O texto contém críticas quanto ao
caráter ideológico do pensamento e da prática pedagógica contemporânea e
apresenta uma proposta baseada na concepção social da educação, mostrando as
significações ideológicas, tanto na pedagogia tradicional quanto na nova,
constituídas a partir de uma visão baseada na natureza humana e não a partir de
uma análise da condição humana. Considera, pois, o discurso sobre a natureza
humana como pedra angular da mistificação pedagógica, destacando três assuntos:
A pedagogia tradicional versus a pedagogia nova; A atualização pedagógica:
neurológica e a informática; e, por fim, a onda neoliberal dos anos 80 que
reproduz desigualdades sociais de uma geração para a outra.
Sobre a pedagogia tradicional, a
afirmação marcante é de que a natureza do indivíduo é originalmente corrompida.
Conhece os seus interesses naturais, mas os recusa; opondo-se a eles,
esforçando-se por disciplinar e inculcar-lhe regras. Em contrapartida, a
pedagogia nova concebe a natureza do indivíduo como passível de corrupção, mas
não originalmente corrompida. É marcante a insistência quanto ao fato do
indivíduo como ser não acabado, em pleno desenvolvimento, a partir de um
caminho dele próprio. De qualquer forma, ambas passaram a ser mais rótulos
do que conceitos analíticos, imperando, ainda, o modelo tradicional. No
entanto, um fato curioso e contraditório é que alguns professores declaram-se
construtivistas (pedagogia nova) para evitar problemas, devido as
impossibilidades geradas na "forma escolar" atual.
A respeito da neuroeducação
aborda a mistificação do fracasso escolar como um fenômeno de ordem social, sem
desmerecer as contribuições da neurologia para um melhor entendimento dos
processos de aprendizagem. De mesmo modo, questiona a propagação da ideia de
que "se podem resolver os problemas de aprendizagem e de formação
colocando um computador ou um tablet na mochila do aluno". Sem negar o
valor dos instrumentos informáticos, ataca, sim, o pensamento de que estes
podem resolver os problemas da escola e da educação.
A respeito da onda neoliberal, há
uma citação que julgo ser marcante no texto que diz "a pedagogia, ao mesmo
tempo, fala de outra coisa que não a realidade social, exprime essa realidade
sob o disfarce da natureza humana e, assim fazendo, legitima como naturais e
culturais desigualdades cuja fonte é social". Neste lógica, a educação consiste
em um serviço ofertado ao mercado e há um investimento realizado pelos pais. O
papel do estado é ofertar uma educação mínima e barata aos mais pobres em
escolas públicas. Por outro lado, os mais ricos a uma educação mais completa,
ressaltando as desigualdades sociais, onde vai-se à escola para aumentar a
quantidade e a qualidade do seu "capital humano" e, mais tarde,
ocupar o melhor lugar possível no mercado de trabalho.
A partir das noções de “crença” e
“dúvida” e do “método científico (abdutivo-indutivo)” de Charles S. Peirce , convém
destacar que Freire (Freire e Papert, 1995) classifica o estado atual da escola
como "péssima", mas para ele a questão não consiste em acabar com a
escola, mas sim, mudá-la, tornando-a um ser tão atual quanto a tecnologia,
colocando a escola a altura do seu tempo. Seguindo esta proposta, Papert sugere
que o adoção das TIC (Tecnologia da Informação e da Comunicação) na educação
tem como principal papel contornar o que ele chama de Segundo estágio (que começa quando o indivíduo ingressa na escola e, então, deixa de aprender e passa a ser
ensinado, sufocando o instinto de curiosidade natural de criança), pois,
permitirá ao aluno ser capaz de rejeitar a opressão (do modelo tradicional de
ensino) e se manter dentro de um senso de curiosidade que tinha desde que era
pequeno, ressaltando a escola como o local onde as pessoas devem ir e se
encontrar para aprender, lembrando que nunca as TIC poderão substituir a
escola. Por isso, exalta que o papel dos educadores é encontrar um novo
caminho, buscar novas maneiras de lidar com as crianças, por meio de uma
tríplice aliança: adulto-criança-saber.
REFERÊNCIAS
FREIRE, P.; PAPERT, S. O Futuro da Escola e o Impacto dos Novos
Meios de Comunicação no Modelo de Escola Atual. Vídeo. Márcia Moreno e
Marco Aurélio Del Rosso. São Paulo:TV PUC de São Paulo com apoio do Jornal da
Tarde e Agência Estado, (1 DVD - 115 min. sonoro, colorido) 1995.
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