Análise do prefácio do livro a partir das
noções de crença, dúvida e método científico (abdutivo-indutivo) de Peirce
Bernard Charlot traz, no prefácio à nova edição do livro A mistificação pedagógica – realidades sociais
e processos ideológicos na teoria da educação, uma apresentação do estudo
que realizou em 1975 e foi publicado em 1979 e republicado 38 anos depois.
Além de apresentar o estudo realizado na década de 1970,
faz uma reflexão sobre o estudo desenvolvido. Mesmo sem ter se dedicado ao
estudo da semiótica de Peirce, é possível notar no prefácio alguns aspectos da
semiótica peirceana, como a crença, a dúvida, o método abdutivo-indutivo e a
perquirição.
Ao ler o prefácio, observa-se que a questão da pesquisa,
assim como pontua Peirce, é muito relevante. Na página 38, Charlot se questiona
sobre o argumento que enreda o livro e reflete se ainda concorda com ele e com
a ideia de mistificação pedagógica então pontuada na primeira edição do livro. Dessa
forma, ao se questionar sobre o concordar com o pensamento, parte da pesquisa,
saindo do estado da dúvida para chegar à crença. Nesse “movimento”, chega à
conclusão de três assuntos que merecem atenção no contexto brasileiro – ao
refletir sobre o que pesquisara, “transforma” as antigas crenças em dúvida,
utiliza-se do método indutivo-abdutivo e chega a novas conclusões (novas
crenças), indo, então, além das conclusões que chegara quando realiza o estudo
na década de 1970. O autor traz, assim, uma reflexão desses três pontos: quanto
à questão da tensão pedagogia tradicional versus
pedagogia nova, conclui que mesmo depois de passados os 38 anos, os polos da relação
ainda são vivos (p. 39).
Outro ponto trazido é a questão da neurologia e
informática. O autor, ao “desconfiar” quando falam de “neurociências”, no
plural, ou de “neuroeducação”, parte da dúvida dos termos relacionados à
neurociência, educação e antropologia, propondo novas crenças – e colocando a
crença de que a educação seja um processo cerebral em xeque.
Por último, aborda a problemática da sociologia da “reprodução”,
trazendo à tona a a perspectiva sociológica e histórica e a educação.
No texto de Charlot, é evidente que o autor se questiona
acerca de sua própria produção: “Por quê? Conversão, ruptura? Poderia ser, já
que o pesquisador tem o direito a pesquisar e, portanto, mudar de rumo.” (p.
46). O autor, para sair da dúvida, parte da pesquisa, da perquirição e
reflexão, para chegar à crença, sendo que esta pode, após algum tempo, ser questionada
novamente.
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