Leituras e conversa com Bernard Charlot: imagens de uma educação excludente em desconstrução,
provocações aos que se dizem pesquisadores da educação
Charlot em seus
escritos e em sua fala aos alunos do curso de pós-graduação em educação discute suas teses provocativas, que embora tivessem sido construídas há mais de 30 anos,
continuam atuais. Sua produção teórica chama atenção por
a todo momento problematizar a relação da escola e seu papel desempenhado numa sociedade
estruturada em relações sociais
desiguais, o que me mobiliza sempre, e ainda mais dado o momento
político que estamos vivendo.
O autor
chama-nos atenção que enquanto as
teorias da educação brigam entre si em
torno de suas crenças , “(...) as desigualdades sociais, a fome, o racismo, o
desemprego, a corrupção política, a ditadura etc., isto é, as formas sociais e
afetivas do ‘mal’, continuam e são
raramente objetos de debate na escola. Não interferem no funcionamento
de escolas socialmente desiguais.”(p.37)
Nós
pesquisadores, muitas vezes, signatários de uma educação pedante somos colocados em grande movimentação
intelectual ao ouvir Charlot e assim tocados a pensar o sentido do sentidos
dados à educação, somos mobilizados a fazer o movimento do pensamento científico
que transita da crença à dúvida. A refletir sobre “ o ser humano e o sentido do
que ele confere à sua atividade e a si mesmo”. (p.47). Isto significa, numa perspectiva antropológica ressignificar o objeto de acordo com os sujeitos,
as situações, ou seja é preciso ressignificar a educação , despí-la dos
discursos que naturalizam a desigualdade
social.
Quando Charlot afirma que não há uma natureza humana e assim uma
naturalização das desigualdades sociais, como as teorias pedagógicas, e hoje a
“dominação ideológica neoliberal que nos impõe a pensar tudo em termos de
sujeito” (p.48), querem nos fazem acreditar,
luta contra a ideia de uma
naturalização dos fenômenos como do fracasso escolar, pois explicita que o ser humano tem uma condição que não se
reduz a desdobramentos biológicos, filogenéticos ou culturais deterministas.
Na perspectiva
afirmativamente da condição humana, nas
palavras de Charlot : “(...) a cria
humana nasce inacabada, mas nasce em um mundo adulto, em um determinado lugar
especial , temporal, social e sexual
desse mundo e, ao longo de uma história singular ele se torna um
sujeito, diferente de qualquer um outro. A negação dos discursos de natureza
humana, exige da educação um triplo
papel de humanização, pois deve olhar
a criança como um sujeito que é “ humano, social e singular”. (p.49)
Nas falas em
nos escritos de Charlot, a todo momento, a cada palavra, há um confronto para aqueles que se pretendem pensadores,
pesquisadores da educação, pois nos
questiona como podemos pensar a educação
sem levantar, ao mesmo tempo a questão da desigualdade social, a do
sujeito, a da atividade e, indo até o fim do caminho, a do sujeito e do seu desejo” (p.47) . Ficou o
desafio de nos damos conta de nossa mesquinhez científica, que tacitamente não se
move em busca de caminhos para transformar
a educação a partir de outros olhares, e lutar contra a desigualdade social.
As palavras de Charlot para alunos do curso de pós-graduação em Educação, portanto, professores e pesquisadores da educação
foram provocativas, como o são em
seus livros, pois a todo o momento questiona
os discursos pedagógicos que
justificam uma educação que se pretende alheia a desigualdades sociais. Charlot
nos pergunta quando iremos assumir o desafio de “(...) uma pedagogia social,
isto é, de uma pedagogia que não desconhece ou disfarça, mas sim, integra a
questão das desigualdades sociais e, de
forma mais ampla, a das funções sociais da educação.” (p.38). Pensar estas
questões, antes de tudo, é um compromisso ético que deve ser assumido por
nós pesquisadores da educação
CHARLOT, B. A mistificação pedagógica: as formas
contemporâneas de um processo perene – prefácio à nova edição brasileira. In: ____. A mistificação pedagógica: realidades
sociais e processos ideológicos na teoria da educação. São Paulo: Cortez, 2013.
p.33-50
Dulcinéia Beirigo de Souza
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