
aprende porque não quer”, os docentes deixam de questionar suas práticas, reforçam
a exclusão social na escola e acreditam na neutralidade do seu trabalho. Neste
sentido, este educador não considera a educação como “um processo
antropológico, social, cultural complexo.” (Charlot,
2013, p. 40).
De acordo
com Pierce (S/N) a crença guia o desejo
e molda a ação, pois é a partir daquilo que o educador acredita que ele irá
traçar planos para a sua pesquisa, porque cremos em muitas coisas que
descobrimos, tanto pelo senso comum como pelo trabalho científico.
Assim sendo,
pode-se afirmar que quando se tem a ideia de que o aluno pobre é o culpado pelo
seu processo ou não de aprendizagem, os docentes não terão dúvidas, ou seja,
não passarão por um estado de desconforto e insatisfação. Desta forma, ficarão
acomodados e não usarão o método científico para questionar a realidade na qual
estão inseridos.
Esse texto
chamou muito a minha atenção quando fui lê-lo, pois ao fazer uma atividade com
um grupo de professores, ouvi dos mesmos que as crianças não seriam capazes de
utilizar suas estratégias de leitura porque “elas eram pobres”. Observei então,
o quanto nossa falta de dúvidas é nociva para o processo educacional.
Se o indivíduo faz parte de uma diversidade de
instituições como a família, a escola, entre outras; e desta forma constrói sua
identidade a partir da intervenção e relação que estabelece com o outro, se o docente
(neste caso o outro/mediador) não acredita que o aluno possa aprender, então
não cumpre o seu papel e nega ao estudante o seu direito de ter acesso aos bens
culturais.
Um abraço,
Silvana
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.